O IBGE resiste

Taxa de desemprego de 5%. Ainda que não seja a menor do mundo, como Dilma Rousseff gosta de se vangloriar, é um número e tanto para os palanques do 1º de Maio e da reeleição. Mas bastaram dois pontos percentuais para despertar a ira.

Sem medir consequências, seu governo escolheu suspender a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, responsável pelo par de dígitos a mais. De uma só tacada, acertou em tudo o que não devia: desrespeitou o quase octogenário IBGE e ofuscou, sem caminho de volta, o que poderia ser uma de suas poucas estrelas brilhantes.

Discutida desde 2007, conforme informa o site do IBGE, a Pnad Contínua é uma pesquisa ampla – com 211 mil domicílios em 3.500 cidades – e mais próxima das diretrizes da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Foi pensada para substituir, até o final de 2015, a Pnad Anual (147 mil entrevistas em 1.100 municípios) e a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), feita em 44 mil residências de seis regiões metropolitanas.

Se os 5,4 % apurados em 2013 pela PME já ficam longe do discurso oficial de ter a menor taxa do mundo – entre os emergentes o Brasil perde para China com 4,6% e Índia com 3,8%; também fica atrás do México, com 4,6% -, os 7,1% da Pnad Contínua descabelaram o governo: superam os 5,8% da Rússia e a média da América Latina, de 6,5%.

Foi uma bobagem monumental. Não tivesse se metido nessa barafunda, os números de maio até poderiam ser melhores do que da última amostragem trimestral. E ninguém misturaria alhos e bugalhos, assim como não se compara a PME do IBGE com os dados do Dieese/Seade, sempre superiores, hoje acima de 10%.

Enroscada na sua própria trama, Dilma ainda sofrerá o desgaste de ações do Ministério Público que começam a pipocar para garantir a divulgação da pesquisa.

Outra consequência desastrosa para o governo foi a de contaminar a mágica taxa de 5%. Notícias sobre os parâmetros do índice, em especial o fato de ele não incluir a geração nem-nem – 19,6% dos jovens de até 29 anos que nem trabalham nem estudam – como desocupados, saíram do seleto grupo de analistas econômicos e ganharam o rádio e a TV. Populariza-se também o despreparo do trabalhador brasileiro para ocupar postos mais qualificados, escancarando a precariedade da educação, do básico ao superior.

Nefasta em todos os sentidos, a intromissão do governo já golpeou a credibilidade do Instituto de Pesquisas Avançadas (Ipea), tão servil que mantém uma inexplicável sucursal na Venezuela.

Não há como evitar a proliferação de pulgas por detrás das orelhas quanto à intervenção em todo e qualquer índice quando esses não forem de agrado do governo.

O IBGE resiste. E o Brasil agradece.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 27/4/2014.

2 Comentários para “O IBGE resiste”

  1. Indices e rankings, a Dilma vai de mal a pior. A oposição está fazendo tudo para o volta Lula. Já exite até fogo amigo. Minhas pesquisas, boca a boca, com o pessoal da periferia, dá LUla fácil, Dilma não sei não.

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