Nenhum centavo a mais

Sem eira nem beira, condenados à ignorância por um sistema educacional precário e, portanto, ao desemprego, subemprego ou emprego de baixa qualidade, os pobres são ouro em pó para políticos. Usados por todos. E abusados por populistas e inescrupulosos, como bem mostra o ex-presidente Lula.

O ex-pobre que migrou de Garanhuns (PE) e se tornou o primeiro operário a ocupar a Presidência da República não tem qualquer respeito com os que vivem na pobreza. Lambuza-se deles para coroar de êxito o seu governo, pouco se lixando para a velocidade com que a crise devolve à penúria quem achava que dela tinha escapado.

Em oposição explícita ao governo arrasado de sua pupila Dilma Rousseff, Lula tem sido cada vez mais enfático nas críticas ao ajuste fiscal que ele próprio aconselhou que a afilhada fizesse. Sem enxergar saída, tirou o corpo fora para pregar a mesma ladainha de sempre: ele – e só ele – cuidou dos pobres, gastou e propiciou consumo e comida aos pobres, tirou 35 milhões da miséria. Dilma fala em mais de 40 milhões ungidos à classe média.

Ainda que não se coloquem em dúvida os números – por mais exagerados que sejam -, veem-se hoje os resultados da superficialidade da ascensão ancorada única e exclusivamente no consumo e no crédito farto.

Ao crescimento de 56% no número de desocupados em apenas um ano, superando a casa de 8,5 milhões de pessoas, segundo a Pnad Contínua/IBGE, somam-se a inadimplência e a queda da qualidade de vida.

Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada na quarta-feira, aponta que o desemprego afetou 44% dos entrevistados nos últimos 12 meses e que 48% dos brasileiros correram atrás de bicos para complementar a renda. E mais da metade – 54% – acredita que dias piores virão.

É evidente a falta de sentido do discurso bestial de Dilma, repetido sexta-feira, no Piauí, de que “uma minoria aposta no pior”. Por aí, ela não tem chance. Nem por outro lugar qualquer. Dilma, na verdade, já se condenou ao fracasso. Sua fala confusa, apelidada de dilmês, tinha até alguma graça. Conferia a ela lugar de destaque na galeria do folclore político. Hoje, é só patética.

Em entrevista ao Valor Econômico, Dilma chegou a alegar questão de gênero ao ser questionada sobre renúncia pela jornalista Cláudia Safatle. “Você já pensou que nunca perguntaram isso para nenhum homem? Por que mulher renuncia?” Um total contrassenso.

Até Lula, com toda a sua verve palanqueira, perdeu o charme. Na semana passada sentiu o gostinho de falar em praça pública. No Paraguai e na Argentina. Por aqui, só em ambientes fechados, com gente amiga. Seu discurso encontra travas em todas as frentes. Tem tido dificuldades para seduzir os pobres aos quais ele prometeu mundos e fundos e que se redescobrem pobres, a classe média, nova ou consolidada, e os ricos que nele viram chances de purgar culpas.

Hoje, tantos foram os engodos e aprontações de Lula, PT, Dilma e Cia – e aqui cabe destacar os sucessivos escândalos de corrupção, culminando com os da Petrobras –, que esses segmentos tidos como antagônicos se unem em repúdio. A rejeição recorde de Dilma, os milhares que vão às ruas em protesto contra ela, os mais de 500 mil que assinaram petição pró-impeachment em menos de 24 horas, o sucesso dos bonecos-pixulecos espelham isso.

O feitiço atacou o feiticeiro, o “nós” virou “eles” e vice-versa. Juntos e misturados para dizer não a tudo que aí está. Não há, portanto, a menor chance de arrancar mais dinheiro dessa maioria para tapar os buracos da gastança desenfreada dos governos Lula-Dilma.

Neles, disseminou-se a roubalheira como política de Estado. Encheram-se as burras de muitos asseclas. O país empobreceu e faliu.

Para eles, nenhum centavo a mais.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 13/9/2015. 

Um comentário para “Nenhum centavo a mais”

  1. Vivemos em uma era dinâmica, onde os valores tradicionais foram deformado pelas autoridades para o servir privado e injusto, contrário aos propósitos de bem-estar públicos.
    Um sistema muito abrangente como o capitalismo moderno consolida a si próprio por meio de um vasto espectro de mecanismos institucionais — e não pode ser combatido sem que compreendamos em que grau ainda absorvemos suas expressões culturais.
    Invasão do egoísmo, do individualismo e do consumismo todos eles fundamentados no isolamento do “eu”.
    A relação entre sujeito e a economia, levou a supervalorização da economia em detrimento da pessoa, devemos salvar a “economia” das instituições ou as pessoas submetidas ao poder das instituições econômicas?
    Um movimento de rebelião contra a ordem estabelecida, o atraso, o imobilismo da sociedade e os seus valores.
    A vida não deve ser regida por qualquer tipo de padrão moral tendo em vista um mundo superior, pois isso faz com que o homem minta a si próprio e se falsifique enquanto vive, fixado numa mentira..
    No momento em que o homem negar os valores neo capitalistas, deverá aprender a se ver como criador de novos valores e no momento em que entender que não nada é eterno após a vida, deverá aprender a ver a vida como um eterno retorno,
    Criatividade na oposição.
    Como vamos chegar lá?
    Para começar, livrando-nos do cinismo e da crença de que nada pode mudar. A criatividade é uma arma necessária para qualquer contra-ataque.
    Hackear os sistemas, boicotar as dívidas, criação de novos parlamentos autônomos, locais e nacionais, organizar as comunidades e atos estratégicos de violência dirigida a alvos específicos — como a varredura de supermercados e ocupar coordenadamente os edifícios financeiros e governamentais — são algumas das ações.
    Que a esquerda abandone o “bom mocismo moral e a linguagem elitista”. Um “rompimento espetacular” de pontos débeis do sistema como parte de uma desobediência civil de massa diante das convenções sociais. Trata-se de rupturas com impulso tão violento quanto a pobreza forçada, a falta de assistência social e a destruição do meio ambiente impostos pelo capitalismo.
    Um sistema muito abrangente como o capitalismo moderno consolida a si próprio por meio de um vasto espectro de mecanismos institucionais — e não pode ser combatido sem que compreendamos em que grau ainda absorvemos suas expressões culturais.

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