O Rei está de bem com a vida

Nesta antevéspera de Natal em que quase todo mundo passou o dia falando de Chico, quero falar um pouquinho de Roberto.

(Digo quase todo mundo porque eu não fiquei falando sobre Chico e o fato de ele ter sido abordado por pessoas que criticavam a opção política dele. Essa coisa, com gente dos dois lados falando asneiras, me deu uma imensa, fantástica preguiça.)

Adorei ver o show do Roberto. Não vi o primeiro bloco: estava imerso num texto sobre O Segredo das Jóias/The Asphalt Jungle, e nem tinha me lembrado que o show do Roberto era hoje. De Floripa, Mary avisou por torpedo. Pensei em ligar a TV e de vez em quando dar uma olhadinha, mas, como diria o Chico, qual o quê! Chega o Roberto com a tal da Banda Abbey Road num arranjo absolutamente novo de “As Curvas da Estrada de Santos” – e aí não dá pra desgrudar os olhos e os ouvidos da TV.

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“Eu te amo, eu te amo, eu te amo” com uma batida reggae – uma maravilha! O que é aquilo, meu? Que coisa fantástica.

Paulinho da Costa nos tambores em “Se Você Pensa” – cacete, uma versão nova em folha, matadora, arrebatadora do velho clássico do disco de 1968.

Todo mundo – vá lá, vou corrigir: quase todo mundo (com a exceção dos fãs de Roberto) sempre diz duas coisas sobre ele: que ele é brega, e que os shows de fim de ano dele são sempre iguaizinhos.

Apesar de fã, não sou de ver religiosamente todos os shows de fim de ano dele. Às vezes perco algum. Não sou expert. Mas achei o show deste final de 2015 moderno, vivo, agitado, com surpresas – e alegre.

Roberto andou tristonho, casmurro, macambúzio, durante um bom tempo, depois da morte da mulher dele. Nos últimos três ou quatro anos, veio melhorando, parecendo mais animado, de novo de bem com a vida.

Eu falei nos últimos três ou quatro, mas estou muito enganado. Eu ia dizer que o encontro com Caetano para cantar Tom fez muitíssimo bem a ele, e verifico que aquilo foi em 2008! Para mim, parece que foi há apenas dois anos. Que loucura!

Sim, ele já vinha melhorando, parecendo mais alegre. Mas neste show de agora ele se superou, e muito. Ou estou enganado? Meu, o homem estava numa felicidade danada. Bem humoradíssimo, brincando com a platéia – e que lindo é o Theatro Municipal do Rio de Janeiro! –, curtindo os solos dos músicos, apresentando os músicos pelo nome.

Muito simpático ele trazer de novo esse pagodeiro Tiaguinho. O garoto tem voz gostosa. E quando a gente poderia imaginar o Roberto todo caretão de dez anos atrás, que se recusava a cantar “Quero que vá tudo pro inferno”, cantando um pagodão chamado “Caraca Muleke?”

Caraca!

Agora, aquela Ludmila… Meu Deus, o que que é aquilo? Nunca tinha ouvido falar, assim como nunca tinha ouvido falar em Tiaguinho. Eu de fato parei no tempo, das coisas mais novas só conheço uma ou duas.

Mas a Ludmila! Que bolão bate aquela mulher, que avião! Que peitanzil, Deus do céu, que bunda, que remelexo! Pena que tem aquela voz de taquara rachada, mas o visual é imponente – é tão bela quanto é ridículo aquele penteado do Rei, aquela franjinha estúpida.

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Falando muito seriamente: que fantástico artista é esse senhor que a “intelectualidade” brasileira esnoba.

As três músicas que citei aí acima, que ele cantou em arranjos novíssimos, surpreendentes, excelentes, são todas dos anos 60 – e estão frescas, límpidas, maravilhosas passadas tantas décadas. E as pessoas adoram, e sabem de cor, e cantam junto.

Não que ele tenha parado de fazer as melhores coisas nos anos 60. “Detalhes” é do disco de 1971. “Ilegal, imoral ou engorda” é de 1976 – e que maravilha de novo arranjo! As canções da fase motel são dos anos 80.

Poucos músicos, no mundo inteiro, têm um songbook tão amplo, tão diversificado, com tamanho número de clássicos, standards.

Grande Rei Roberto!

