A política do absurdo

O desgoverno da presidente Dilma Rousseff, ápice dos 12 anos de domínio petista sobre a máquina pública, tem agido como fertilizante na produção de absurdos políticos. Tudo está ao avesso. Dentro da lama e de costas para o país.

Diante de uma impopularidade jamais experimentada, o PT aprofunda-se na esquizofrenia. Apoia e combate o seu próprio governo. Precisa agradar as bases sindicais que são contra o pacote fiscal de Dilma e, ao mesmo tempo, manter-se no poder. Até para garantir os cargos públicos dos companheiros, incluindo os sindicalistas. Depende eleitoralmente do sucesso da presidente, mas quer porque quer manter distância dela.

Síndrome psíquica semelhante acomete o PSDB, que, para aumentar o sangramento da mandatária petista, nega voto a teses que defendia até ontem.

Fez assim na votação do ajuste fiscal – princípio pelo qual o partido sempre zelou – e do fator previdenciário, criado por FHC em 1999. Os tucanos se protegem com argumentos toscos: dizem que se tivessem vencido com Aécio Neves fariam um ajuste fiscal duro, mas sem aumentar impostos. Reduziriam gastos, cortariam ministérios e cargos de confiança.

Tudo urgente e necessário, mas sabidamente insuficiente para cobrir o gigantesco rombo das contas públicas.

Enquanto PT e PSDB embaralham-se em um espesso cipoal, confundindo seus eleitores, o PMDB de Eduardo Cunha e Renan Calheiros empunha alfanjes como se fosse o único partido capaz de colocar ordem na lavoura. Ao débil governo Dilma, só oferecem vitórias seguidas por doídas e danosas derrotas.

À presidente sobra pouquíssimo espaço. Sem mando na economia, que ela desorganizou por completo, e distante da política por inapetência e inexperiência, Dilma é hoje o inverso da imagem de gerente exemplar, inigualável, durona. Encobre a incompetência com a nova silhueta e faz da dieta de sucesso assunto principal em todas as rodas.

Tendo errado feio na previsão quanto ao desempenho de sua pupila, Lula tem de se superar na prática ilusionista, da qual é mestre. Sem constrangimento algum, ele se opõe a Dilma e defende o governo dela. Em um só fôlego, livra o PT e se arvora a combatente da corrupção. Como se o mensalão e a roubalheira confessa de R$ 6 bilhões da Petrobras não tivessem sido patrocinados pelo seu partido, por gente que ele próprio nomeou.

Na política do avesso todos perdem. O país não tem tempo para o oportunismo dos contorcionistas. Nem paciência.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 17/5/2015. 

3 Comentários para “A política do absurdo”

  1. Excelente análise da conjuntura política. A atual crise política só terá fim com reformas que possibilitem a PARTICIPAÇAO da sociedade como um todo nos canais de representaçao entregues desde meuito tempo a partidos que nunca pretenderam zelar pela coisa pública. A crise economica será, como sempre, resolvida pelos trabalhadores.

  2. SOMOS NÓS

    Vocês dizem que não entendem
    Que barulho é esse que vem das ruas
    Que não sabem que voz é essa
    que caminha com pedras nas mãos
    em busca de justiça, porque não dizer, vingança.

    Dentro do castelo às custas da miséria humana
    Alega não entender a fúria que nasce dos sem causas,
    dos sem comidas e dos sem casas.
    O capitão do mato dispara com seu chicote
    A pólvora indigna dos tiranos
    Que se escondem por trás da cortina do lacrimogêneo,
    O CHICOTE ESTRALA, MAS ESSE POVO NÃO SE CALA..

    Quem grita somos nós,
    Os sem educação, os sem hospitais e sem segurança.
    Somos nós, órfãos de pátria
    Os filhos bastardos da nação.

    Somos nós, os pretos, os pobres,
    Os brancos indignados e os índios
    Cansados do cachimbo da paz.
    Essa voz que brada que atordoa seu sono
    Vem dos calos da mãos, que vão cerrando os punhos
    Até que a noite venha
    E as canções de ninar vão se tornando hinos
    Na boca suja dos revoltados.

    Tenham medo sim,
    Somos nós, os famintos,
    Os que dormem na calçadas frias,
    Os escravos dos ônibus negreiros,
    Os assalariados esmagados no trem,
    Os que na tua opinião,
    Não deviam ter nascido.

    Teu medo faz sentido,
    Em tua direção
    Vai as mães dos filhos mortos
    O pai dos filhos tortos
    Te devolverem todos os crimes
    Causados pelo descaso da sua consciência.

    Quem marcha em tua direção?

    Somos nós,
    os brasileiros
    Que nunca dormiram
    E os que estão acordando agora.

    Antes tarde do que nunca.

    E para aqueles que acharam que era nunca,
    agora é tarde.
    Sérgio Vaz

  3. “À presidente (…) na economia, que ela desorganizou por completo”

    A Zaidan seguindo a tradição do site: sem citar as causas externas da atual crise, superdimensiona o papel da política econômica interna.

    Bem, na crise dos Anos 30, não havia a esquizofrenia de 30 e poucos ministérios, nem a orgia de créditos suplementares, nem ao menos essa frescura de gastos sociais, ou algo assim. O Estado brasileiro era leve como uma pluma. E, no entanto, vários latifundiários rasparam o fundo do cofre para comprar a bala com a qual deram fim às suas vidas.

    Não tinha Dillma, nem Lulla.

    A crise atual, no geral, vem de Wall Street e da perpétua irresponsabilidade do G-7. Eles já se recuperaram, o Brasil não. Sinto Muito.

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *