Vamos chamar o lixeiro

Quando a coisa aperta dá vontade de ir para a Terra do Nunca com os netos. Fechar-me na sala e ouvir música que me leve ao mais profundo da emoção estética, que me embale para encarar, pois esquecer não dá, a barra pesada que nos envolve nesses momentos de violência, radicalismo e ausência de pensamento lúcido e lógico.

Eu sou um homem comum e a maioria dos brasileiros também é. Queremos tranquilidade para levar a nossa vida em paz. Inventamos amigos, criamos família, trabalhamos, estudamos e não  desejamos nada que não seja a serenidade para desfrutar de nossa humanidade. Não merecemos a insegurança que nos aflige a todo momento, em qualquer lugar em que estivermos.

A rua é nossa e não pode virar praça de guerra e morte. A rua é o espaço democrático do encontro. Extensão de nossa casa e essa tem de ser inviolável. Suas portas, é nosso direito, só se abrem para as pessoas de nosso afeto. Cada um de nós faz a sua parte para que o país ande e todos devem ser respeitados. A casa, a família e a rua são dos cidadãos e a contrapartida necessária nem sempre nos é dada. Saúde, educação, segurança e transporte são essenciais para uma vida digna.

Eu sei que não é só aqui, mas no Brasil a política está um lixo. Precisamos de idéias e ação, mas nossos representantes não estão à altura de nossos anseios, só pensam em manter poder e dinheiro. Dizem  uns que têm uma ideologia que fará a todos iguais e felizes, mas a prática contraria todo esse discurso. Liberdade, fraternidade e democracia não os comovem.

A máscara da preocupação social esconde o rosto de amantes de ditaduras. Outros não ocultam seus mesquinhos interesses patrimoniais, sua determinação em manter sua situação social, política e econômica.

E quando os dois tipos de políticos se juntam em aliança não há nada que os segure. O que fazer? Tocar um tango argentino ou visitar o Peter Pan?

A voz dos brasileiros tem de se levantar, reivindicar, reclamar, procurar os corações semelhantes. Temos de nos indignar, acender a ira santa e pacífica que não mata por ser livre e democrática. Não queremos nenhuma revolução. Não é mais possível que a população não se sinta representada por nenhum poder e, quando a injustiça lhe cai na cabeça, desorientada, busque na raiva destrutiva o consolo para seu desconforto.

Qual foi a última vez em que você ouviu um discurso sensato sobre como resolver, de forma prática e eficaz, os reais problemas brasileiros? Ninguém se lembra, naturalmente. Só idéias lixo.

Na Copa, torcer pelo Brasil. Nas eleições de outubro, também. E vamos chamar o lixeiro.

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em fevereiro de 2014, 

3 Comentários para “Vamos chamar o lixeiro”

  1. Vamos torcer pelo Brasil. Precisamos deixar de sonhar e fazer nosso viver com nossos braços.

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