Mesmo as duas canções que fecharam o show, da face religiosa de Roberto (a primeira delas eu não conhecia), que em geral as pessoas detestam, acho bonitas, tocantes. Têm espaço, merecem ser cantadas – ou alguém não se lembra que o Natal é uma festa religiosa? “Jesus Cristo” é um belo hino. Na sua fase cristã, Dylan, que eu saiba, fez apenas uma canção tão bela quanto “Jesus Cristo”, “Every Grain of Sand”.

Só fiquei com a pulga atrás da orelha me perguntando por que deram tanto destaque para aquela loura feiosa, sem graça, apesar de sorridente, que parecia tocar violão na Banda Abbey Road. Algum eventual leitor teria alguma resposta para isso?

         O dia do show de fim de ano de Roberto Carlos 2015

A foto do alto é de Paulo Belote. A segunda, do Rei com Ludmila, é de Francisco Silva/AgNews. 

2 Comentários para “O Rei está de bem com a vida”

  1. Achei igual, o rei com palavrório limitado e inconcebível para quem um dia escreveu “quero que vá tudo pra o inferno” e em outro dia renegou o que escreveu, lembrando o príncipe dos sociólogos.
    Os intelectuais não acreditam que da cabeça real pudesse sair tanta coisa bela e brega como: ‘estrelas mudam de lugar, chegam mais perto só pra ver, e na beleza da manhã o sol espera pra nascer’. Morra de inveja Dylan.
    Enquanto a tv existir o rei será presente nas nossas casas, ou, enquanto ele viver, em shows a bordo de navio de cruzeiro.
    A Banda Abbey Road, com loura ou sem loura, ficou devendo a antiga RC7 e aos teclados e arranjos de Lafayetti. Ludmila e seus atributos visuais e a irreverência do pagodeiro Tiaguinnho deram este ano o link rejuvenecedor ao rei conservado em formol. Viva o Rei!
    Como diria o velho Morengueira da Silva, um verdadeiro boi com abóbora.

  2. O fantástico artista NÃO é esnobado pela “intelectualidade” brasileira.Os intelectuais abaixo com certeza adoram muitas “EMOÇÕES”. A classe pensante deste país, pejorativamente intitulados de intelectuais orgânicos, adoram Roberto, Chico, sem medo de vestir verde, amarelo ou vermelho. O colossal e fantástico repertório brega do apolítico rei continua atravessando intocável o tempo e reinando entre os súditos bregas. Os pernósticos intelectuais preferem Dylan, eu prefiro Roberto, velho e ultrapassado, com eterno repertório, com roupagem nova, não tão fantástica, arranjos que soariam melhor na voz da Calcanhoto, aquela onde o inverno no Leblon é quase glacial e onde Chico foi agredido por um boçal.
    Os intelectuais abaixo também largaram seus textos e afazeres, passaram a assistir na golpeadora emissora de tv ao inovador show de fim de ano.

