E não é que este parece ser o inverno de nosso contentamento?

Não é propriamente o modo ideal de homenagear o maior poeta de todos os tempos mas, ao contrário do inverno cruel enfrentado por Ricardo III, o nosso inverno, suave, macio, agradável, combina melhor com nossa tão decantada crise.

Ontem tivemos duas cerimônias de grande porte: a leitura da defesa seca de Dilma Rousseff e a renúncia lacrimosa de Eduardo Cunha.

Agora, sem Cunha, quem sabe a Câmara dos Deputados, livre do Maranhão, eleja um deputado que ame o Brasil? Há alguns, sei que há, o negócio é não permitir que outro aventureiro lance mão, novamente, da coroa de presidente da Casa.

Cunha, que jamais renunciaria, acabou por se dobrar diante dos fatos. Neste momento, é hora de a Câmara mostrar do que é feito o material humano que ocupa seu plenário.

Quanto à defesa seca e arrogante de dona Dilma, as palavras lidas pelo advogado da presidente afastada, escolhidas para comover nossos corações, não tiveram esse efeito. Talvez se tivessem sido lidas pela autora acabassem levando o ouvinte a buscar um lenço. Ou, quem sabe, se trouxessem alguma novidade, tipo um mea culpa pelos erros cometidos, todos eles, desde os da juventude até os recentes consumados na ânsia de não largar o poder que tão mal conduziu.

Mas não é só de Brasília que vêm as más notícias. Cruzes, como votamos mal aqui neste paraíso! Parece até um Manual De Como Não Votar.

O Rio de Janeiro, que continua maravilhoso graças à natureza com a qual Deus nos abençoou, é um dos bons exemplos de como votamos mal…

Mas há um pecado do qual nós cariocas não somos culpados e fiquei indignada ao saber que não podemos cumprir inteiramente as penas decretadas pela exemplar Operação Lava-Jato: faltam tornozeleiras eletrônicas. Foi isso mesmo que você leu! O Estado do Rio deve ao fabricante R$2.800.000,00 e o fabricante, naturalmente, não quer continuar a nos fornecer as peças graciosamente.

Isso é um absurdo: o responsável pelo fornecimento das tornozeleiras deveria ser o Governo Federal que enviaria ao Estado que delas necessitasse o número de peças de acordo com as condenações. E o governo que cobrasse dos corruptos, já que dinheiro não deve faltar no cofre dessa gente!

De qualquer forma, contentes já podemos ficar. Veja bem do que nos livraremos em breve: dos bigodes do Waldir Maranhão e da bancada do Jardim de Infância que interpreta uma peça tragicômica na Comissão do Impeachment, já que o impedimento de dona Dilma está próximo.

São ou não são motivos especiais para um inverno delicioso?

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 8/6/2016.

2 Comentários para “E não é que este parece ser o inverno de nosso contentamento?”

  1. Mais delicioso seria o inverno sem Dilma, Cunha, Aécio, Lula, Serra, e outros.
    Saberemos após o inverno, votar bem na primavera?
    Qual sera o preço de uma tornozeleira?
    Ao custo de R$1000,00 cada, teríamos 2800 políticos presos domiciliarmente, e estão faltado para alguns.

  2. O que deve nos opor à “Síndrome de Moro”, que afeta o nosso Estado Constitucional, não é o seu resultado de ataque à corrupção, que é sempre bem-vindo e sempre terá alguns resultados positivos,

    Devemos nos opor, na verdade, aos processos anticorrupção que estão sendo feitos dentro da dialética “amigo-inimigo de formulação pró-nazista. Por isso é golpe, não é revolução moralizadora, o que está ocorrendo no país. È um golpe e assim deve ser tratado pelos verdadeiros democratas, socialistas, centristas democráticos ou quaisquer outros que defendem a democracia social, contra a barbárie neoliberal.

    E se quisermos ir além das aparências, devemos ir além do que as instituições “dizem de si mesmas”. E o que a democracia diz de “si mesma”, hoje, é decidido não pelo contencioso político democrático, na esfera pública da Constituição, mas pelo oligopólio da mídia, que percorre o caminho do “golpe”.

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