Más notícias do país de Dilma (150)

A presidente Dilma Rousseff e seu governo mentem como Pinóquio e são teimosos feito uma mula.

Além disso, esbanjam autoconfiança – mais do que seria aconselhável. Fica parecendo que consideram que todos os demais brasileiros são idiotas.

Tivemos novas e fartas comprovações disso nos últimos dias.

Na segunda-feira, dia 18, ao vivo diante de uns 30 milhões de brasileiros, Dilma contou umas mentiras. Disse, por exemplo, que foi o governo petista que criou a Corregedoria-Geral da União. É mentira, como qualquer pesquisa no Google revela, como foi amplamente divulgado logo depois da reveladora entrevista da presidente ao Jornal Nacional. Corregedoria-Geral da União é o novo nome da Controladoria-Geral da União, criada a partir da Medida Provisória (MP) n.º 2.143/2001, editada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

O Estadão foi contundente em seu editorial sobre a fantástica entrevista da presidente:

“Nunca antes nos 3 anos, 7 meses e 18 dias de Dilma Rousseff no Planalto o público tinha tido a oportunidade de ver o que subordinados da ‘gerentona’ conhecem por humilhante experiência própria: a chefe à beira de um ataque de nervos. Com a diferença de que, no seu gabinete, ela se sente literalmente em casa para descarregar a ira com as presumíveis dificuldades da equipe em captar o seu pensamento – o que, tendo em vista as peculiares circunvoluções de sua forma de expressão, se explica plenamente.”

E o editorial prosseguiu: “Quando o assunto passou a ser a economia, diante dos números amargos, de conhecimento público, sobre a inflação e o PIB, saiu-se com um ‘não sei da onde que estão (sic) seus dados’.

Os dados apresentados pelos jornalistas William Bonner e Patrícia Poeta são, como diz o Estadão, de conhecimento público. Mas aí Dilma, bem instruída nas sessões de midia training pelos seus marqueteiros (andaram falando que ela estava com ponto no ouvido, mas isso não foi comprovado), saiu-se com os indicadores antecedentes. O marqueteiro que teve a idéia deve se achar genial. Pronto: a presidente fala em indicadores antecedentes, ninguém vai entender nada mesmo, e todo mundo vai achar que ela é um portento, um gênio da economia.

Segundo os indicadores antecedentes, ô Bonner –, disse ela, com ar fatigado, de profundo enfado, de quem é obrigado a falar sobre coisas superiores, que o interlocutor não entende –, está tudo bem na economia, tudo está melhorando no segundo semestre.

Aí, das duas uma: ou ela mentiu de novo, na cara de pau, ou ela é mal informada.

“Quatro indicadores antecedentes do ritmo da economia, três deles citados pela presidente Dilma Rousseff na segunda-feira, 18, em entrevista ao Jornal Nacional, tiveram, uma melhora no desempenho de junho para julho, depois do tombo registrado de maio para junho. Apesar da reação favorável na comparação que tira o efeito sazonal, típico destes meses, a virada dos resultados não pode ser encarada como mudança de tendência, conforme ressaltado por Dilma na entrevista”, esclareceu Márcia De Chiara no Estadão.

Também no Estadão, Marco Antônio Rocha cravou a estaca no coração da mentira (ou da falta de informação) da presidente:

“Nos relatórios das entidades de classe, nas pesquisas de opinião da indústria, do comércio e até dos corretores de imóveis – pessoas bem informadas sobre os índices antecedentes – as expectativas variam entre fracas, ruins e péssimas. Todas formando uma nuvem de pessimismo, ou de otimismo, tão, mas tão moderado que a própria presidente, nos auditórios onde se encontra com estes reais carregadores do andor da economia, fala contra o pessimismo (a seu ver injustificado) que atribui aos adversários e exorta os ouvintes a se animar, a trabalhar mais, a confiar e, principalmente, a investir.”

***

Um governo teimoso como uma mula. Quando empaca, empaca mesmo, não sai do lugar.

Há quatro anos o governo confia no incentivo ao consumo interno para garantir o crescimento da economia. Há quatro anos não dá certo. O PIB recusa-se a crescer – responde à teimosia do governo com a teimosia de outra mula. Há quatro anos o governo insiste, não desiste. Nesta quarta, dia 20, lançou mais um pacote de medidas para elevar o crédito e incentivar o consumo. Não vi nos jornais que número é o pacote desta semana – provavelmente os analistas econômicos dos jornais já perderam a conta.

Mas os analistas, é claro, já nos jornais de quinta, dia 21, mostravam que a) medidas para elevar o crédito e incentivar o consumo da maneira como foram anunciadas são inflacionárias, ajudam na pressão pela alta de preços; b) a iniciativa é no mínimo uma contradição com a ação do Banco Central para tentar deter a escalada da inflação via aumento dos juros; c) os consumidores já estão atolados em dívidas, temem pelo que virá na economia nos próximos meses, não estão muito interessados em contrair novas dívidas.