    Ademir Aparecido Paschoa, produtor.
    Adriana Nunes Ferreira, economista.
    Adriano Biava, economista.
    Airton Paschoa, escritor.
    Alcides Goularti Filho, Unesc.
    Alcides Silva de Miranda, Professor Associado – Cursos de Graduação, Pós-graduação e Laboratório de Apoio Integrado em Saúde Coletiva – UFRGS.
    Amilton Jose Moretto, economista.
    Ana Mesquita, economista.
    Ana Rosa Ribeiro de Mendonça, professora do IE/Unicamp.
    Ana Tereza da Silva Pereira Camargo, médica, Diretora Administrativa do CEBES.
    Anderson Henrique dos Santos Araújo, professor, Universidade Federal de Alagoas.
    Andre Lázaro, professor da UERJ e pesquisador da Flacso-Brasil.
    André Martins Biancarelli, professor e diretor associado do Instituto de Economia (IE/Unicamp).
    André Paulani Paschoa, Advogado.
    Andrés Vivas Frontana, economista, professor de Economia da ESPM e da Fecap.
    Anivaldo Padilha, presidente do Fórum 21.
    Antônio do Amaral Rocha, jornalista e editor, São Paulo.
    Antonio Prado, economista.
    Antonio Tadeu Oliveira, demógrafo.
    Barbara Fritz, director of the Institute for Latin American Studies (Freie Universität Berlin).
    Bruno de Conti, economista.
    Camila Gripp, pesquisadora, The New School for Social Research.
    Carlos Alonso B. de Oliveira, economista.
    Carlos Eduardo Silveira, economista.
    Carlos Salas, economista.
    Ceci Vieira Jurua, economista.
    Celso Amorim, diplomata.
    Christy Ganzert Pato, professor da Universidade Federal da Fronteira Sul.
    Cilaine Alves Cunha, professora de literatura brasileira (FFLCH/USP).
    Claudio Castelo Branco Puty, professor UFPA e secretário executivo do Ministério do Trabalho e Previdência.
    Cornelis Johannes van Stralen, psicologo social e cientista político, professor aposentado da UFMG.
    Dainis Karepovs, historiador.
    Daniel Brazil, roteirista e diretor de TV.
    Daniela Magalhães Prates, economista, professora associada do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisadora do CNPq.
    Danilo Araujo Fernandes, professor da Universidade Federal do Pará.
    Denis Maracci Gimenez, professor do Instituto de Economia da Unicamp.
    Domingos Leite Lima Filho, Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
    Eduardo Fagnani, economista (IE/Unicamp).
    Eleutério F. S. Prado, professor titular da USP.
    Eli Iola Gurgel Andrade, professora associada da Faculdade de Medicina da UFMG.
    Elias Jabbour, professor adjunto da FCE-UERJ.
    Elizabeth Harkot de La Taille, professora associada, Estudos Linguísticos e Literários em Inglês, Departamento de Letras Modernas (FFLCH/USP).
    Elizete Mitestaines, jornalista.
    Emilio Chernavsky, doutor em Economia (FEA/USP).
    Erminia Maricato, professora titular aposentada da USP.
    Fabrício de Oliveira, economista.
    Fernando Caldas, historiador, mestre pela USP.
    Fernando Ferrari Filho, professor de Economia da UFRGS.
    Fernando Nogueira da Costa, professor titular do IE-UNICAMP.
    Fernando Rugitsky, professor da FEA/USP.
    Francisco Alambert, professor de História (FFFLCH/USP). istóriaHist´roia
    Francisco Luiz C. Lopreato, economista e professor do IE/Unicamp.
    Francisco Menezes, economista.
    Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti, professor.
    Frederico Gonzaga Jayme Jr., professor Economics Department, Cedeplar (UFMG).
    Frederico Mazzucchelli, economista.
    Gaudencio Frigotto, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
    Gema Martins, advogada.
    Giorgio de Marchis, Università degli Studi Roma Tre, Dipartimento di Lingue, Letterature e Culture Straniere.
    Guilherme Leite Gonçalves, professor de Sociologia do Direito da UERJ.
    Guilherme Mello, economista.
    Heloísa Fernandes, socióloga, USP.
    Iná Camargo Costa, professora aposentada da USP.
    Isabel Frontana, historiadora, mestre pela USP.
    Isabel Loureiro, professora de Filosofia (UNESP).
    Isabela Soares Santos, cientista social.
    João Policarpo R. Lima, Departamento de Economia da UFPE/Pesquisador do CNPq
    João Sayad, economista, professor da FEA/USP.
    João Whitaker, professor livre-docente (FAU/USP) e secretário municipal de Habitação de São Paulo.
    José Carlos Braga, economista.
    Jose Dari Krein, economista.
    José Esteban Castro, Newcastle University, Reino Unido.
    Juan Pablo Painceira, economista, Banco Central do Brasil.
    Julia Braga, professora associada da Faculdade de Economia da UFF.
    Jurema Alves Pereira, assistente social, doutoranda (UERJ).
    Laura Carvalho, professora da FEA/USP.
    Laura Tavares, economista.
    Lauro Mattei, professor de Economia da UFSC.
