Parabéns, Filha

Minha filha – que faz hoje 40 anos – é o que me dá mais orgulho, felicidade, satisfação na vida.

Talvez soe esquisito, mas é a mais pura verdade.

Amo profundamente minha mulher e minha neta, e é uma maravilha que elas, as três, se gostem, e se dêem maravilhosamente bem. Sou um homem de incrível sorte. Mas meu fio terra, meu ponto de contato com o mundo, desde que ela nasceu, é minha filha.

Muitíssimo tempo atrás, cunhei uma frase que achei boa: “Mesmo se eu escrevesse como Chico Buarque, ainda assim Fernanda seria meu melhor texto”. Bem mais tarde, em 2008, quando pensei em juntar as notas sobre minha filha num livro que teria o subtítulo de Olhando Fernanda Crescer, anotei de cara: “A frase é engraçadinha, tem charme, mas é literatice pura, sem nada a ver com a realidade. Fernanda não é um texto meu, nem de Suely”.

É claro, é óbvio: nossos filhos, mais que nossos, são filhos da vida, como aprendi ainda adolescente, ao ler Gibran Kalil Gibran.

Fernanda é pessoa fenomenal, um ser de luz, não porque seja minha filha, e filha de Suely, mas porque ela se construiu assim: fenomenal, um ser de luz.

Tudo bem: tenho que reconhecer que, em muita coisa, graças ao bom Deus, ela puxou a mãe. Na beleza toda, no brilho dos olhos imensos – mas isso é o de menos. Puxou a mãe, sobretudo, na retidão de caráter, no coração tão grande que às vezes não cabe no peito. Na capacidade de atrair para seu redor as pessoas, a magia de ser aglutinadora.

Tenho orgulho do fato de que ela e eu sempre fomos amigos. Desde sempre, desde que ela se entende por gente. Às vezes temos dificuldade de exprimir um para o outro exatamente o que gostariamos – mas é porque em várias coisas somos também bastante parecidos.

Fizemos muitas boas coisas juntos. Aprendi um monte imenso de coisas com ela. Não paro de aprender nunca.

Marina, de alguma forma, me aproximou ainda mais da minha filha.

Quando estou com Marina, adoro ver, pelo canto dos olhos, como minha filha curte que vovô e vovó e a filha dela se dêem tão bem. Ou nos demos tão bem. Meu amor infinito pela minha filha me faz perder a intimidade com as palavras, e a forma de combiná-las.

Um tempo atrás, Fernanda fez a frase perfeita: “Tudo agora na vida do meu pai vira texto”.

Seus 40 anos teriam que virar texto. Mereciam, claro, um texto melhor. Mas paciência.

Filha, parabéns.

E, perdão, mas tenho que dizer: obrigado por existir.

14 de julho de 2015