O jornalista Celso Ming sintetizou no Estadão: “O baixo fôlego das decisões de ontem (20/8) mostra que o arsenal de resposta do governo à paradeira está esgotado. Ficaram para trás os tempos em que o Tesouro tinha farta munição para as tais políticas compensatórias anticíclicas. E o brasileiro parece suficientemente esperto para deixar-se levar apenas pela conversa enroladora das nossas autoridades.”

E, no Globo, Álvaro Gabriel e Marcelo Loureiro escreveram:“A medida é contraditória no combate à inflação, que permanece no teto da meta, em 6,5%, pelo último dado do IPCA, de julho. Também dificulta a formação de poupança bruta da economia, que caiu para o nível mais baixo dos últimos 15 anos, para apenas 12,7% do PIB no primeiro trimestre. Sem poupança, não há como financiar investimentos. Nunca é demais lembrar que a inflação ainda não viu o centro da meta sob a gestão da atual diretoria do Banco Central – a última vez foi agosto de 2010 – e não há previsão da autoridade monetária sobre quando o índice voltará para 4,5%.”

No dia seguinte ao do anúncio do novo (17º? 18º? 33º) pacotinho pró aumento de consumo do professor Guido Mantega, a Serasa informou que há hoje no país 57 milhões de inadimplentes.

São teimosos, os luminares do governo. Que nem uma mula.

Ah, sim, e há a informação de que, dias após a presidente se defender da melecada da refinaria de Pasadena jogando a culpa em relatório de diretor da Petrobrás, Graça Foster e o tal diretor, Nestor Cerveró, já prevendo que podia dar mais meleca, doaram três imóveis cada um para parentes.

São autoconfiantes demais da conta, os luminares do governo. Eles acham que ninguém vai descobrir suas espertezas.

Aí vai a 150ª compilação semanal de notícias e análises que comprovam os malefícios e a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial. Foram publicadas entre os dias 15 e 21 de agosto.

A presidente no Jornal Nacional: é fantástico!

* Dilma vê melhorias na economia que ninguém mais vê

“É praxe, em qualquer governo brasileiro, o ministro da Fazenda ser o mais otimista funcionário do primeiro escalão, só superado pelo presidente da República. Mas, se este tenta a reeleição, torna-se imbatível nas projeções positivas para a população. A candidata Dilma Rousseff, na entrevista de terça à bancada do Jornal Nacional, não fugiu ao modelo.

“Repetiu o conhecido discurso do Brasil vítima da crise mundial — já em boa parte debelada, principalmente nos EUA — e anteviu melhorias neste segundo semestre. Em um ponto, a inflação, a candidata petista à reeleição tem argumentos consistentes a seu favor: o IPCA perde impulso nos alimentos e pela retração de preços e tarifas devido ao fim da Copa. Por isso, o índice de julho chegou a quase zero: 0,01%, forçando a inflação anualizada a voltar ao teto da meta, de 6,5%, depois de chegar, em junho, a estourá-la, com 6,52%.

“Mas projetar esta fase de inflação baixa para 12 meses à frente será tão irreal quanto qualquer operação de ‘contabilidade criativa’. O bom momento da inflação leva a que os analistas de mercado, cujas projeções constam do relatório Focus, do Banco Central, reduzam estimativas do IPCA deste ano, mas nada que se aproxime da meta de 4,5%. A última projeção é de 6,19%.

“O atraso em atualizações de tarifas como de energia elétrica e preços de combustíveis, por razões óbvias empurradas para depois de outubro, impede expectativas melhores para a inflação até dezembro. Sem falar dos gastos sem freio.

“Em termos de crescimento, os cenários também não são animadores. A ponto de, a depender do PIB do terceiro trimestre e de uma possível revisão, pelo IBGE, do resultado do primeiro, o Brasil poder ser tecnicamente declarado em recessão. Para isso, bastam dois trimestres seguidos de quedas na produção. Há várias explicações para a aparente contradição entre uma economia em desaquecimento e um mercado de trabalho com taxas de desemprego na faixa dos 4%, em virtual pleno-emprego, as mais baixas desde que se calculam estes indicadores.

“Os custos da demissão e as dificuldades, no caso da indústria, de conseguir mão de obra qualificada fazem as empresas evitar ao máximo reduzir a folha de salários. Mas há limites. Alcançados por setores industriais, entre eles o automobilístico.

“Em situação de ‘lay-off’ — contrato de trabalho suspenso, salário reduzido e pago pelo FAT por cinco meses —, entraram 11.918 trabalhadores, de janeiro a julho, o segundo contingente mais elevado desde idêntico período de 2009, quando o Brasil recebeu o primeiro grande impacto da crise mundial.

“Dois ingredientes contribuem para complicar esta conjuntura: o alto endividamento das famílias e a baixa confiança do empresariado, causas de comércio fraco e investimentos anêmicos — como têm estado há algum tempo.

“O tempo parece reduzir o espaço de manobra da presidente e candidata.” (Editorial, O Globo, 20/8/2014.)

* A TV mostra, pela primeira vez, a presidente à beira de um ataque de nervos

“Nunca antes nos 3 anos, 7 meses e 18 dias de Dilma Rousseff no Planalto o público tinha tido a oportunidade de ver o que subordinados da ‘gerentona’ conhecem por humilhante experiência própria: a chefe à beira de um ataque de nervos. Com a diferença de que, no seu gabinete, ela se sente literalmente em casa para descarregar a ira com as presumíveis dificuldades da equipe em captar o seu pensamento – o que, tendo em vista as peculiares circunvoluções de sua forma de expressão, se explica plenamente.

“‘Não há no inferno’, escreveu Shakespeare, ‘fúria comparável à de uma mulher rejeitada.’ Ou de uma Dilma Rousseff contrariada – e sem poder pôr no devido lugar o responsável real ou imaginário pela afronta. Foi o que a audiência do Jornal Nacional (JN) da segunda-feira descobriu ao acompanhar a entrevista dos apresentadores William Bonner e Patrícia Poeta com a candidata à reeleição. Ela foi a terceira a ser arguida na série de sabatinas de 15 minutos com os principais aspirantes à Presidência, iniciada com o tucano Aécio Neves, a quem se seguiu o ex-governador Eduardo Campos, na véspera de sua trágica morte. (Quando a sua candidatura tiver sido formalizada, também Marina Silva será convidada.)

“Por ser presidente, Dilma teve o privilégio de receber os jornalistas na residência oficial do Alvorada, à frente de estantes de livros encadernados e cuidadosamente dispostos, sem sinal de manuseio, um cenário escolhido para denotar solenidade, elevação e a nobreza da função presidencial. Nada que ver com o ambiente do JN, nos estúdios da Rede Globo, no Rio de Janeiro, em que os donos da situação, como Aécio e Campos sentiram na pele, são os âncoras do principal noticioso da TV brasileira, infundindo, nas suas perguntas, contundência e conhecimento de causa à altura dos seus implacáveis colegas britânicos – a referência mundial no gênero.

“Mas logo na resposta ao primeiro disparo de Bonner sobre uma das duvidosas distinções do governo – as denúncias de casos de corrupção em sete ministérios – ficou claro o desamparo da presidente. Faltava-lhe o ponto no ouvido pelo qual o seu marqueteiro João Santana poderia conduzi-la, se não a terra firme, ao menos para longe do vórtice. Pior ainda, faltava-lhe o conforto das gravações irrepreensivelmente produzidas que confeccionam uma imaginária Dilma estadista. Com o misto de irritação e impaciência que denotaria durante toda a entrevista, ela desandou a juntar frases e mais frases que tinham em comum a extensão, a desconexão e a pretensão.

“Para mostrar superioridade ética, por exemplo, disse que os governos petistas não têm um ‘engavetador-geral da República’, como, segundo a oposição, teria sido o titular do Ministério Público Federal nos anos Fernando Henrique. E reivindicou, para ‘nós’, a criação da Controladoria-Geral da União. Na realidade, Lula pouco mais fez do que mudar o nome do órgão fiscalizador do Executivo (Corregedoria-Geral da União) instituído pelo tucano em 2001 e fortalecido no ano seguinte com a absorção da Secretaria Federal de Controle, antes vinculada ao Ministério da Fazenda. Em dado momento, tentando cortar o interminável palavrório da candidata, o entrevistador recebeu uma dose de Dilma em estado puro: ‘Então, continuando o que eu estava dizendo…’.

“Fez-se de desentendida quando Bonner lhe perguntou o que achava de o PT tratar como vítimas os companheiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão. Pelo menos três vezes ela repetiu que, como presidente, ‘não julgo ações do Supremo’, por mais que o jornalista reiterasse que o objeto da pergunta era a conduta de seu partido, não o veredicto do Tribunal. A esta altura, Dilma parecia prestes a explodir. Quando o assunto passou a ser a economia, diante dos números amargos, de conhecimento público, sobre a inflação e o PIB, saiu-se com um ‘não sei da onde que estão (sic) seus dados’. O tempo do programa estourou depois de quatro perguntas apenas e Dilma precisou ser interrompida quando pedia ‘o voto dos telespectadores’.

