Nunca houve governo tão incompetente (7)

“Vários erros cometidos pelo governo”. “Um desastre que a incompetência do governo de Dilma Rousseff torna a cada dia mais grave.” “Agravamento da crise política em que o País está mergulhado.”

“O buraco em que Dilma Rousseff meteu (o país) ao longo de quatro anos de persistentes equívocos.”

Uma presidente que não consegue “entender seu papel como chefe de Estado nem o efeito de suas atitudes destrambelhadas para a imagem do Brasil no exterior.”

Essas frases com expressões fortes, duras, foram todas publicadas nesta quinta-feira, 26 de fevereiro, em dois editoriais (do Estadão) e um artigo (de Míriam Leitão) em O Globo.

É muito erro, muita incompetência, muito equívoco demais da conta. O que podem os jornais independentes fazerem a não ser falar deles?

Vou transcrever aí abaixo os principais trechos desses três textos.

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Neste segundo mandato, resolvi não fazer mais minhas longas coletâneas semanais de reportagens e artigos demonstrando a incompetência do governo Dilma Rousseff, as Más Notícias do Pais de Dilma. Era uma trabalheira imensa, insensata, que me tomava tempo demais. Decidi adotar um outro procedimento: de vez em quando, sem periodicidade marcada, estipulada, vou transcrever uma reportagem, editorial ou artigo especialmente abrangente, importante, impactante.

Já comecei há alguns dias. Vou continuar enquanto tiver paciência – sem me comprometer com absolutamente nada, data de publicação, garantia de publicação, regras pré-estabelecidas, coisa alguma.

Hoje deu vontade de juntar esses três belos textos. (Sérgio Vaz)

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Do editorial do Estadão “Lula estimula o conflito social”:

“No desespero para salvar o PT de um desastre que a incompetência do governo de Dilma Rousseff torna a cada dia mais grave, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ameaça incendiar as ruas com ‘o exército do Stédile’, a massa de manobra do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). (…)

“Diante do sintoma claro de que o agravamento da crise política em que o País está mergulhado pode acender o rastilho da instabilidade social, o que se espera das lideranças políticas é que ajam com responsabilidade para evitar o pior. Mas Lula, assustado com a possibilidade crescente do naufrágio de seu projeto de poder, parece disposto, em último recurso, a correr o risco de virar a mesa. Não há outra interpretação para sua atitude no evento.

“Em seu discurso, o coordenador do MST, João Pedro Stédile, como de hábito botou lenha na fogueira: ‘Ganhamos as eleições nas urnas, mas nos derrotaram no Congresso e na mídia. Só temos uma forma de derrotá-los agora: é nas ruas’. É o caso de perguntar o que Stédile quer dizer com ‘derrotá-los nas ruas’. Mas Lula parece saber a resposta. E aproveitou a deixa, ao falar no encerramento do ato: ‘Quero paz e democracia. Mas eles não querem. E nós sabemos brigar também, sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele na rua’. Uma declaração de guerra?

“A atitude irresponsavelmente incendiária do ex-presidente é coerente com a estratégia por ele traçada e transmitida à militância petista com o objetivo de reverter a repercussão extremamente negativa para a imagem do PT provocada pelo desgoverno Dilma e, em particular, pelo escândalo da Petrobrás. A ideia é, como sempre, transformar o PT em vítima da ‘elite’, os temíveis ‘eles’ que só querem fazer mal ao povo brasileiro. (…)

“Esse discurso populista pode fazer vibrar a militância partidária manipulada e paga pela nomenklatura petista, mas é inútil para garantir ao PT e ao governo o apoio de que necessitam para tirar o País do buraco em que Dilma Rousseff o meteu ao longo de quatro anos de persistentes equívocos.”

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Do editorial do Estadão “Diplomacia de picuinha”:

“A presidente Dilma Rousseff parece mesmo ter tomado como ofensa pessoal a soberana decisão do Judiciário da Indonésia de executar brasileiros condenados por tráfico de drogas. Sem conseguir entender seu papel como chefe de Estado nem o efeito de suas atitudes destrambelhadas para a imagem do Brasil no exterior, Dilma preferiu o caminho da picuinha para lidar com o governo indonésio. Somente isso explica o constrangimento público a que a presidente submeteu o novo embaixador da Indonésia, ao despachá-lo do Palácio do Planalto sem receber suas credenciais. Gestos como esse mostram que a diplomacia brasileira não atingiu o atual estado lamentável por acidente ou em razão de contingências econômicas, mas por ação deliberada de Dilma. (…)

“Dilma está levando longe demais seu engajamento no caso dos dois brasileiros condenados à morte na Indonésia. Nunca é demais lembrar que ambos foram sentenciados porque eram traficantes de drogas. Um deles, Marcos Archer, foi executado no mês passado. Ele havia entrado no país, em 2003, com nada menos que 13 quilos de cocaína. Não é algo trivial – e as leis indonésias são claríssimas a respeito. Mesmo assim, logo depois que Archer foi fuzilado, Dilma, que pedira clemência, chamou o embaixador brasileiro em Jacarta para consultas – uma reação muito dura no mundo da diplomacia – e disse que a relação com a Indonésia estava ‘gravemente’ afetada.