    Lena Lavinas, professora titular do Instituto de Economia da UFRJ.
    Lenina Pomeranz, professor da FEA/USP.
    Léo Heller, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz.
    Leonardo Boff, teólogo, professor emérito de ética da UERJ e membro da Iniciativa Internacional Carta da Terra.
    Ligia Giovanella, médica, pesquisadora Fiocruz.
    Luciana Vieira, economista.
    Luiz Eduardo de Vasconcelos Moreira, psicanalista.
    Luiz Eduardo Simões de Souza, Universidade Federal do Maranhão – PPGDSE.
    Luiz Fernando de Paula, economista (UERJ).
    Luiz Filgueiras, professor de Economia da UFBA.
    Magda Biavaschi, desembargadora aposentada e pesquisadora CESIT
    Manuela Lavinas Picq, Universidade San Francisco de Quito.
    Marcelo de Carvalho, docente do Curso de Ciências Econômicas (Unifesp).
    Marcelo Miterhof, economista.
    Marcelo Weishaupt Proni, economista.
    Márcio Lupatini, professor da UFVJM.
    Marcio Pochmann, economista.
    Marcio Sotelo Felippe, advogado.
    Maria Augusta Bernardes Fonseca, professora universitária.
    Maria Ciavatta, PPG-Educação Universidade Federal Fluminense.
    Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, professora do Departamento de Economia da Universidade de Brasília.
    Maria Elisa Cevasco, professora (FFLCH/USP).
    Maria Noemi de Araujo, psicanalista.
    Maria Rita Kehl, psicanalista.
    Marildo Menegat, professor (UFRJ).
    Marina Macambyra, bibliotecária.
    Mário da Costa Campos Neto, professor titular em Geologia Estrutural e Geotectônica do Instituto de Geociências (USP).
    Maryse Farhi, economista.
    Maurílio Maldonado, advogado.
    Miguel Bruno, economista.
    Nazareno Affonso- Urbanista e artista Plástico
    Nelson Fernando de Freitas Pereira, médico.
    Niemeyer Almeida Filho, professor titular do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia e presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política.
    Paula Motagner, economista.
    Paulo Daniel e Silva, economista.
    Paulo Sérgio Fracalanza, diretor do IE/Unicamp.
    Paulo Henrique Furtado de Araujo, economista, professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e diretor da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP).
    Pedro Cezar Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS.
    Pedro Paulo Zahluth Bastos, professor associado (livre-docente) do Instituto de Economia/Unicamp.
    Pedro Rafael Lapa, economista.
    Pedro Rossi, economista.
    Pierre Salama, Professor emeritus, economia, Universidade de Paris XIII
    Potyara Pereira, professora da Universidade de Brasília.
    Ramón García Fernández, professor (UFABC).
    Raquel Raichelis, assistente social, professora da PUC/SP.
    Remi Castioni, Faculdade de Educação (UnB).
    Rennan Martins, jornalista e editor do Blog dos Desenvolvimentistas.
    Ricardo Antônio de Souza Karam, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, doutor em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED/UFRJ).
    Ricardo Musse, professor de Sociologia (FFLCF/USP).
    Ricardo Oliveira Lacerda de Melo, professor associado da Universidade Federal de Sergipe/ Departamento de Economia.
    Roberto Schwarz, professor de Literatura, Unicamp.
    Rodrigo Pimentel Ferreira Leão, mestre em Desenvolvimento Econômico.
    Ronaldo Coutinho Garcia, técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
    Rosana Icassatti Corazza, economista, doutora em Política Científica e Tecnológica e professora do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas.
    Rosangela Ballini, Professora – IE/Unicamp
    Rubem Murilo Leão Rego, professor (Unicamp).
    Rubens Luis Ribeiro Machado Jr., professor da ECA/USP.
    Rubens Sawaya, economista.
    Salete de Almeida Cara, professora (FFLCH-USP).
    Sandra Regina Alouche, professora universitária.
    Sebastiao Velasco, IFCH/Unicamp.
    Sérgio Alcides Pereira do Amaral, professor da Faculdade de Letras da UFMG.
    Sérgio Rosa, bancário.
    Silvio Antônio Ferraz Cario, economista e professor da UFSC (Campus Florianópolis).
    Simone Deos, economista.
    Solange Puntel Mostafa, professora da USP.
    Tania Bacelar de Araujo, doutora em economia e professora aposentada da UFPE.
    Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul.
    Tiago Oliveira, economista, mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp.
    Vanessa Petrelli Corrêa, professora titular, IE/UFU.
    Wagner Nabuco, editor da Caros Amigos.
    Waldir Quadros, professor.
    Walquiria Domingues Leão Rego, professora universitária, Unicamp.
    Walter Belik, economista.
    Wilson Cano, economista.
    Wladimir Pomar, economista.

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