“Terminado o sufoco, a presidente tomou uma decisão prudente, embora apequenadora: cancelou a entrevista que daria em seguida à Globo News.” (Editorial, Estadão, 20/8/2014.)

* Dilma afirmou que os indicadores antecedentes mostram que a economia melhora. Dilma faltou com a verdade

“Quatro indicadores antecedentes do ritmo da economia, três deles citados pela presidente Dilma Rousseff na segunda-feira, 18, em entrevista ao Jornal Nacional, tiveram, uma melhora no desempenho de junho para julho, depois do tombo registrado de maio para junho.

Indicadores antecedentes são dados setoriais que antecipam as principais tendências da economia.

“Apesar da reação favorável na comparação que tira o efeito sazonal, típico destes meses, a virada dos resultados não pode ser encarada como mudança de tendência, conforme ressaltado por Dilma na entrevista.

“De junho para julho, as vendas de papelão ondulado usadas como embalagens pela indústria cresceram 5,4%, depois de terem caído 3,3% em maio e fechado o primeiro semestre com retração de 0,23%, segundo cálculos dessazonalizados da consultoria Tendências.

“No caso de veículos, o tombo foi ligeiramente menor. A produção tinha caído 17,1% de maio para junho e recuou 16,8% no último mês. Mas fechou o semestre com alta de 10,3%.

“O consumo industrial de energia elétrica e o fluxo de veículos pesados nas rodovias aumentaram 1% e 3,2% respectivamente de junho para julho. De maio para junho, o consumo de energia tinha caído 1,4% e o fluxo de caminhões caiu 4,4%. O primeiro semestre fechou com queda de 1,6% no fluxo de caminhões e alta de 5,3% no consumo de energia em relação ao mesmo período de 2013.

“‘Os dados preliminares dos indicadores antecedentes melhoraram, mas ainda é cedo para falar em reversão de tendência da atividade’, diz o economista da consultoria, Rafael Bacciotti.

“De toda forma, com base nesses indicadores antecedentes, Bacciotti projeta crescimento de 0,6% na produção industrial de junho para julho, ante queda de 1,4% de maio para junho. No ano, no entanto, a perspectiva é que a indústria recue 2%.

“Um dos fatores apontados por Bacciotti para sustentar essa avaliação cautelosa é a base baixa de comparação, que foi o mês de junho. Por causa da Copa do Mundo, houve muitos feriados, o que fez a produção da indústria despencar.

“Por isso, ficou mais fácil crescer no mês seguinte. Além disso, ele diz que a confiança dos empresários e dos consumidores está num nível muito baixo, o que pesa negativamente na recuperação da atividade.

“Foi exatamente isso que constatou um estudo feito pela Fundação Getulio Vargas, a pedido da Associação Brasileira de Embalagem, para radiografar o setor, que engloba não só embalagem de papelão, mas de plástico, metal, vidro e madeira.

“De janeiro a junho, a produção física de embalagens caiu 0,73% em relação ao primeiro semestre de 2013 e, na melhor das hipóteses, poderá fechar 2014 no empate.

“‘É mais provável que o número seja negativo’, afirma Salomão Quadros, da FGV, que coordenou o estudo. Ele calcula que a retração no ano pode chegar a 0,7%, depois da alta de 1,2% em 2013. Em janeiro, o cenário era de crescimento de 1,5% para 2014.

“Um sinal de alerta que reforça o enfraquecimento do setor, que é termômetro da atividade econômica, é a perda de fôlego do emprego, que cresceu só 0,31% no primeiro semestre na comparação anual, após registrar altas na casa de 2% em 2013, frisa Quadros.

“Além dos indicadores antecedentes, Dilma citou o arrefecimento da inflação como sinal favorável da economia. Em julho, a inflação oficial ficou em 0,01%.

“Adriana Molinari, da Tendências, que projeta um IPCA de 0,27% para este mês e uma média mensal de 0,40% até o fim do ano, diz que a inflação arrefeceu em julho por causa da retirada dos efeitos da Copa e do enfraquecimento da atividade.

“Apesar disso, a inflação está alta e em 12 meses beira o teto da meta de 6,5%.” (Márcia De Chiara, Estadão, 20/8/2014.)

* Entre as pessoas bem informadas sobre os índices antecedentes, as expectativas variam entre fracas, ruins e péssimas

“Ao ser entrevistada no Jornal Nacional, na segunda-feira (18/8), a presidente Dilma Rousseff preconizou melhoras na economia no segundo semestre. Respondendo ao questionamento de William Bonner a respeito do pífio andamento da economia brasileira há meses – fecho de chumbo, para dizer o mínimo, de um mandato que deixará a economia em estado muito pior do que a recebeu -, ela argumentou que os ‘índices antecedentes’ dizem que haverá melhoria no futuro próximo.