“A presidente perdeu a noção de que seu papel nesse caso era o de apenas pedir clemência e respeitar a decisão soberana dos indonésios. O exagero se repete agora, com o caso de outro brasileiro que está no corredor da morte na Indonésia pelo mesmo crime, Rodrigo Gularte. Dilma mobilizou o Itamaraty para interferir no processo e adotou a patética decisão de não receber as credenciais do novo embaixador. (…)

“Tudo indica que Dilma resolveu usar a Indonésia – um país distante, com participação pífia na balança comercial do Brasil – para exibir o que supõe ser a firmeza na defesa dos interesses brasileiros no exterior. Enquanto isso, e em meio ao brutal sucateamento do Itamaraty, assuntos mais urgentes que o destino de um traficante de drogas – como a violação sistemática de direitos humanos e a ruptura da normalidade democrática na Venezuela, que deveriam resultar em punição no âmbito do Mercosul, do qual o Brasil é o atual presidente – recebem de Dilma apenas seu mais profundo silêncio.”

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Da coluna de Míriam Leitão em O Globo, “Lenta desconstrução”:

“Não foi um evento isolado, nem um engano. A Petrobras começou há muito tempo a caminhada para a perda do grau de investimento. Foi o resultado de vários erros cometidos pelo governo. Investimentos impostos pelo Planalto, nomeações políticas, preços populistas, propinas, descuidos. O PT achou que a empresa era dele. Ainda acha. A empresa é do Brasil.

“O governo agora pode culpar o mensageiro. É bem do seu feitio. As agências erram muito, já erraram no passado, e, se forem criticadas, há razões. Mas uma análise sincera encontrará o quanto o governo foi insensato na condução da empresa.

“Abriu inúmeras frentes de trabalho pelas exigências mais disparatadas. Uma refinaria no Maranhão, outra no Ceará. Mais uma no Rio. E a de Pernambuco? Melhor ainda, porque seria para que o ‘companheiro’ Hugo Chávez tivesse alternativa para vender seu petróleo.

“O fluxo de caixa não é problema. A Petrobras pode comprar gasolina e diesel a um preço e vender mais baixo. Quantas vezes ouvimos José Sérgio Gabrielli dizer que não repassaria a ‘volatilidade’. Lorota. Era uma forma de manipular o preço, evitar que a inflação, sempre no teto, estourasse a meta. Era a certeza de que o caixa da empresa era elástico. Quando Graça Foster assumiu, ela deixou claro inúmeras vezes que o preço estava errado, mas foi obrigada a engolir a sandice de subsidiar combustível fóssil. Se tivesse tido uma política realista de preços, a empresa teria o indicador melhor na comparação entre endividamento e geração de caixa. Se tivesse sido realista nos vários anos em que ficou artificialmente baixo, agora os preços poderiam cair. Isso daria um alívio à inflação, ao país, aos caminhoneiros que estão parando a estrada.

“Os funcionários alertaram que acima de um determinado custo a refinaria Abreu e Lima seria inviável, jamais se pagaria. Fizeram relatórios internos. Nada foi olhado. E os custos dispararam de US$ 2,5 para US$ 18 bilhões. Os companheiros venezuelanos roeram a corda e deixaram o mico com o Brasil. A obra continuou.

“Rodadas de licitação de petróleo foram suspensas porque tinham que mudar o modelo de exploração para que a Petrobras fosse dona de 30% de cada campo de petróleo. E para tudo isso a empresa foi se endividando. Houve alertas. Mas eram coisa de pessimistas, disseram. Chegou ao ponto em que a ANP terá que adiar a próxima rodada, porque a Petrobras não cumpre a exigência do balanço auditado.

“E, além de tudo, houve o roubo. Em larga escala, disseminado pelos vários negócios. E isso colocou a empresa na pior era de incerteza da sua vida. A Petrobras ficou endividada, sem balanço, com projetos excessivos e de rentabilidade duvidosa. Perdeu valor de mercado. A dívida cresceu exponencialmente e passou a frequentar as páginas dos escândalos político-policiais. (…)”

26/2/2014

Outros textos recentes que mostram que nunca houve governo tão incompetente:

A presidente demonstra ter cada vez menos controle sobre o governo, diz editorial do Estadão.

