O panelaço foi maravilhoso. Bora lá fazer um maior no dia 15

Foi bonito, emocionante, de lavar a alma. Perdizes, Zona Oeste de São Paulo, urrou contra Dilma, o governo, o PT, desde o momento que a imagem da presidente da República apareceu na TV, até algum tempo depois que ela tinha acabado de ler o texto escrito por João Santana e sua equipe de marqueteiros.

Foi bonito, emocionante, de lavar a alma ir vendo, ainda enquanto Dilma arengava a lenga-lenga marqueteira de sempre dela, que a mesma coisa acontecia em diversos outros bairros de São Paulo, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em Vitória, em Brasília.

Pelo Brasil afora.

Tinha muita gente berrando a plenos pulmões. Tinha gente batendo panela. Tinha gente buzinando. Tinha gente apagando e acendendo as luzes. Tinha muita gente, mas muita gente nas janelas, nas sacadas dos prédios diante do meu. Era um barulho muito, muito alto, muito forte.

Sei que foi igualzinho em diversos outros bairros – vi gente descrevendo a mesma coisa no Facebook, em diversos lugares de São Paulo, de outras grandes cidades,

Foi um momento de muita excitação, adrenalina – tenho certeza de que muita gente sentiu o mesmo que eu. Mary ficou na sala, diante da TV – Mary é jornalista séria, escreve sobre política, tinha que ouvir o discurso de João Santana. Eu fiquei no escritório, escancarei a janela e bati bumbo, perdão, panela – tinha separado com antecedência uma forma de alumínio muito velha e um batedor de carne – e dei muitos berros, até ficar rouco. Quem já trabalhou comigo sabe que não minto quando digo que tenho pulmão forte, e que sou capaz de gritar com uma altura bastante considerável.

(Ué: pois se no show da Joan Baez no gigantesco Teatro Bradesco, no ano passado, no meio das vaias de metade da platéia ao então senador Eduardo Suplicy, o repórter do Caderno 2 conseguiu identificar a minha voz…)

Então bati panela, dei berros homéricos – ao mesmo tempo em que tuitava e facebucava.

É maravilhosa, é deliciosa a sensação de você não estar só, de você pertencer a um grupo grande.

Éramos 51 milhões no dia 26 de outubro passado, contra os outros 54 milhões. Pois olha, acho que o placar virou. Mais: tenho a absoluta certeza de que o placar virou. Hoje, a maioria do país não quer Dilma Rousseff na presidência.

O Datafolha mostrou os números: a rejeição à presidente pulou de 24% no último trimestre de 2014 para 44% agora em fevereiro, enquanto a aprovação, os que consideram seu governo bom ou ótimo, despencou de 42% para 23%. Mais ainda: 60% disseram que a mulher mentiu na campanha eleitoral.

A maioria do país não quer mais Dilma.

O panelaço de hoje demonstrou isso de maneira clara, límpida. Ruidosa. Ensurdecedora.

Doutamente, o doutor Miguel Reali Júnior explicou ontem em artigo no Estadão que não há base legal para se pedir o impeachment da presidente da República. Mas afirmou também, do alto de seu conhecimento jurídico, que Dilma Rousseff não tem mais “condições éticas e políticas de continuar governando o país”. E sugeriu que ela deveria renunciar.

Democracia é democracia – a maior parte dos eleitores errou no dia 26 de outubro, e portanto, teoricamente, teremos que aguentar essa mulher que hoje não tem o apoio de mais da metade da população até o longínquo dia 31 de dezembro de 2018.

Teoricamente.

O que senti hoje, ouvindo Perdizes berrar e buzinar e panelar contra Dilma Rousseff e o PT e essa incompetência e essa corrupção toda, é que o país não vai aguentar esperar tanto tempo.

Não deu para deixar de lembrar – todo mundo deve ter se lembrado do domingo em que o Brasil foi para as ruas vestido de preto, pedindo a saída de Fernando Collor de Mello. Ele havia feito um discurso patético (ele é patético, sempre foi, continua sendo, assim como Dilma Rousseff é uma figura patética) pedindo que a população fosse às ruas de verde e amarelo em apoio a ele – e o país se vestiu de negro e fomos para as ruas pedindo “Fora Collor”, na maior manifestação popular desde a campanha das Diretas-Já, em 1984.

Dilma Rousseff, tão patética quanto Fernando Collor, foi à televisão contar mentiras, dizer que a crise é por causa de problemas internacionais.

Fernando Collor renunciou antes de sofrer o inevitável impeachment por causa de um Fiat Elba. Dilma destruiu a Petrobrás – e a Eletrobrás, e muito, muito, muito mais.