“Como quase ninguém sabe o que são índices antecedentes, ela se dispensou, com essa resposta vaga, de oferecer alguma idéia do que pretende fazer para melhorar ao menos um pouco o andar da carroça do PIB, pois o que vemos no noticiário todos os dias são índices e indicadores piorando a cada dia.

“Bem, vejamos: índices antecedentes são aqueles que antecedem, diria o Conselheiro Acácio, o andamento da produção, industrial ou agrícola. Por exemplo, se houver um aumento grande da compra de máquinas e implementos agrícolas, isso indica que os agricultores estão otimistas e o plantio e as colheitas serão maiores. Ou, se houver aumento significativo nos pedidos de caixas de papelão e outros materiais para embalagens, pode-se imaginar que a indústria de transformação em geral, e principalmente a de alimentos, estará prevendo e investindo no aumento das suas próprias vendas. E, se estivermos diante de uma queda das cotações de tradables (produtos comercializados em bolsas de mercadorias internacionais ou em fluxos contínuos de comércio mundial), pode-se contar com maior consumo interno de matérias-primas e de bens importados, com consequente aumento da atividade comercial interna.

“São indicadores (e não índices) de possível futura melhoria das atividades de negócios em geral.

“Dilma poderia ter citado concretamente alguns desses indicadores e isso daria maior credibilidade e confiabilidade à sua assertiva de que tudo vai melhorar no futuro próximo.

“Do jeito que respondeu, falando de índices favoráveis à melhoria da economia, os crentes devem ter considerado que a resposta foi boa, mas os incréus viram apenas uma aposta vazia num futuro melhor, destinada a angariar votos.

“Agora, quem são os crentes e quem são os incréus num assunto como esse?

“Os crentes somos nós, pessoas comuns, que temos a tendência de acreditar em que os governantes estão fazendo a coisa certa, estão cuidando direitinho dos negócios de governo e de nós. Os incréus, no caso, e nesse tema, dão suas opiniões e manifestam suas expectativas nas pesquisas levantadas pelas entidades de classe. São os industriais, os comerciantes, os homens do agronegócio, dos transportes, etc. – dirigentes, enfim, do mundo dos negócios, que têm a mão na massa, fazem andar a atual carroça do PIB e cuja função é pôr lenha na caldeira da economia.

“Nos relatórios das entidades de classe, nas pesquisas de opinião da indústria, do comércio e até dos corretores de imóveis – pessoas bem informadas sobre os índices antecedentes – as expectativas variam entre fracas, ruins e péssimas. Todas formando uma nuvem de pessimismo, ou de otimismo, tão, mas tão moderado que a própria presidente, nos auditórios onde se encontra com estes reais carregadores do andor da economia, fala contra o pessimismo (a seu ver injustificado) que atribui aos adversários e exorta os ouvintes a se animar, a trabalhar mais, a confiar e, principalmente, a investir. (Em tempo: a taxa de investimento privado no Brasil tem caído a níveis abaixo das fases de crises fortes, sem que haja qualquer crise forte.)

“Tal clima pode resultar das incertezas sobre como será e o que fará o próximo governo – com Dilma ou sem Dilma. Mas, por isso mesmo, a presidente deveria desfiar uma estratégia econômica bem mais confiável do que a dos ‘índices antecedentes’.” (Marco Antônio Rocha, Estadão, 21/8/2014.)

* A tática na entrevista foi falar o máximo possível para não permitir que mais temas espinhosos fossem abordados

“Foi clara a tática empregada pela presidente Dilma Rousseff na entrevista do Jornal Nacional: falar o máximo possível a fim de proporcionar a abordagem do mínimo de temas na extensa e óbvia pauta de assuntos embaraçosos.

“Não houve tempo, por exemplo, para os entrevistadores falarem sobre a crise na Petrobrás nem para perguntarem a origem dos R$ 156 mil que a presidente declarou guardar em casa.

“Dilma recusou-se a comentar a posição do PT diante das condenações no processo do mensalão, alegando que como presidente não poderia emitir opiniões que pudessem colocá-la em “confronto” com o Supremo Tribunal Federal.

“Primeiro, a pergunta era sobre o partido e, depois, o julgamento é página virada. Portanto, a presidente na realidade quis evitar conflito de um lado com o PT e, de outro, com o eleitorado.” (Dora Kramer, Estadão, 21/8/2014.)

Os números ruins da semana

* Varejo tem o pior resultado em dois anos

“As vendas no varejo brasileiro surpreenderam e caíram 0,7% em junho sobre maio, informou ontem (14/8) o IBGE. Os analistas do mercado previam uma alta de 0,4% em média nas vendas. Foi a terceira queda seguida do comércio e o pior resultado desde maio de 2012. Na comparação com junho de 2013, as vendas subiram apenas 0,8%. No acumulado de 2014, o comércio  acumula alta de 4,2%.