É espantoso o despreparo da presidente para enfrentar a grave conjunção de crises com que agora se depara. Por Rogério Furquim Werneck.

A intervenção de Dilma na Petrobrás é desastrada e insensta do começo ao fim. Por Míriam Leitão

Como Dilma conseguiu piorar o que já era muito ruim, por Míriam Leitão

Reportagem de José Casado mostra a incompetência do governo Dilma no programa Minha Casa, Minha Vida. 

Da série Um governo estarrecedor: Dilma bota US$ 550 milhões na Oderbrecht, por José Casado.

 

 

9 Comentários para “Nunca houve governo tão incompetente (7)”

  1. a economia do país entregue nas màos de empreiteiras, das empresaas publicas privatizadas, dos empresários do transporte só podia dar em contas públicas deficitárias. O funcionários públicos com altos salários, congressias e juizes recebendo bolsa habitaçào e acumulando aposentadorias. PIB em baixa custos em alta!
    A VACA TETUDA ainda aguenta mais mensalào de Minas, mensalà do pt,trensalào, licitaçòes fraudulentas na Petrobrás, a vaca além de tetuda é rica, muitíssimo rica.
    A desigualda é cada vez maior, no só no país da vaca, mas no mundo todo, THOMAS Piketi mostra cientificamente seu livro ‘O Capital no século XXI’ que os donos do capital acumulam cada vez mais em prol do empobecimento da populaçào trabalhadora e geradora de bens e serviços que engordam o famigerado PIB. Para alimentar a malvada economia de mercado necessário se faz uma mais humana distribuiçào de renda em forma de serviços públicos. TRANSPORTE, SAÚDE E EDUCAÇAO devem ser gratuidos e custeados pelos governantes do mundo. Uma reforma fiscal mundial é necessária para custear estas prioridade do ser humano. O capital nào será dilapidado, será apenas direcionado e melhor diatribuido, seu retorno é garantido através do lucro do empresariado empreiteiro do mercado cusumidor.
    Quando em junho de 2013 o povo brasileiro foi as ruas, demonstrou que a participaçào social mostra sempre as soluçòes e o melhor caminho. O nào reinvidicava somente 20 cantavos na reduçao da tarifa de transporte, queria mais, queria tariza zero, transporte gratuito para todos. A imprensa golpista viu no movimento uma utopia, reduziu o movimento a mera reinvidicaçao de reduçào de custo, tentou procurar líderes, localizar vandalos e justificar a repressào violenta e indiscriminada.

    TRANSPORTE GRÁTIS NÀO É UTOPIA SOCIALISTA!