Não, a crise em que o Brasil está mergulhado não é causada por problemas internacionais. A economia brasileira acumula os piores números possíveis e imagináveis por culpa do PT, dos governos petistas, e muito especialmente por culpa dela, uma pessoa despreparada até para manter uma loja de 1,99 que se acha a economista mais brilhante que já pisou na face da terra. Foi ela que mergulhou o país no lodaçal em que ele está.

Dilma Rousseff foi à televisão ler o texto de João Santana e seus marqueteiros.

Como Mary Zaidan, com sua lucidez, sua sabedoria política, sintetizou poucos minutos depois que a cara horrorosa da mulher saiu da TV: “com o pronunciamento de hoje, Dilma decretou o sucesso das manifestações do dia 15”.

Algum tempo depois de Mary (ela é muito rápida no gatilho), o senador Aloysio Nunes Ferreira diria mais ou menos a mesma coisa: “O revoltante pronunciamento de Dilma em rede nacional foi a mais poderosa de todas as convocações para o protesto do dia 15”.

Bora lá domingo que vem, moçadinha. Vamos pra rua, vamos que vamos.

8 de março de 2015

11 Comentários para “O panelaço foi maravilhoso. Bora lá fazer um maior no dia 15”

  1. Boa, Sérgio. Texto muito gostoso. Senti exatamente esse mesmo sopro de vamos em frente, que um consenso está se formando.

  2. Os brasilienses vaiaram e buzinaram ao longo
    de todo o discurso. Dia 15, a Praça dos Três Poderes vai estar lotada.

  3. Sérgio, nào houve ou ouvimos panelaço no bairro PEIXOTO. Somente se ouvio o barulho das janelas, sacadas e varandas dos bairros da classe média como Perdizes, Sumaré, Jardins, Ipanema, Leblon. Na comunidade dos DOIS IRMAOS o ruido era de samba para o rebolar das mulatas.
    Me nego bater panelas, mas Dilma está cada vez mais acuada. Sou obrigado a reconhecer que os ‘midiotas’ estào avançando e desconhecendo os riscos. Mas seja o que Deus quiser, afinal dizem-o brasileiro.

  4. Maravilha de texto.
    Adorei as buzinas e o panelaço em várias cidades. O duro foi aguentar hoje os petistas chatos (opa! pleonasmo) chorando e esperneando nas redes sociais.
    Mas então “bora lá fazer um maior no dia 15”.

    [eu não devia falar isso, mas às vezes me divirto com os comentários do Miltinho].

  5. O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção.

    Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade.

    Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca.

    “Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres.

    O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar.

    Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a uma presidenta.

    Não é preocupação ou medo. É ódio.

    Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força.

    Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.

    Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho.

    E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.” diz BRESSER PEREIRA ex tucano.

    Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou tanto no país.

    “Santa hipocrisia”, disse ele. “Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais”.

    Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.

    Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de “vaca” em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo.

    “Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha”.

    Já na zona leste, em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bom serviços da Eletropaulo e da Sabesp.

    Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.

  6. Pelo menos aqui em Brasília, os bairros mais pobres fizeram panelaço. Os vídeos estão na Internet. Dilma é impopular aqui em qualquer extrato social.
    Ficou em terceiro lugar no DF, no primeiro turno, com apenas 23% dos votos. No segundo, Aécio teve o dobro dos votos dela. Os moradores desses bairros estão fazendo piadas por terem sido classificados como elite pelo PT. A expectativa aqui é que a popularidade de Dilma deve cair bem abaixo dos 20% na próxima pesquisa. O ex-governador petista de Brasília também ficou fora do segundo turno. Vai ver, o famoso cinturão de pobreza de Brasília é formado por uma elite branca cheia de ódio.

  7. Brasília também tem pobre, os ricos saem às quintas-feiras e voltam na segunda-feira. O panelaço domingo a noite só teve pobre e tucanos.

  8. AO LUIZ CARLOS, BATEDOR DE PANELAS.

    AO MENOS UMA VEZ ESTAMOS À FRENTE DA COREIA DO SUL.

    O Imposto sobre Grandes Fortunas? Não faltam críticos ao IGF, mas sobram críticas infundadas. Diante da elevada concentração de riqueza no Brasil, difícil é justificar a ausência do imposto . Em 2010 o Brasil estava em 11º lugar no ranking de milionários, perdendo apenas para EUA, Japão, Alemanha, China, Reino Unido, França, Canadá, Suíça, Austrália e Itália. Os dezoito bilionários brasileiros detinham uma riqueza superior a US$ 90 bilhões e 155.400 pessoas possuíam riquezas superiores a US$ 1 milhão.

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