“O IBGE também revisou o resultado de maio, que antes apontava um crescimento de 0,5% nas vendas, para uma alta só de 0,3%.” (Alyne Bittencourt, O Globo, 15/8/2014.)

* Índice do Banco Central mostra que economia encolheu 1,2% no segundo trimestre

“Com o desempenho oscilante do comércio e com a indústria em retração, a economia brasileira encolheu 1,2% no segundo trimestre deste ano, nos cálculos do Banco Central. O número veio acima da expectativa dos analistas do mercado financeiro de que o IBC-Br (índice que mede a atividade no Brasil) tivesse uma queda de cerca de 1,6% no período, mas, ao mesmo tempo, é o pior resultado desde o primeiro trimestre de 2009, auge da crise financeira, quando o recuo havia sido de 2,68%. De acordo com os dados revisados pelo Banco Central, esse já seria o terceiro trimestre de retração da economia.

“Os dados consideram o índice dessazonalizado (que não leva em conta as variações por época do ano). No primeiro trimestre deste ano, a economia encolheu 0,02%, de acordo com o IBC-Br. Já nos últimos três meses do ano passado, a retração foi de 0,29%. No entanto, metodologicamente, o IBC-Br não pode ser considerado uma simples prévia do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país). Isso porque o dado oficial, calculado pelo IBGE, é muito mais complexo. O índice construído pelos técnicos da autoridade monetária é o que os economistas chamam de proxy, ou seja, uma aproximação. O resultado oficial será divulgado pelo instituto no próximo dia 29.

“Os dados oficiais do IBGE são de que o PIB cresceu 0,2% no primeiro trimestre sobre os últimos três meses de 2013. Mas boa parte dos analistas não descarta a possibilidade de que esse número seja revisado para mostrar contração, com a divulgação do resultado do PIB do segundo trimestre.

“Somente em junho, mês da Copa do Mundo (que diminuiu o número de dias úteis e, consequentemente, de atividade econômica), esse índice do BC revelou que a economia encolheu 1,48%. Foi o pior resultado mensal desde maio do ano passado. Isso porque o resultado do comércio ficou muito abaixo do que previam os especialistas. A queda de junho também foi a quinta seguida na comparação mensal. O IBC-Br acumula alta de 1,41% em 12 meses, ainda segundo dados dessazonalizados.

“— Acho que não podemos falar em recessão técnica (dois trimestres seguidos de retração) porque o IBC-Br não crava exatamente o que aconteceu na economia brasileira. O primeiro trimestre, por exemplo, teve desempenho positivo nas contas oficiais do IBGE — ponderou André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual. — Mas esse número já indica que teremos um segundo trimestre negativo no resultado das contas nacionais do IBGE.

“Na avaliação do economista-chefe do ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, o resultado de junho não foi uma surpresa, diante dos dados já divulgados de indústria e comércio, mas o Banco Central acabou revisando o IBC-Br de abril e maio, o que levou a esse recuo de 1,2% no trimestre.

“— A intensidade da queda do IBC-Br no segundo trimestre foi maior por causa do efeito Copa, que afetou a indústria, por exemplo. É diferente daquele momento lá atrás, quando entre o quarto trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009 tivemos o pior momento da crise econômica internacional — disse Leal.

“Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, também afirmou, em relatório nesta sexta-feira, que a queda apontada pelo IBC-Br reforça percepção de desaceleração da atividade econômica no segundo trimestre. A contração já foi indicada por outros indicadores, caso das vendas no varejo e produção industrial, por exemplo, divulgadas pelo IBGE.

“O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, porém, reforçou nesta sexta-feira que não é correto afirmar que a variação do PIB do Brasil foi negativa no segundo trimestre tendo como base o IBC-Br. O diretor, que participa de seminário em São Paulo, lembrou que a projeção do BC para o PIB é a que consta no Relatório de Inflação, que é de 1,6% para 2014. Entretanto, as expectativas dos especialistas, ouvidos em pesquisa Focus do próprio BC, são de que o PIB crescerá apenas 0,81% em 2014, bem aquém dos 2,5% vistos em 2013.

“O IBC-Br foi criado pelo BC para balizar a condução da política de juros para controlar a inflação. É para ele que o BC olha na hora de fixar a taxa básica de juros (Selic), que está em 11% ao ano. O dado leva em consideração Esses são os indicadores que mais pesam no ‘PIB do BC.