    Por Lucio Gregori, especial para o Piseagrama*, parceira de Outras Palavras
    Einstein dizia que é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito. Eu não sabia disso quando propus, em 1990, a tarifa zero para os transportes coletivos urbanos no município de São Paulo. Era secretário dos transportes no governo da então prefeita Luiza Erundina.
    Por ter sido anteriormente secretário de serviços e obras (responsável, portanto, pelos contratos de coleta e destino final do lixo), pensei que o pagamento do transporte no ato de sua utilização era injusto e pouco racional em termos de eficiência. Injusto porque os que pagam são os que menos têm condições de arcar com esse custo. Era, e continua sendo, enorme o número dos que andam a pé por não terem condições de pagar a tarifa. E é pouco eficiente uma vez que o sistema de cobrança, à época, consumia quase 28% do arrecadado, além de ocupar cerca de quatro lugares por ônibus. A catraca não é somente grande e feia, ela pode se constituir também em um símbolo de humilhação.
    O sistema proposto era de pagamento indireto do serviço de transporte coletivo, através de impostos e taxas do município, como no caso dos serviços de educação, saúde, segurança pública, coleta e destinação final do lixo. O nome Tarifa Zero é, na verdade, de fantasia.
    A previsão era de que, com a adoção da tarifa zero, o número de passageiros transportados aumentasse muito, seja por conta daqueles que não podem pagar várias tarifas por dia, seja pela migração de parte dos usuários de transportes individuais.
    A frota deveria aumentar em 4.000 ônibus. Com a proposta, separava-se radicalmente o custo do serviço da tarifa paga pelo usuário. Cairia por terra o sistema de concessões de serviço para empresas em que a tarifa é a garantia do equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Os serviços seriam contratados conforme todos os demais serviços públicos municipais, como construção de vias e viadutos, aquisição de remédios, equipamentos hospitalares, equipamentos para educação. Seria algo como fretar veículos pagando ao fretador e cobrindo os custos através dos impostos e taxas municipais, sem nada cobrar do usuário no ato de utilização. Essa modalidade de contratação, no caso dos ônibus, seria denominada “municipalização”.
    Com o necessário aumento da frota e a tarifa zero, tornavam-se necessárias novas fontes de recursos através de impostos e taxas. A prefeita propunha à Câmara uma reforma tributária fortemente progressiva – dentro da qual pagaria mais quem tem mais, menos quem tem menos e não pagaria quem não tem – e a constituição de um fundo para financiar a gratuidade. Grandes estabelecimentos, bancos, residências de luxo pagariam mais, e assim por diante. Afinal, a cidade só funciona porque as pessoas nela se deslocam.
    Nos debates e reuniões de que participei, pude perceber a resistência em se propiciar um sistema mais racional e justo para a mobilidade de todos, independentemente de classe social. A pouca mobilidade física dos usuários de transporte coletivo se traduz, também, em menor mobilidade social. O preconceito aparecia sob a forma de ditos como: “se é ruim pagando, pior se for de graça”, ou “os ônibus vão estar lotados de bêbados e desocupados” ou ainda, “se for de graça haverá vandalismo, etc, etc”.
    O projeto não pôde ser implantado. A Câmara Municipal sequer votou a necessária reforma tributária e o projeto como um todo. Esse conjunto de preconceitos esconde uma questão política e social muito mais profunda, que se constitui como um paradigma.
    Como se dá, exposta de forma simples, sua construção histórica e social?
    O início ocorre com a necessidade do não transporte, quando o ideal para o capital era ter o trabalhador junto ao local do trabalho – caso das vilas industriais ou mesmo das colônias nas fazendas. Com a complexidade decorrente do desenvolvimento, o transporte dos consumidores e da mão de obra para os locais de trabalho passa a ser indispensável. A responsabilidade desse serviço é transferida ao poder público, enquanto ele se transforma, ao mesmo tempo, em novo “negócio”.
    A concessão de serviço público é solução de “negócio” para um mercado em que não há como haver concorrência, característico do transporte coletivo. E a tarifa é a garantia do “negócio”.
    Como responsabilidade do governo, os transportes coletivos têm na tarifa um preço público. Isso confere ao sistema possibilidades de barganha política. A fixação do preço público da tarifa serve como elemento de manipulação política, para o bem e para o mal. A tarifa se torna, na prática, um “fetiche”. A história dos reajustes de tarifas de transportes urbanos mostra isso claramente, através de variadas manipulações. Ora a depressão do preço, ora os aumentos, sempre em função do momento político, de eleições, etc.
    Se do lado do capital, o transporte coletivo é encarado como “negócio”, os usuários, através do aparato ideológico, também introjetam esse mesmo conceito. O usuário entende que o transporte é um serviço que deve ser pago, e que o seu deslocamento (mobilidade) é de sua inteira responsabilidade. Com isso, esfuma-se que o transporte é, primordialmente, de interesse do produtor, do prestador de serviço, do comércio – do empregador, de forma geral. O usuário não entende o transporte como direito social a ser pago indiretamente, como entende a saúde pública, a segurança pública, a educação pública. Para lembrá-lo permanentemente de seu “dever de pagar”, em muitos ônibus da cidade de São Paulo se encontram os seguintes dizeres:
    CÓDIGO PENAL
    Art. 176 – Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento:
    Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.
    É fácil perceber essa introjeção nos momentos de crise dos transportes coletivos, como nos dias de greve. A mídia mostrará usuários se debatendo e disputando os pouco lugares ofertados, ansiosos para não perderem o dia de trabalho ou o acesso a serviços indispensáveis e inadiáveis. O usuário assume, assim, a plena responsabilidade por seus deslocamentos. Se a crise perdurar, em breve a mesma mídia dirá da impaciência das indústrias, comércio e serviços pela ausência de seus trabalhadores e consumidores. E, então, a crise dos transportes coletivos fica entendida como um grave problema social.
    No entanto, a Constituição diz:
    Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma dessa Constituição.
    Os mesmos transportes coletivos, cuja ausência causa graves problemas sociais, não são, entretanto, um direito social.
    O usuário do transporte coletivo vê no transporte individual, de preferência o automóvel, a “saída” para a mobilidade. O automóvel é um produto que preenche diversos requisitos em nossa sociedade: são milhares e milhares de pessoas que vivem na dependência desse produto. Ele é estratégico na produção nacional, sobretudo por seus “efeitos para trás”, na enorme cadeia de insumos necessários à sua produção. Acrescente-se a isso os serviços que gravitam em torno de seu consumo, tais como comercialização, manutenção, publicidade, propaganda, combustíveis, empreiteiras de obras públicas de ampliação e reforma de sistemas viários para acomodar mais e mais carros, asfaltamento, construção de viadutos, passagens de nível.
    O automóvel também conforma as cidades de tal sorte que elas acabam dependendo cada vez mais de sua utilização. Diante de um sistema de transporte coletivo ruim, insuficiente e caro, o automóvel se torna um sonho de consumo libertador do pesadelo representado pelo ônibus. Mas o automóvel é um forte agressor do meio ambiente e devorador insaciável do espaço urbano. Sua frota polui dezenas de vezes mais que a frota de ônibus e ainda mais que outros modalidades como metrô ou VLTs.
    Entendo que a tarifa zero produziria um efeito radical na questão da mobilidade, tornando-a mais racional, ambientalmente mais sustentável e socialmente mais justa. Sua implantação envolve, porém, uma enorme disputa política, tanto no campo ideológico, como no campo econômico-financeiro.
    Sucessivos governos no Brasil, em todas as instâncias, têm adotado políticas públicas para o transporte individual por automóvel em detrimento do transporte coletivo. Bilhões e bilhões são gastos na ampliação de vias e na construção de viadutos, enquanto se alega falta de recursos para o subsídio às tarifas e investimentos no transporte coletivo. Isso não se dá por acaso, mas por uma enorme disputa política que envolve diversos interesses.
    Em Hasselt, na Bélgica, a “tarifa zero” existe desde 1997. A demanda por transporte coletivo cresceu cerca de 1300% e houve considerável diminuição de investimentos no sistema viário. Por tudo que se disse nessa síntese da questão é que se afirmou o título deste texto. Comecemos por reivindicar que o citado artigo da Constituição inclua o transporte coletivo urbano como direito social.

