Não era assim que deveria ser. Mas que venha o processo

É claro, é óbvio que não era assim que eu gostaria que a Câmara dos Deputados iniciasse um processo de impeachment contra Dilma Rousseff – por decisão de Eduardo Cunha, um sujeito que não tem moral, todos sabemos, para ser síndico de seu prédio.

É óbvio que seria muito melhor para o país se a Câmara dos Deputados fosse presidida por alguém probo. Que a decisão de dar início ao processo viesse não de um gesto de chantagem, mas de uma decisão tomada com tranquilidade por alguém da altura de um Miro Teixeira, uma Mara Gabrilli, um Chico de Alencar, só para dar exemplos de deputados da atual legislatura.

Infelizmente, o presidente da Câmara é esse que está aí.

E, infelizmente, a presidente da República é esta que está aí: eleita por evidente estelionato, por mentiras. Useira e vezeira em crimes contra a lei de Responsabilidade Fiscal, segundo opinião do Tribunal de Contas da União. Sobre as contas de sua campanha eleitoral pairam seriíssimas dúvidas. Todo o seu governo, e seu partido, estão sob suspeita de patrocinarem a maior rede de corrupção da história não do país, mas do mundo.

Processo de impeachment não é golpe: está tudo na Constituição.

Iniciar um processo não significa, de forma alguma, que Dilma Rousseff será impedida. Iniciar um processo é apenas iniciar um processo.

Só para lembrar, para pôr alguns pontos fundamentais nos is.

Não é assim que deveria ser iniciado o processo.

Mas não há golpe algum.

Que o tema que não sai de nenhuma conversa sobre política neste país, faz 11 meses, seja enfrentado às claras pelo Parlamento.

É um Parlamento ruim?

É. Mas o governo é tão ruim quanto – se não for muito pior.

Ah, não se pode querer o impeachment só porque o governo é ruim, e enfiou o país na mais grave crise econômica, moral e política de toda a sua história. De fato, não se pode. Mas então que sejam discutidas as  questões pendentes, o uso de dinheiro criminoso na campanha eleitoral, os crimes seguidos contra a responsabilidade fiscal.

Processo de impeachment não é golpe.

Não, não era assim que eu gostaria que tramitasse um pedido de impeachment. Mas também não é esta a presidente que mais da metade do país quer.

2/12/2015, 21h25

9 Comentários para “Não era assim que deveria ser. Mas que venha o processo”

  1. Queria que fosse como? Golpe é golpe lícito ou ilícito. Cunha e tucanos se merecem, o Brasil não merece.
    Pior é que a chantagem não deu certo e Cunha vai ser cassado com voto do PT.
    Tem gente envergonhada com a vingança do presidente da câmara.

  2. As manifestações originais, não as preparadas pela oposição, são sinais positivos da esperança. A luta por uma tarifa justa de ônibus trouxe às ruas paulistas jovens de todas as idades para levarem à frente suas reivindicações. Agora, mais recentemente, as ocupações das escolas públicas paulistas seguem no mesmo rumo e bandeira.

    Salve a democracia, mesmo que tardia. A espontaneidade desses dois movimentos em São Paulo traz a pureza e a determinação de gente que se vê livre para protestar e defender seus direitos. Mesmo que o poder público tente cercear. Mas como ir contra jovens do ensino fundamental que querem estudar para ser alguém na vida? Por que e como retirá-los das escolas?

    Essa a esperança de mudança que venceu o medo. Essa a semente plantada e que dá e promete mais frutos. A despeito de falsas e rasas análises feitas aqui e ali que buscam estigmatizar um partido, que, bem ou mal, abriu as portas da rebeldia e da desobediência civil. Poderia ser melhor, sim, do mesmo jeito que a avaliação dos governos petistas entregues hoje à sanha dos indignados por não mais estarem no poder.

    Essa indignação doentia da oposição aliada à parcialidade de membros da Justiça e à sanha destrutiva da mídia provocaram uma balbúrdia na vida política nacional. O recuo do governo com seus poderes sem força e ameaçados piora o quadro geral.

    Mas o povo sabe hoje melhor do que ontem quem é quem, de fato, a comandar o triste espetáculo. O medo já não existe mais, apenas a perigosa falta de perspectiva. Legado infeliz dos meritocratas, preconceituosos e hierarquizados.

