Uns pelas tetas, outros pelo país

O Datafolha – insuspeitíssimo, por certo – contou mais gente pró-Dilma em São Paulo nesta quarta-feira, 16, do que gente contra Dilma, no domingo, 13. Foram, segundo o instituto, 55 mil com bandeiras e roupas vermelhas, contra apenas 40 mil com bandeiras e roupas verde-amarelas.

O maestro Miguel Briamonte, que tenho a ousadia de chamar de meu amigo, escreveu no Facebook: “Um dos sintomas da Síndrome dos Seguidores da Seita (SSS) está na completa ausência de cores e bandeiras brasileiras nessas manifestações das trevas”.

zzzzzzvermelho

zzzzzznois

Mas vamos aos números.

No domingo, a Polícia Militar contou 30 mil manifestantes contra Dilma, e, na quarta, 3 mil pró-Dilma. (*)

Os pró-Dilma dirão que a PM é de Alckmin, e portanto mente. Os  pró-Dilma costumam ver o mundo assim: para eles, a PM de São Paulo é do governador, e não do Estado. Como para eles é assim – a Petrobrás virou propriedade do PT, o Banco do Brasil, a Caixa, Itaipu, tudo que é do Estado brasileiro passou a ser do PT -, eles acham que tudo é assim.

O fato é que o Datafolha contou, muito bem contadinhas, 55 mil pessoas em São Paulo a favor de Dilma. A Polícia Militar, 3 mil. A CUT, 100 mil. O MTST, 70 mil. A UNE, 75 mil.

Tímidos, eles, não? Por que não dizer logo 200 mil? 300 mil? Por que não meio milhão?

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Vamos tentar concordar em um ponto: calcular quantas pessoas há num agrupamento de gente não é uma ciência exata, por mais que o Datafolha mostre fórmulas de tantos metros quadrados equivalem a tantas pessoas. Não passei pela Paulista nesta quarta-feira, mas estive lá, de camisa amarela como a da Seleção brasileira, como uma das cores principais da bandeira do Brasil, e andei da Augusta até a Brigadeiro, e depois de volta da Brigadeiro até a Augusta. Em alguns momentos, tivemos que sair da Paulista, porque a multidão era tão compacta que seria extremamente difícil prosseguir. Então descemos a Pamplona até a Santos, e caminhamos duas quadras inteiras pela Santos, só voltando à Paulista na Peixoto Gomide. Andamos pela Paulista das 2 até as 5 da tarde, e vimos o que eu já havia visto nas três grandes manifestações de Fora Dilma anteriores: que hordas de pessoas iam embora, enquanto hordas de pessoas chegavam.

Então essa coisa do Datafolha de dizer que tantos metros quadrados comportam tantas pessoas, e aí tantos metros quadrados versus aquele número dá exatamente o total de pessoas é papo mais furado do que dizer que impeachment é golpe.

Vamos tentar concordar ao menos neste ponto: calcular quantas pessoas há numa manifestação não é ciência exata.

Podemos pensar em outros números.

Segundo o mesmo Datafolha, no final de novembro 67% dos brasileiros reprovavam o governo Dilma. Diz o site do instituto: “Esse resultado representa o segundo pior índice de rejeição à gestão da petista desde seu início, em janeiro de 2011, e está entre os mais altos já registrados pelo Datafolha desde 1987. Ainda entre agosto e novembro, a avaliação regular do governo Dilma passou de 20% para 22%, a taxa dos que o consideram ótimo ou bom, de 8% para 10%, e 1% não opinou.”

Alguém duvida da idoneidade do Datafolha? Legal, vamos de Ibope. Pesquisa Ibope divulgada esta semana, na terça, 15, entre as manifestações contra e pró-Dilma, mostra que 9% dos brasileiros consideram o governo ótimo e/ou bom, 70% ruim e/ou péssimo e 20%, regular.

Pelo Datafolha, 67% reprovam o governo. Pelo Ibope, 70%.

Admitamos todos que a discrepância, a diferença entre 67 e 70 é um pouquinho menor do que 3 mil segundo a PM e 55 mil segundo o Datafolha.

Nem isso dá para todos nós admitirmos?

Não dá para confiar nos institutos de pesquisa de opinião pública?

Legal: vamos falar de outros números, então. Eis o que escreveu Omar El Seoud no Fórum dos Leitores do Estadão:

“Não importa o número de pessoas que participaram nos atos pró-impeachment de Dilma, pois ninguém está satisfeito com os números que realmente afetam a nossa vida: inflação de 10,22%, queda de 7,8% na produção industrial, mais de 1,3 milhão de vagas de trabalho encerradas, taxa Selic em 14,15%, R$ 9.453 de impostos pagos por cada brasileiro, e por aí vai. Igualmente, 70% dos eleitores estão insatisfeitos com este governo incompetente e com o PT, que usam a corrupção como meio de continuar no poder. Querer o impeachment da presidente não é golpe, é salvar o barco enquanto há tempo!”