    * Criada em 2010, em Belo Horizonte, a revista Piseagrama dedica-se a temas relacionados ao Direito à Cidade. Foi uma das quatro vencedoras do edital Cultura e Penasmento do ministério da Cultura. Graças a apoio público, seis edições circularam gratuitamente, com tiragem de 10 mil exemlares, distribuídos gratuitamente em mais de trinta cidades. Em 2014, a publicação captou junto ao público, por meio de crowdfunding, os recursos necessários para retornar. Estará de volta ainda em 2015. Para celebrar esta volta, Outras Palavras publcia alguns de seus melhores textos.
    De Maricá (RJ)
    A catraca, símbolo maior da cobrança de tarifa no transporte público brasileiro, continua lá para registrar o número de passageiros. Mas a cadeira do cobrador agora está vazia. Ninguém precisa pagar mais. É assim desde 18 de dezembro do ano passado em Maricá, município fluminense na Região dos Lagos. Há pouco mais de um mês, a prefeitura local fundou a Empresa Pública de Transportes (EPT) e instituiu o passe livre para todos. O objetivo, o prefeito Washington Quaquá (PT-RJ) admite, é “quebrar o monopólio” das empresas que detêm o serviço há pelo menos 25 anos na cidade.
    Primeiro município brasileiro com mais de 100 mil habitantes a oferecer ônibus gratuito, Maricá é palco de uma verdadeira queda de braço entre o poder público e os empresários de transporte. Isso porque a implantação da tarifa zero se deu ao mesmo tempo em que as duas empresas privadas de transportes da cidade continuam tendo concessão para operar com cobrança de passagem. Por isso, desde o fim do ano passado, os usuários têm à disposição tanto os ônibus que cobram tarifa, com valor mínimo de 2,70 reais, quanto os gratuitos, da Prefeitura de Maricá, sendo que ambos fazem trajetos semelhantes.
    “Nós estamos quebrando um monopólio de uma família sobre um setor econômico da cidade”, afirma o prefeito ao citar a maior empresa da região, a Viação Nossa Senhora do Amparo, que há mais de 40 anos controla tanto o transporte municipal quanto o intermunicipal. A outra empresa é a Costa Leste que, apesar de menor, já possui concessão há 25 anos. Quaquá não esconde que a sua briga é mesmo com a Viação Amparo. “Eles eram os donos da cidade. Quando eu saí de uma favela de Niterói com nove anos de idade e vim morar aqui, eles eram os coronéis. Mandavam, desmandavam, matavam, só não faziam viver”, acusa o petista. “Eles financiaram meus adversários. Então, a primeira vez que um prefeito rompeu com o monopólio deles foi quando ganhei a eleição. (…) Já era para eles”, diz sem hesitar.
    No cargo desde 2008, Quaquá é um dos fundadores do PT na cidade e o atual presidente estadual do partido no Rio de Janeiro. Conhecido por ser de uma corrente mais à esquerda, Quaquá fez parte da sua campanha eleitoral focando na disputa com os empresários do transporte. “Maricá é bonita demais para ser controlada por uma empresa de ônibus”, dizia o slogan político. “Essa Constituição estabelece que transporte é serviço público que pode, pode [repete] ser concedido. A lógica de Maricá é a seguinte: o serviço será público e gratuito”, garante.
    Após conquistar a reeleição, Quaquá colocou a proposta em prática. Impossibilitado de romper os contratos de concessão com as duas empresas de transporte da cidade, já que ambos foram renovados em 2005, com duração até 2020, o prefeito começou os estudos para criar uma empresa com tarifa popular. O objetivo era iniciar a operação com passagem em torno de dois reais para, progressivamente, reduzir até a tarifa zero. Mas a ideia esbarrou em entraves jurídicos. A solução foi fundar uma autarquia municipal e implantar a tarifa zero desde o início.
    De onde vem o dinheiro?
    Depois da criação da autarquia, a prefeitura investiu aproximadamente 5 milhões de reais, comprou dez ônibus e contratou 29 motoristas por meio de concurso público, em caráter temporário, por 12 meses. No total, a EPT já tem 90 funcionários, que trabalham exclusivamente para o funcionamento das quatro linhas de ônibus. Os veículos atendem do bairro Recanto à Ponta Negra, nas extremidades do município, 24 horas por dia e nos finais de semana. Todos os veículos comprados pela cidade têm ar condicionado e elevador para deficientes físicos nas portas.
    “Nós vamos comprar mais 20 ônibus, provavelmente ônibus elétricos, sem emissão de carbono, que funcione a energia solar”, explica Quaquá. Os recursos para manter todo esse sistema são provenientes da verba que o município tem direito em função dos royalties do petróleo. No ano passado, por exemplo, Maricá recebeu repasses que totalizaram 220 milhões de reais, segundo o Portal da Transparência da cidade.
    Em um mês de funcionamento, com os dez ônibus, a operação custou aproximadamente 700 mil reais, mas a ideia é que o gasto suba para 1,5 milhão de reais por mês, quando a empresa tiver capacidade de concorrer com as empresas privadas. Isso porque o objetivo é que Maricá tenha autonomia para garantir o transporte dos moradores independentemente de concessão.
    O plano de Quaquá provocou uma reação imediata dos empresários. Menos de dez dias depois de os ônibus começarem a circular pelas ruas de Maricá, as empresas deram entrada em uma liminar na 5ª Vara Civil da Comarca de São Gonçalo para impedir o funcionamento da Empresa Pública de Transportes (EPT). O pedido não foi aceito pela Justiça.
    Os empresários reclamam pois a prefeitura não paga o subsídio previsto em contrato desde que Quaquá assumiu o cargo, há sete anos. Pelo documento, as empresas Costa Leste e Viação Amparo devem receber da Prefeitura de Maricá o valor da passagem de cada usuário com direito à gratuidade (estimado em 120 mil pela Costa Leste), como idosos e estudantes de escola pública. “Não pago nada”, diz o petista. “Esses dias eu vi que eles estão cobrando na Justiça 13 milhões de reais. Você imagina: com esse dinheiro eu garanto dois anos de empresa gratuita para todos. Eles estão acostumados com poder público que não controla, não fiscaliza. Agora nós temos a planilha e estamos abrindo a planilha”, enfatiza.