“No segundo trimestre, as vendas do varejo registraram uma queda de 0,6%, na comparação com o primeiro trimestre, de acordo com os dados do IBGE após ajuste sazonal. Já a indústria registrou uma retração de 0,9% da sua produção no período.” (Gabriela Valente e Lucianne Carneiro, O Globo, 16/8/2014.)

* Confiança dos empresários continua baixa

“A confiança dos empresários brasileiros continua nos piores níveis desde 1999, apontou pesquisa divulgada ontem (18/8) pela Confederação Nacional da Indústria. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) ficou em 56,5 pontos em agosto, apenas 0,1 ponto acima do resultado registrado em julho, quando o indicador teve a quinta queda consecutiva ao atingir 46,4% pontos, o pior patamar da série história da pesquisa, que começou em 1999.

“Na comparação com agosto do ano passado, o índice caiu 6 pontos. Além disso, continua inferior à média histórica da pesquisa, que é de 57,4 pontos.” (Laís Alegretti, Estadão, 19/8/2014.)

* Indústria deve fechar o ano com crescimento entre zero e 0,8%, avalia presidente da CNI. Ele diz que o ano está perdido

“A indústria brasileira vive ‘talvez um dos piores momentos da história’ e o ano ‘está perdido’ para o setor. A avaliação foi feita, nesta pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga Andrade. ‘Estou como empresário há 37 anos, mas não me lembro de ter passado por um período tão difícil como passamos no ano passado e neste ano’, afirmou em discurso, durante evento na Associação Comercial do Rio e Janeiro (ACRJ). Segundo ele, nem mesmo os analistas têm entendido ‘para onde estamos indo’.

“Para Andrade, a indústria crescerá entre zero e 0,8% este ano – a CNI já chegou a estimar a alta de até 3% para 014. A previsão para o próximo ano é de que o setor apresente aumento entre 1,5% e 2%. ‘Para a economia brasileira como um todo, acho muito difícil crescer mais do que 3% (em 2015)’, disse.

“Entre os motivos apontados para o desempenho negativo, citou problemas históricos, como ‘carga tributária elevada, burocracia, falta de crédito, câmbio inadequado para a indústria e juros elevados’. Em relação ao segundo trimestre, disse que o desempenho da indústria foi um ‘fracasso’. Andrade afirmou que a ‘indústria automobilística está perdendo vendas, o (setor do) aço está reduzindo, o setor eletroeletrônico também está diminuindo e as últimas notícias dão como certa a redução no consumo, no varejo e no atacado’. Além disso, afirmou que começaram a ocorrer demissões em setores como construção civil e siderurgia. A Copa do Mundo também atrapalhou o segmento por causa dos feriados extras que tivemos este ano.

“O presidente da CNI ainda criticou a ausência de empenho do governo para valorizar o empreendedorismo no País. Na visão de Andrade, não há uma política com o objetivo de estimular as micro e pequenas empresas a crescerem. A respeito de um possível aumento do custo da energia e dos combustíveis em 2015, Andrade disse que, ‘de certa maneira, reativa a economia’. ‘Dá mais capital para as empresas do setor elétrico, de petróleo e gás e para a sucroalcooleira. Isso traz também pontos positivos. A preocupação maior do governo é em relação à inflação’. Em seu discurso, afirmou que ‘a única certeza é que teremos um aumento dos preços da energia’ no ano que vem, ‘um insumo fundamental para a indústria brasileira’.

“O presidente da CNI também lembrou que a entidade apresentou recentemente 42 propostas do setor aos candidatos que disputarão a Presidência da República em outubro. ‘Todos se comprometeram com as propostas que apresentamos. Vamos ver se isso se realiza’, disse.” (Mariana Sallowicz, Estadão, 20/8/2014.)

* Emprego forma perde fôlego e julho tem pouca geração de vagas

“Com a economia praticamente estagnada, foram criados em julho pouco mais de 10 mil empregos com carteira assinada, segundo fontes do governo, menos da metade dos empregos criados em junho, quando o mercado formal registrou 25,3 mil novos postos de trabalho. Os números do emprego formal serão divulgados oficialmente nesta quinta-feira e o resultado deve confirmar o pior desempenho desde julho de 1999, quando foram geradas 8.057 vagas.

“No mês passado, o mercado de trabalho foi fortemente afetado pelo fechamento de vagas e demissões na indústria, sobretudo no ramo automotivo, o que se repete pelo quarto mês consecutivo.

“Segundo os números preliminares do emprego formal, a indústria, que havia eliminado 28,5 mil empregos em junho, virou o mês passado com saldo negativo de cerca de 15 mil. Os demais setores registraram saldos positivos, mas bem abaixo da média.

“Segundo o economista Rafael Bacciotti, da Tendências, não há reversão nos indicadores econômicos que apontem uma melhoria substancial no mercado de trabalho, mas a expectativa é que as contratações continuem superando as demissões nos próximos meses.