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Vamos deixar os números de lado.

Vânia Santana escreveu no Facebook uma frase brilhante: “A diferença entre a manifestação de hoje (quarta, 16) com a de domingo, independente de quantidade e quem financiou, é que domingo foram às ruas os que defendem o país. Hoje estão nas ruas os que defendem um partido.”

Para mim, o que diferencia as manifestações vermelhas das manifestações verde-amarelas são os cartazes que as pessoas carregam.

Não importam mais os números. Vou falar aqui não de quantidade, mas de qualidade.

Nas manifestações vermelhas, os cartazes são impressos em gráficas. Várias pessoas carregam cartazes idênticos, produzidos em série, em gráficas.

Nas manifestações verde-amarelas, os cartazes são feitos à mão. Não há dez cartazes idênticos, feitos em série, impressos em gráficas. Cada um faz o seu. Cada um expressa de seu jeito pessoal sua vontade de se ver livre da presidente criminosa, mentirosa e incompetente.

Os vermelhos usam dinheiro de sindicatos, entidades, que, por sua vez, recebem dinheiro do governo, que tirou o dinheiro do povo. Os vermelhos ou são pagos ou recebem sanduíche de mortadela para ir às manifestações, ou vivem de algum tipo de teta do governo que estão tentando manter no poder.

Os verde-amarelos não usam dinheiro dos outros: gastam do seu dinheiro para ir lá, gastam do seu dinheiro para desenhar seus cartazes. Não recebem de graça material: compram, com seu dinheiro, as camisetas com inscrição fora Dilma, as fitinhas, os apitos, os pixulecos. Quando estão com sede, pagam para beber. Movimentam a economia real com dinheiro real – não o dinheiro oriundo dos impostos que foi repassado às CUTs, Unes, Ubes, MST, MSTS.

zzzznóis

zzzzeles

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Acho mais difícil passarem dez camelos ao mesmo tempo por um buraco de agulha do que serem verdadeiros os números do Datafolha para as manifestações de domingo e desta quarta.

Mas, mesmo que fossem verdadeiros, não seriam importantes. Importante é saber que os vermelhos defendem tetas. Os verde-amarelos defendem o Brasil.

16/12/2015

(*) Na quinta-feira, 17/12, depois, portanto, de esse texto ter sido escrito e postado, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo retificou o número de pessoas na manifestação chapa-branca pró-Dilma, de 3 mil para 50 mil. 

2 Comentários para “Uns pelas tetas, outros pelo país”

  1. Sérgio belo murro. Mas apenas para dar ao texto uma certa credibilidade, faço duas perguntas..

    Será que você de camisa amarela seria fustigado pelo traje na quarta feira? Ou eu vestido de vermelho poderia comer pipoca com meu neto no domingo sem ser importunado?

    Ainda meu amigo e militante retardado, qual seria o custo daquele pinto amarelo que aparece na foto ilustrativa do texto? Quanto
    custa cada pixuleco? Quem paga? Que contrata os seguranças?

    O Datafolha, a Folha SP são suspeitos é histórico o compromisso com a oligarquia, mas ingenuidade do texto é lamentável.

    A quem o texto pretende enganar?
    É uma pena que as ruas estejam divididas, o momento é propício para uma contundente reforma política, os movimentos sociais lado a lado, de verde, de amarelo….e vermelho.

    Uma coisa é certa, já entenderam os golpistas, não vai haver impeachment!

    Resta apenas o políticos entenderem o recado das ruas qual seja a cor.

    Diria a sábia Marina Bêla, vamos caminhar vovô.

  2. O Sr. Vaz não cita um eventual apoio da FIESP aos “verde-amarelos”.

    É patente o interesse da FIESP em pagar ainda menos imposto do que já paga – opõe-se à CPMF, tributo que todos pagariam, até mesmo os ricos (!!!??) e que é bem mais difícil de os industriais sonegarem.

    O gigantesco pintão amarelo foi financiado por alguém; é difícil de crer que tenha sido comprado apenas pelos playboys da Avenida Paulista. Os que financiaram um pinto tão grande poderão, também, financiar sanduíche de mortadela (ou canapés de caviar, ou quiches-lorraine) e outras gracinhas.

    Findado o impeachment, onde os industriais vão aplicar o pintão? Na população, a mesma que resolveu ajudá-los!

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