    Em guerra declarada, Maricá usa ônibus gratuito (vermelho) contra empresas de ônibus, que cobram 2,70 reais de tarifa (Foto: Adriano Marçal)
    Além da guerra judicial, o prefeito ainda aprovou no ano passado uma lei que mudava o nome da rodoviária da cidade. Até então, o local era conhecido como Terminal Rodoviário Jacintho Luiz Caetano, em referência justamente ao nome do fundador da Viação Amparo. Quaquá renomeou o local para “Terminal Rodoviário do Povo de Maricá”. O busto de Caetano que ficava na entrada do terminal ainda foi removido e devolvido para a família.
    A opinião da população
    CartaCapital acompanhou por dois dias o funcionamento e a circulação dos ônibus gratuitos da cidade. Apesar de ter anunciado ônibus de 20 em 20 minutos, os dez veículos da Prefeitura de Maricá que estão em circulação ainda não conseguem cumprir a mesma pontualidade das empresas privadas, todos os dias. Quando alguns motoristas estão de folga, o tempo de espera pode levar de 40 minutos a uma hora.
    “Gratuito é bom para o povo, né. Acho que tinha que ter mais [ônibus]. Por um lado é gratuito, mas, por outro, a gente tem que ficar esperando meia hora, 40 minutos”, alerta o segurança Diego Silva, de 27 anos.
    A explicação, segundo o presidente da EPT, Luiz Carlos dos Santos, é o tamanho da cidade. Apesar de ter aproximadamente 127 mil habitantes, Maricá tem uma extensão de 363 quilômetros quadrados. O município é maior, por exemplo, do que cidades como Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, com uma população de mais de 1,2 milhão de pessoas. E o dobro do tamanho da vizinha Niterói (RJ), que tem quase 500 mil habitantes. Por conta disso, os ônibus gastam aproximadamente 1h30 para fazer todo o percurso e voltar para a rodoviária da cidade. Segundo Santos, a tendência é que a circulação se normalize com a chegada dos novos ônibus.
    Mas, mesmo com a demora em alguns dias da semana, os usuários fazem fila para esperar o “Vermelhinho”, como já ficou conhecido o ônibus gratuito em função de sua cor (os ônibus da Costa Leste e da Viação Amparo são pintados em tons de azul). Na última terça-feira 27, por exemplo, a reportagem contou 27 pessoas à espera de uma linha sentido Ponta Negra, a área turística da cidade, e outras 21 pessoas na fila para embarcar para o bairro de Itaipuaçu, por volta das 15h, na rodoviária. No mesmo horário, o ônibus da Costa Leste que faz trajeto parecido e cobra 2,70 reais aguardava vazio o embarque de passageiros. A Costa Leste admitiu que a medida vem tendo “grande impacto” no número de usuários do sistema, mas não deu mais informações. A Viação Amparo não retornou os pedidos de entrevista da reportagem.

