O papel de Dilma

Petrobrás, Correios, IBGE. Maltratadas pela ingerência do governo, instituições que até pouco tempo eram sinônimos de orgulho, confiança e credibilidade, foram postas na berlinda. Roubadas, abusadas e desrespeitadas, elas sofrem as consequências do perverso modus operandi do PT que, em seu benefício, se apossa do patrimônio do país.

Vítima de contratos escandalosos de bilhares de dólares, a maior estatal brasileira agoniza desde que vieram à tona as esquisitices da compra da refinaria de Pasadena (EUA) e o superfaturamento das obras de Abreu e Lima. Agora, com o ex-diretor Paulo Roberto Costa entregando operadores e políticos envolvidos na roubalheira, a petroleira está no olho do furacão.

Hoje, a mesma Petrobrás que o ex Lula usou para derrotar os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, deixa o governo e aliados com nervos à flor da pele. Causa arrepios na campanha petista e tira do eixo a candidata-presidente Dilma Rousseff.

Na sexta-feira, acossada pelos jornalistas sobre o tema, ela lançou-se ao desvario: “O papel da imprensa não é o de investigar e sim divulgar informações”. Uma frase para enrubescer até a mais dedicada imprensa chapa branca.

Os Correios, serviço respeitadíssimo desde o Primeiro Império, devem estar cansados de tanto abuso. Depois de ser o embrião do mensalão, é flagrado agora praticando gentilezas ao postar 4,8 milhões de panfletos de Dilma sem a chancela obrigatória.

Ainda que a remessa tenha sido paga pela campanha, Dilma tergiversa ao insistir nesse argumento. Sabe, mas faz de conta que não, que o cerne da questão não é o pagamento, mas a excepcionalidade conferida.

O governo pode se lixar para os Correios, mas os carteiros, não. Indignados com a regalia, foram eles os denunciantes.

O octogenário IBGE, que há poucos meses perdeu diretores-pesquisadores depois da tentativa petista de adiar a divulgação do Pnad trimestral, enredou-se em novo vendaval: erros graves na síntese anual de 2013. O Instituto acertou ao corrigir e admitir o erro, mas arranhou a sua credibilidade.

Embora faça fita de que quer investigar o caso, o governo não tem demonstrado qualquer interesse na excelência do IBGE. Vem, sistematicamente, cortando verbas do Instituto, impedindo pesquisas. Aconteceu em 2005, quando o corte adiou para 2007 a contagem da população. E, novamente, no orçamento enviado ao Congresso para 2015.

Em vez do papelão de ditar ridículas regras para o exercício do jornalismo, Dilma deveria centrar-se no papel do presidente da República, que é eleito para governar e não para usar e abusar do Estado em nome de um projeto de poder.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 21/9/2014. 

2 Comentários para “O papel de Dilma”

  1. IBGE, MÍDIA, EDUCAÇÃO.

    Assim como um aluno da escola pública da periferia tem grande dificuldade para elaborar um texto compreensível ou para compreender um texto de relativa complexidade, boa parte dos brasileiros com muitos anos de escolaridade sofre de um grave bloqueio na hora de ler a realidade nacional. Entre esses analfabetos funcionais pode-se alinhar um enorme contingente de jornalistas, muitos deles assentados em cargos de responsabilidade nas redações ou agraciados com espaços generosos nos principais meios de comunicação.

    O típico estudante da periferia tem dificuldade para compreender um texto de geografia, tanto quanto um assinante de jornal tem dificuldade para fazer a leitura crítica do texto jornalístico. As duas deficiências têm origens diferentes, mas produzem um fenômeno comum de má educação: o analfabeto funcional que não sabe interpretar um texto e uma elite que se nega a conhecer a realidade. Num caso, falta vocabulário; no outro, sobram preconceitos.

    A mídia tradicional deseduca um e outro com sua pauta de futilidades, seu conservadorismo e seu viés reacionário.
    A educação precisa ser vista como uma das funções da comunicação. Trata-se de capacitar os indivíduos para que construam um pensamento da realidade o mais próximo possível da natureza da realidade. Nesse sentido, deve-se fazer com que a tarefa de educar seja ampliada do ambiente escolar para toda a sociedade, e a imprensa deveria ter um papel fundamental nessa missão.

    Mas imprensa não pode educar se ela não tem educação.

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