Daqui do Reino das Águas Turvas

Nunca vi a Rainha falar tanto. Há quem pense que sem poder empregar seu tempo no hobby favorito, que é aumentar o tamanho do Estado e fazer deste Reino o sonho de todo petista, ela acabou descobrindo que falar ao povo é muito bom, é trocar um peteleco pelo outro e às rainhas dar petelecos nos súditos causa um prazer delicioso.

O Tesouro do Reino está vazio. Dizem que vão aproveitar e fazer uma faxina em regra nos cofres. Como se faz essa faxina? Ah! isso eu não sei, ninguém, nem o ‘alguém’, nos deu esse detalhe. Se fosse eu a faxineira, mandava retirar metade das 39 gavetinhas, embarcava de volta para suas províncias os Duques nelas instalados e com isso deixava o Tesouro mais arejado.

Mas os 39 Duques que carregam o manto da Rainha não parecem dispostos a sair da Corte e voltar à pasmaceira de onde saíram. Muito menos diminuir nem um tiquinho o número de áulicos que os servem.

Diz a Rainha (e quem dela pode discordar?) que as contas do Reino foram apresentadas com uma transparência admirável. Embora admita que seja ruim estar no vermelho, ela não gosta que digam que é uma situação desastrosa.

Outra notícia que vazou – como vazam notícias em nosso Reino, os encanamentos devem estar esburacados – é que o Duque da Fazenda estava carente do carinho da Rainha por causa das intrigas de que é alvo. Ela prontamente reuniu membros graduados da Corte para garantir a todos que o Duque de Levy está cada vez mais firme na Fazenda: “ele participou conosco de todas as etapas da construção do Orçamento e tem o respeito de todos nós”.

Prestaram atenção no verbo? Ele ‘participou’. Não é curioso? Eu acho. Como acho ainda mais curioso essa defesa veemente que andam fazendo do Duque da Fazenda. Até o Duque de Mercadante gravou um simpático elogio ao colega de quem sempre discordou. Quis nos fazer crer que a reunião da Rainha não foi de última hora, já estava marcada… Ele nem se deu conta de que desmentiu a fala do Trono.

A Rainha afirmou que não gosta da CPMF, aquele imposto infeliz que nos agride a todos… Ela diz ver defeitos nesse imposto, mas se for necessário acionar esse e outros impostos e taxas, ela o fará. Foi muito franca: não vai abrir mão de nenhuma fonte de receita! As contas precisam ser fechadas e a Rainha precisa de dinheiro para continuar a brincar de casinha.

Sempre fico com a impressão que a Rainha deste nosso Reino das Águas Turvas quando fala em problemas está sempre se posicionando como se a origem não fosse com ela. É natural, ela não pode usar o truque do padrinho: culpar a Herança Maldita.

Por falar no padrinho, o atual Rei-Pai, ele foi a Brasília hoje e conversou com a Rainha logo após a reunião pró segurança do Duque de Levy. Será que também aderiu?

Mas não é só o Trono que nos assombra. Como não falar do Príncipe de Odebrecht? Vocês acompanharam o depoimento dele à CPI da Petrobrás? Não foi um espetáculo esplêndido? Fiquei o tempo todo esperando que algum daqueles senhores que compunham a banca examinadora se ajoelhasse diante do Príncipe para beijar-lhe os pés. Faltou muito pouco. Creio que, para muitos, o Príncipe seria o herdeiro ideal do Trono, quando a infeliz ocasião da vacância ocorresse. Afinal, ele não ia precisar aumentar impostos para equilibrar o Tesouro. Ele já é o Tesouro, o que deixaria o país um brilho só.

Segunda-feira, 7 de setembro, é a nossa data máxima. Teremos parada militar na Capital e há quem nos prometa, além da Rainha em carro aberto, Dom Pixuleco Inflado abençoando o Reino das Águas Turvas.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 4/9/2015.

3 Comentários para “Daqui do Reino das Águas Turvas”

  1. Dai do Reino das Águas Turvas.

    “- A única forma de garantir a segurança hídrica da região metropolitana é investir no reuso da água. A SABESP tem uma capacidade instalada de tratar 18 mil litros por segundo, mas trata 16 mil. A Região Metropolitana produz 67 mil litros por segundo, cuja maior parte vai parar nos riachos e córregos e depois nos rios Tietê e Pinheiros”.

    Exatamente 51 mil litros de esgoto por segundo distribuídos no sistema hídrico da região metropolitana, e que depois de alguma forma vão parar nas torneiras dos consumidores. Mais: o sistema Cantareira tem 24% de mata nativa na região, e as matas ciliares que deveriam proteger os reservatórios não existem, no lugar delas existem pastagens, lavouras ou eucalipto. O Planeta está sendo assolado por ondas de calor este ano já registradas na Ásia, na Europa e na América do Sul. Mesmo no inverno – em pleno agosto – foram registradas temperaturas acima de 30 graus no Rio Grande do Sul e na Argentina por vários dias seguidos. A seca no cerrado agora está se intensificando.

    A “criticidade” do tucanato é a falácia do amanhã. É como diz a definição do Aurélio para mentiroso: que não é o que parece ser – enganoso.

  2. Por falar em reinos: era uma vez Roma, o maior reino-república-império até então. Caiu em 476 na mão dos hérulos (germânicos), depois de ter caído na mão – com dedada – dos hunos e visigodos. Seu sucessor – a Igreja Católica, uma espécie da Dilma da época – continuou oprimindo a Europa.

    Aí veio um tal de Max Weber, dizendo que a Reforma Protestante ajudou a Norte-Europa a desenvolver-se. No entanto, a Sul-Europa continuou no mesmo atraso católico – os reis de Purtugal e Hespanha esbanjando com a sua Corte. Eu, sinceramente, não espero que o Brasil contrarie esta tradição mediterrânea, do esbanjamento.

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