O mistério do sofá

Nem Freud explica o sofá.  É verdade que o negócio dele era divã. Mas a moderna psicanálise poderia pelo menos nos dizer por que mulheres gostam tanto de sofá.

A minha começou a falar nele desde que compramos o apartamento novo. Logo vieram reforços, a filha e a irmã (dela, no que me toca, cunhada). Pipocaram trocas de mensagens em nossos e-mails, com anúncios colhidos na internet. O que se vê? A mesma peça da época que o Mappin revolucionou as vendas com a criação do crediário.

Para escapar da mesmice, eu mesmo fiz um sofá, quando mudamos para nossa primeira casa, há muitos anos. Móvel simples, estrutura branca de madeira, almofadas por cima. Não ficou mal…

Agora, sem Mappin, tentei escapar das Casas Bahia. Comecei pela cunhada. “Tive umas idéias aí…” Ela: “Ai, meu pai”. Testei a filha. “Achei o croqui do sofá que fiz na outra casa.”  Não vi a expressão, porque estávamos no telefone. Só ouvi “Jesus!”.

Finalmente cheguei na líder das ativistas. “E se a gente espalhasse umas cadeiras, assim, diferentes?” Só olhou feio. Eu havia recolhido um pedaço de caibro caído no quintal. Bati o pau na mesa. “Quer saber, vou morar em um estúdio e fazer eu mesmo todos os móveis. Só criação ex-clu-si-va. Me recuso a sentar em um apanágio da mesmice.”

Ontem, no shopping, achei o que ela escolheu até confortável. Pelo menos, mais macio do que aquele que eu fiz. Agora, estou esperando o casal convidado entrar na sala, e a mulher virar para o marido: “Olha, bem. Igual ao que nós vimos no shopping.”

(Caso verídico, com pequenos exageros.)

Setembro de 2014

10 Comentários para “O mistério do sofá”

  1. Sofás só perdem para os sapatos na misteriosa escala de valores das mulheres, Valdir. Pior é a minha, que, por ser psicóloga, entende de sofás e de divãs. Dia desses, ela me levou para uma peregrinação pelas lojas, atrás de uma tal poltrona-cama. É para o nosso apartamento em Maceió, que vai receber 13 pessoas, na virada do ano. A única dificuldade, além do preço, é que ela gostou de um modelo que estava à venda num shopping de Brasília. Talvez porque, com a cabeceira levantada, a tal “poltrona-cama reclinável e sem braços” tenha o exato formato de um freudiano divã. Encantada, ela me olhou com uma expressão indagativa. Desesperado, balbuciei alguma coisa sobre o preço do frete para tão longe. Ela apelou então para os olhos de ressaca. Por experiência, eu previ que a luta seria fraticida. No segundo round, sugeri um modelo mais baratinho, que tinhamos visto antes em Maceió. Tive imediatamente uma demonstração do arsenal que uma esposa contrariada tem para destruir a reputação e a auto-estima de um marido no campo da decoração de interiores. Nem o PT seria tão impiedoso com seus adversários. E veja que eu nem de longe ousei falar em fabricar um sofá com as próprias mãos, intrépido Valdir. O que fiz foi passar alguns dias enrolando e estudando uma estratégia de contra-ataque, à espera de um milagre. No início de setembro, viajamos para Maceió, onde descobri que botafoguenses também têm sorte: encontramos a mesmíssima loja careira num recém-inaugurado shopping, irmão gêmeo do de Brasília. Entramos e demos de cara com a poltrona-cama. Só que ela acabou me convencendo a comprar duas

  2. Luiz Carlos, gostei da pertinência de sua mulher em perseguir poltronas diferenciadas para atender bem as visitas. Duas, claro. Você queria o que, um sofá cama? Jesus!
    Outra possibilidade seria você hospedar os treze convidados no Jatiúca…
    Excelente texto, como sempre. Abraço.

  3. Solidário com tudo e com todos. Pior é que nada da casa anterior cabe ou se acomoda na casa nova. O sofás, mesas, cadeiras, estantes, tudo, tudo mesmo se transforma em “suportes físicos” apenas.
    Impressionante como as mulheres desapegam!

  4. Por precaução, nunca dê esse tipo de idéia para minha mulher, Valdir. Ao contrário do Sérgio Vaz, não tenho bala na agulha para frequentar o Jatiúca Resort. Ainda bem que os treze são eu e minha mulher, um cunhado e a esposa, filhos com respectivos conjuges e uma penca de netinhas. Se faltar espaço, vou botar alguém para dormir na rede da varanda. O cunhado está na frente nas pesquisas.

  5. É claro que aprecio um sofá. Qual o lugar que mais fico quando vou à São Paulo? Sentadinha nele para assistir os filmes deliciosos que meu genrinho me oferece.kakaka, até o dia 15.

  6. Ô meu Deus do céu e também da terra! Quem vê essa mensagem do Luiz Carlos fica achando que eu fico me achando!
    Estive no Jatiúca para três micro temporadas, se não estou enganado. Uma delas foi numa época em que eu ganhava bem. Uma outra foi numa época em que a Mary estava ganhando bem. A outra já foi gastando graninha da suada poupança. Mas valeu a pena, todas as vezes!
    E, sim, Dona Lúcia, meu sofá (velhinho, puído, precisando de forro novo) a espera!
    Abraços!
    Sérgio

  7. Sonhos de consumo da nova classe média lulista. Um sofá cama e uns dias na Jatiúca.

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *