Tanto riso

O PMDB só dá alegrias à presidente, ela disse, mas ela não se atreveu a fazer as contas e confessar como essas alegrias saem caro.

Por enquanto, a Câmara, por 267 a 28, decidiu convocar e/ou convidar 10 ministros para prestar esclarecimentos sobre assuntos ligados às suas pastas.

Como disse o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, um dos convocados, trata-se de um evento normal da democracia, e ninguém deveria se espantar ou se preocupar com isso.

E seria mesmo um evento normal numa democracia normal onde as relações entre os 3 poderes fossem normais.

O plenário comemorou a goleada sobre o PT com aquelas fotos clássicas de momentos históricos do Congresso, como quando foi aprovada a licença para processar o então presidente Collor, o que o levou à renúncia: braços erguidos, como as comemorações de gol em estádios.

Um amigo jornalista, íntimo das peculiaridades do jogo, político e dos seus atores, definiu o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, como um cínico imperturbável , “um inseto que mata o elefante”, e atribui a ele o poder de “equilibrar o ecossistema político”.

Cunha, segundo essa descrição, “é impermeável, não move um músculo facial, a não ser para um esgar irônico quando ouve as duas consoantes… PT”.

Além da convocação dos 10 ministros, os deputados em rebelião podem provocar outros estragos na frente governista, como derrubar o projeto de Marco Civil da Internet, aprovar uma CPI para investigar a Petrobrás e até derrubar o veto da presidente Dilma ao projeto de criação de até 269 novos municípios, que tem o potencial de provocar um rombo de até R$ 9 bilhões nas contas públicas.

O PMDB demonstrou a força que tem dentro da Câmara ao capitanear a rebelião da base aliada, e exibiu seu enorme poder de barganha — ou se preferirem de chantagem — que tem em relação ao governo e seu partido.

O vice-presidente Michel Temer, com seu brando perfil de mordomo, embora tendo recorrido ao seu interminável estoque de panos quentes, sentiu-se obrigado a declarar sua fidelidade ao partido e dizer que obedecerá à sua decisão, mesmo que ela seja a de não apoiar a reeleição de Dilma.

É evidente que Temer dificilmente diria isso se a possibilidade de o PMDB não apoiar Dilma existisse de verdade.

Os outros candidatos à presidência tentam beliscar algumas migalhas da força do PMDB aproveitando-se da deterioração dos laços de fidelidade entre os aliados, resultado do choque entre um misto de voracidade do ex-partido de Ulysses e da soberba do governo, que não tem sido tão generoso na partilha quanto o parceiro acha que merece.

Tudo indica que as coisas se arranjarão, como sempre se arranjaram entre aliados do poder, com alguns afagos aqui e ali, mas com menos riso e menos alegria no salão do que a presidente gostaria.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 14/3/2014. 

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