    Enquanto usuários fazem fila para usar o ônibus gratuito (vermelho), veículo da empresa Costa Leste (azul) aguarda por passageiros na rodoviária (Foto: Renan Truffi)
    “Para a gente foi muito útil, as passagens aqui em Maricá são muito caras. Para um trecho curtinho, você já paga três reais para ir e três reais para voltar. Por exemplo, um casal e duas crianças, você já vai pagar um preço absurdo. Tem família aqui que não conseguia ir à praia porque não tinha condições de pagar um ônibus. Com esse dinheiro já dá para comprar um pão, ou um leite para as crianças”, conta a dona de casa Marilza Marques, de 63 anos, durante uma das viagens.
    Desde que começou a operar, em pouco mais de um mês, os ônibus gratuitos já transportaram mais de 200 mil passageiros. A Prefeitura de Maricá estima que já esteja atendendo 70% da população. A gratuidade fez até com que moradores de cidades vizinhas pudessem começar a frequentar as praias de Maricá. “Onde a gente mora é supertranquilo. Agora começou a vir um povo de São Gonçalo para as praias. Eles não consomem nada. O pessoal do quiosque reclama também”, critica uma professora que não quis se identificar, enquanto espera o ônibus gratuito.
    A Prefeitura espera ainda que o dinheiro, antes aplicado na passagem, comece a ser injetado no comércio da região. Como o ônibus funciona também de madrugada, as lojas próximas à rodoviária passaram a estender o horário de atendimento. “É um retorno que a prefeitura vem dando para o povo. O povo não ganha nunca nada. Agora tem ar condicionado, serviço de qualidade”, conta o empresário Luiz Carlos Souza. “Eu estou economizando esse dinheiro para fazer um sacolão”.

  2. NOSSO MEDO É O PIG, ou seja ESTADAO, FOLHA, OGLOBO, VEJA e as matérias aqui compiladas de jornalistas assalariados e meuito bem pagos para influir na opiniao pública.

    AS MÁS NOTÍCIAS agora de roupa nova sào compilaçoes raivosas de uma oposiçao que quer abreviar as eleiçoes de 2018.

    Acalmem-se tucanos, nào há bem que sempre dure nem mal que nào se acabe!

    CONTAGEM REGRESSIVA PARA 2018!
    FALTAM APENAS E TÀO SOMENTE 1039 DIAS PARA O FIM DE GOVERNO TÀO INCOMPETENTE.

  3. SERGIO, LUIZ CARLOS, VALDIR vamos discutir UTOPIAS?
    Que tal recuperar águas do TIETE? ACABAR COM A SABESP?
    REPUBLICA PARTICIPATIVA!?
    CONTROLE DA MIDIA!?
    FHC 2018?!

  4. Minha utopia atual é a Coréia do Sul, Miltinho. Até os anos 80, era mais pobre do que Brasil e do que Cuba (se é que isso é possível). Cuba plantava fumo e açúcar. A Coréia do Sul plantava arroz e não tinha muitos recursos naturais. Pior: a pobrezinha teimou em seguir um caminho totalmente errado, não recomendado pelas melhores cabeças pensantes da América Latina. Nos últimos 30 anos, fez tudo ao contrário do que fizeram Cuba, Venezuela, Coréia do Norte, Brasil, Argentina e outros progressistas. O resultado é que os regressistas do Sul hoje dominam boa fatia do mercado mundial de computadores, televisores, automóveis, industria naval e celulares. É considerado o país mais inovador do mundo em tecnologia. Tem para vender SAMSUNG, LG, Kia Motors, Hyundai e muitos outros. Sem nunca ter experimentado um governo de esquerda, seus índices de distribuição de renda, educação e saúde estão entre os mais altos do mundo. Seus habitantes têm dinheiro para pagar passagens ou comprar as próprias casas, sem depender da benevolência do governo. Acho que nem mesmo gostam muito de governo, pois, ao contrário dos cubanos, o trocam religiosamente a cada quatro anos. Mas devem gostar de lá, pois nenhum, até hoje, fugiu para a Coréia do Norte. Enquanto isso, Maduro conversa com passarinhos e conduz à falência o terceiro maior produtor de petróleo do mundo. Cuba continua, há 50 anos, nos eternos charutos, açúcar e automóveis “de época”. Por isso acho que utopia mesmo é celular cubano. Mesmo assim, nós ainda consumimos uma enorme quantidade de cerveja nos bares, em conversas progressistas e inteligentes sobre Chaves, Fidel, Maduro Christina, Evo Morales, nossos valorosos desafiadores do perigo americano e defensores dos pobres. Ou seriam defensores da pobreza? Mas ninguém conhece a senhora Park Geun-Hye. Não desperta a mínima curiosidade. Acho que ela não deve combinar muito com cerveja. Se é para elogiar coreano, preferimos o corte de cabelo do Kim Jong Un e suas ameças de destruir a América. Ninguém procura saber o que os coreanos do Sul fizeram para obter tanto sucesso. Cultuamos apenas o fracasso. Afinal, esses caras de olhinhos fechados, além de gostarem de comer cachorro ensopado, têm hábitos imperdoáveis, como rotatividade de poder, liberdade de imprensa e outras coisas mais exóticas ainda, como não dar murros na mesa xingando americanos e europeus brancos de olhos azuis. Acho que a senhora Park, a exemplo de seus antecessores, prefere seguir a máxima de que o cliente está sempre com a razão. Não vai correr o risco de ofendê-los, deixá-los com raiva, a ponto de comprarem Apple em vez de SAMSUNG, ou Renault em vez de Hyundai. Tem mais, mas vou parar por aqui, antes que o Sérgio leia isso e me peça um artigo a respeito da desconhecida e menosprezada senhora Park Geun-Hye. Morro de preguiça de escrever.Ainda mais no site de um copy desk, que descobre erros até de olhos fechados.

  5. Luiz Carlos, você não poderia, por favor a este seu amigo e a todos os leitores deste site (acho que são uns 18, mais do que os do Agamenon, tem 17 e meio), escrever um artigo nos apresentando quem é a senhora Park Geun-Hye?
    Fiquei curiosíssimo, e tenho certeza de que todos os outros 17 leitores (o Miltinho, que é o outro, acho que não entra nessa conta) também ficaram, para saber mais a respeito dela.
    Pelo jeito com que você fala, ela deve ser uma mulher de categoria de uma Ruth Cardoso, uma Zilda Arns.
    Vá lá, Luiz Carlos, faça esse artigo. Enfrente a coragem, a timidez. Compense-se a você mesmo por tantos anos passados perdido em numerinhos, quando poderia estar batucando as pretinhas. Você diz que não, mas na verdade você gosta é de texto. Era sua vocação, abandonada tão cedo. Você é homem das palavras, admita. Pergunte à sua mulher: ela vai dizer que eu estou com a razão!
    Faça, por favor, um artigo sobre a senhora Park Geun-Hye!
    Mostre pro Miltinho qual é a verdadeira utopia!
    Grande abraço!
    Sérgio

  6. Não garanto nada, Sérgio. Posso ser um homem de palavras, mas não sou um homem de palavra.

  7. Apesar de excluido, me torno 18 e também aguardo o novo texto sobre a utopia governada pela senhora Park Geun-Hye. Importante falar dos antecessores da senhora, estes devidamente menosprezados pelo texto. viva as utopias!

  8. 대한민국;大韓民國 uma das mais antigas civilizaçòes tem uma marcante história política até se tornar a utopia belamente descrita no texto do LUIZ CARLOS.
    Mais LUIZ,mais utopia. que tal falar sobre o Nobel da Paz presidente Kim Dae-jung.

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