A mentira como método

A tarefa da política, segundo Lula, é manter-se no poder a qualquer custo, nem que para isso seja preciso mentir descaradamente.

Há uma certo deslizamento de sentido e uma intensa deterioração ética, talvez provocada pela passagem dos séculos, entre a definição do filósofo grego e a prática do filósofo de Garanhuns.

Deixemos Aristóteles para os espíritos superiores e estudiosos da filosofia política, e vamos nos aproximar do que temos à mão para tentar entender as profundas razões éticas e políticas que permeiam a ação do nosso fenômeno de massas.

O modus operandi ético-intelectual do filósofo de Garanhuns é suficientemente conhecido para que não seja preciso desperdiçar tempo tentando mais uma vez descrevê-lo.

Esbravejar com a voz rouca do alto de um palanque ameaçando mover céus e terra para manter a divisão do Brasil entre “nós”, os bons, os caridosos, as almas puras, os igualitários, e “eles”, os elitistas impuros, egoístas, escravagistas, racistas, os que odeiam pobres viajando ao lado deles em aviões – essa é identificação primeira da “trade mark” lulista.

A partir desse carimbo, e do pensamento mágico que o envolve, tudo é possível. Uma vez estabelecida a divisão entre os bons e os maus, e fechado um exército em torno do maniqueísmo, o resto fica fácil. O eleitor brasileiro mais simplório lê com muita facilidade a cartilha do populismo: o mundo se divide entre os que querem o bem do povo e os que querem o mal do povo. Simples assim.

No conturbado cenário político brasileiro dos últimos tempos, que entrelaça uma crise política e uma crise econômica fabricadas pela fragilidade operacional e incompetência gestora do governo, o filósofo de Garanhuns salta para a ribalta sempre que a criatura política que ele inventou e colocou na presidência da República precisa de um laço firme e um braço forte.

Ele atua em duas dimensões: uma nos bastidores, onde se move com um certo segredo mas sem grande sutileza, e outro em um palco, desde que esteja cercado de sua platéia cativa, que aplaude cada palavra sua como se fosse a encarnação do Verbo Divino.

Enquanto no bastidor dizem que ele se jogou na tentativa de enlaçar Eduardo Cunha na barganha mandato x impeachment, no palco de uma reunião companheira ele chegou ao ápice da desfaçatez, confessando que Dilma cometeu, sim, crime fiscal, mas foi por uma boa causa: pagar o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.

O céu é o limite para os padrões éticos de Lula. Nunca ninguém chegou tão perto de oficializar o velho refrão populista que nasceu com o ademarismo em São Paulo e ganhou contornos profissionais com Paulo Maluf: rouba, mas faz.

No caso não se trata de roubo, trata-se de crime fiscal, mas o ingrediente  moral é o mesmo: os fins justificam os meios, um dos princípios mais sórdidos já inventados na desqualificação   e a degeneração moral da prática política.

Além de ser uma justificativa imoral, tem um componente ainda mais sórdido: é mentirosa.

Está comprovado que dos R$ 40 bilhões de pedalada fiscal, R$ 6 bilhões eram destinados ao Bolsa Família Os outros R$ 34 bilhões era dinheiro a juros subsidiados para grandes empresas escolhidas a dedo pelo governo. Uma verdadeira bolsa-empresário.

A requintada fórmula moral do PT é que não basta cometer crimes fiscais para manter-se no poder. É preciso também mentir.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 16/10/2015. 

3 Comentários para “A mentira como método”

  1. Mente bem este LULA. O povo, oh o povo, deve escolher quem mente menos, nós da oposição ou eles no governo. Quem é Cunha e quem é contra Cunha, quem é a favor das bicicletas e quem é contra ciclovias, quem pedala melhor?

  2. João Ubaldo Ribeiro, dizia que “a matéria prima humana nesse país é muito ruim”. Assim o de Garanhuns, a de MG e o 500Tinho são safras dessa terra de Santa Cruz.Vai demorar para melhorar e vai piorar antes de melhorar.

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