  3. E se Cunha, protegido pelos agora frustrados votos petistas no Conselho de Etica, tivesse rejeitado o impedimento, teria sido legitimo? Qualquer que fosse a decisão do Presidente da Camara, ela não teria sido baseada em santos propósitos. Decidiu contra a governanta. Era parte do jogo no mundo real. Quem criou, caro sr Miltinho, toda essa crise nem de longe foram os tucanos, nem os marceanos, mas, pela ordem, Lula, o PT e dona Dilma.

  4. É isso aí, meu querido. Que o impeachment seria iniciado num momento ou outro, nós já sabíamos, mas foi lamentável a forma e por uma pessoa sem caráter, sem vergonha , sem etica. Mas a obrigação de fazê-lo era dele, claro, pois já estava com mais de trinta pedidos guardados na gaveta.Optou pelo do Hélio Bicudo, o mais sério de todos. Mas o fez depois que três integrantes do PT no conselho de ética não votariam a seu favor no processo contra ele.Agora é esperar, pois o trajeto é longo.Enquanto isso, sofremos com o desemprego, a carestia, os juros e um país sem governo. Fora Dilma, fora Cunha!

  5. Temos medo, mas temos esperança, que vencerá novamente.
    Jovens nas ruas em 13 de junho de 2013, jovens acampados nas escolas e o Estado recorrendo a justiça para reintegrar a posse.
    As desigualdades continuam, metem medo, mas os jovens corajosos são a esperança de vitória.

  6. Agora eu entendi tudo, Sérgio Vaz: o Miltinho é um ex-petista ex-arrependiti, que chegou até a se enamorar pela Marina, a líder do novo partido dos petistas envergonhados. Só que ele não se entende muito bem com esse tal de Nosso Medo, um petista despudorado, orgulhoso da obra do PT, que veste camiseta vermelha com broche de estrela. Como bom petista, Nosso Medo adora ver o povo protestando nas ruas. Desde que seja um protesto abordando questões verdadeiramente importantes, como os 20 centavos de aumento nas passagens. Nem um passo além disso, senão o tal de povo vira coxinha. Gostaria de ver um debate entre Nosso Medo e Miltinho. Mas dizem por aí que os dois são como Super-Homem e Clark Kent: por coincidência, nunca aparecem juntos.

  7. Que brilho de conclusão, Luiz Carlos! Eu nunca tinha entendido muito bem quem é o Miltinho e quem é o Nosso Medo. Você descobriu o segredo. É isso mesmo! O Miltinho é o arrependido, o Nosso Medo é o como a Velhinha de Taubaté, um dos últimos a de fato acreditar no PT!
    Deve ser uma brigalhada danada entre os dois, todos os dias, eternamente, não é? Como será que eles conseguem dormir?
    Um abraço!
    Sérgio

  8. Tenho medo mas tenho esperança, que cresce sempre a revelia dos conservadores e caquéticos. Os jovens pintaram a cara contra Collor, reclamaram dos 20 centavos do aumento de passagens, agora ocupam escolas são esperança do presente, Marina, Giovana e João Vitor continuação, esperança no futuro.
    NOSSO MEDO é o passado que alguns querem o retorno, travestidos de opositores indignados. Tucanada retardada.

  9. Senhores! Minha preocupação não é a de avaliar se este usuário é irmão daquele, ou o debate entre dois usuários ou algo assim.

    Importante é o Brasil. E as melhores opiniões que conheço acerca deste intenso Ano não são aqui do site, mas dos discursos de um homem que aprendi a respeitar: um tal Requião.

    Já ouviram falar dele? Um homem do , mas que, assim como eu, não abdica sem motivo do nacionalismo! Que tal abordar aqui no site temas que ele lançou:

    – Interesse dos EUA em garantir um governo chapa-branca, que garanta a discoteca yankee em cima do Pré-Sal (“dance bem, dance mal, dance sem parar, até sem saber dançar”);

    – A desvinculação das futuras aposentadorias do salário-mínimo (que medo! E se eu, na velhice, receber 500 reais por mês?);

    – O caráter [ainda mais] elitista do “Minha Casa, Minha Vida” daqui em diante?

    – A PEC 241, que congela os gastos públicos até 2036 (que tal controlar em vez de congelar?);

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