Os eleitores voltaram às ruas

Uma eleição marcada pelo imponderável. Da fatalidade que tirou a vida de Eduardo Campos à ascensão e queda de Marina Silva, golpeada com sordidez pela campanha petista. Da reviravolta no primeiro turno; do sobe-e-desce das pesquisas de opinião ao empate que impede qualquer grito de vitória antecipada.

Nas redes sociais, foi a eleição da guerrilha, dos exércitos de perfis falsos se digladiando dia e noite. A eleição do selfie e do WhatsApp.

Uma disputa que manteve a escrita da imprevisibilidade até a reta final, quando, surpreendentemente, o eleitor usou o mundo virtual para tomar as ruas.

Embalada pelo antipetismo, a campanha de Aécio Neves conseguiu fazer o que os tucanos sempre tiveram dificuldade: juntar multidões. Captou e soube responder aos que querem encerrar os 12 anos de PT. Falou com tom e voz de oposição, quebrando o comedimento do PSDB nessa seara.

Dilma Rousseff, que nunca teve intimidade com as ruas, ganhou um pouco mais de ginga com as frases de efeito que aprendeu.

Ainda que tenha precisado lançar mão de claque paga, como fez em Petrolina, com 99 ônibus custeados por uma ONG que recebe recursos do governo, a campanha petista apostou em comícios.

E, se no primeiro turno escondeu a estrela e o vermelho, foi perdendo o medo de expô-los. Até a candidata, que nos primeiros debates aparecera de azul ou branco, reassumiu o rubro no último embate, na TV Globo.

Espontaneamente, o PT não conseguiu a abundância de gente nas ruas que já teve no passado. Divorciou-se paulatinamente delas quando chegou ao Planalto. Assustou-se com isso quando foi preterido pelos manifestantes de junho do ano passado, e continuou a ver um público que já fora cativo minguar.

Com o ex Lula à frente, reuniu três mil pessoas no centro de São Paulo na sexta-feira. Sem ele, cerca de 300 no sábado, quando o movimento pró-Aécio juntou mais de cinco mil na Avenida Paulista. E quem diria: com o ex Fernando Henrique Cardoso, 10 mil foram ao Largo do Batata, Zona Oeste da cidade, na quarta-feira.

Mesmo que não possam indicar qual candidato vencerá hoje, as ruas são um termômetro que político algum pode desprezar.

Vitoriosos ou derrotados, Dilma e o PT terão de rever a fundo os métodos praticados até aqui. Isso inclui mea culpas e explicações nunca dadas em casos de corrupção que sangraram o patrimônio do partido.

Vitoriosos, a Aécio e ao PSDB caberá a tarefa imediata de unir um país dividido pelo “nós x eles” imposto pelo petismo. No caso de reeleição da presidente têm a obrigação de assumir com mais afinco o campo de oposição.

Nas ruas e nas urnas, o povo é soberano.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 26/10/2014. 

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