“— Devemos ter uma ligeira melhora no segundo semestre, com um Produto Interno Bruto (PIB) um pouco melhor — disse o economista do Depec, Leandro Câmara Negrão.

“Na visão de técnicos do governo, a desaceleração do mercado de trabalho — que começou em março — atingiu em julho ‘o fundo do poço’. Em agosto e setembro, a expectativa é que o ritmo dos cortes seja reduzido, para atender as encomendas do fim de ano. No primeiro semestre do ano, foram criadas 588.671 vagas com carteira assinada, considerando dados ajustados (fora do prazo).

“Em setembro, o Ministério do Trabalho deve revisar mais uma vez para baixo a meta de geração de empregos de 1,1 milhão para este ano. A meta inicial do governo era 1,5 milhão de postos, mas em junho a pasta reduziu essa estimativa, projetando o mesmo resultado de 2013.” (Geralda Doca, O Globo, 20/8/2014.)

O pacotinho da semana

* Governo anuncia mais ações para incentivar o consumo. Mais do mesmo que vem tentando há 4 anos e todo mundo já viu que não funciona

“O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou nesta quarta-feira (20/8) seis medidas para melhorar a regulação do sistema de crédito brasileiro. No pacote, estão ações para facilitar a compra e venda de imóveis, a recuperação de bens em caso de inadimplência e também a transferência do crédito consignado de um banco para outro.

“Segundo o ministro, as medidas complementam as que foram anunciadas também hoje pelo Banco Central para estimular a concessão de crédito no país.

“- As medidas caminham na mesma direção das do BC. São para melhorar a regulação do sistema de crédito brasileiro, aumentar a segurança jurídica das transações, reduzir o custo e simplificar operações – disse Mantega.

“Uma das novidades é a simplificação do procedimento de aquisição de imóveis. Todas as informações de um imóvel ficarão concentradas numa única matrícula:

“- Hoje, é preciso tirar um monte de certidões em um monte de cartórios. A nova medida diminui o trabalho do comprador e dá segurança jurídica sobre tudo o que esse imóvel possui. Tudo vai ficar muito mais claro.

“O governo também vai lançar um novo título chamado Letras Imobiliárias Garantidas. Esses papéis serão emitidos por instituições que têm carteira de crédito imobiliário e terão uma garantia adicional, pois os imóveis serão dados como garantia patrimonial para esses investimentos. O papel será isento do Imposto de Renda (IR). Segundo Mantega, esses títulos serão atraentes inclusive para investidores estrangeiros que gostam desse tipo de papel.

“Outra novidade é que parte dos recursos da caderneta de poupança (3%) usados no mercado imobiliário poderão ser usados para operações de crédito que tenham imóvel quitado como garantia. Esse benefício poderá ser usado para qualquer operação de crédito.

“O governo vai ainda permitir que o tomador de um crédito consignado autorize o banco a debitar o valor da prestação mesmo que sua conta salário tenha sido transferida para outra instituição. A idéia é estimular a concessão do consignado.

“Outra medida é o fortalecimento da garantia da alienação fiduciária. A partir de agora, no ato de contratação de uma operação de crédito, o cliente poderá optar por assinar uma autorização que permitirá a retomada do bem no caso de inadimplência. Segundo Mantega, os bancos ficaram mais restritivos na concessão do crédito por causa, em parte, das dificuldades para a retomada de bens.

“- Agora, os bancos podem conceder mais crédito mais barato – disse ele.

“O ministro anunciou ainda uma novidade para ajudar os bancos a aproveitarem créditos tributários. Hoje, as instituições financeiras precisam entrar na Justiça para poder registrar perdas decorrentes de inadimplência de até R$ 30 mil em seus balanços e, assim, poder abater créditos tributários.

“Agora, no entanto, débitos de até 100 mil (em caso de operações sem garantia) e de até R$ 50 mil (em operações com garantia) não precisam mais ser ajuizados para serem registrados com perdas.” (Martha Beck e Eliane Oliveira, oglobo.com.br, 20/8/2014.)

* Com essas novas medidas – que são contraditórias no combate à inflação –, o Banco Central atua como mau conselheiro para os consumidores

“A liberação de compulsório pelo Banco Central é mais um estímulo ao endividamento das famílias. Acontece em um contexto de crescimento praticamente zero do PIB e de inflação no teto da meta, corroendo os salários. Um dos objetivos da medida é impulsionar o financiamento de veículos, mas tomar crédito agora é pagar mais juros, depois do forte aumento da taxa Selic.

“O BC atua, assim, como um mau conselheiro para os consumidores. Num primeiro momento, elevou a taxa básica de juros de 7,25%, em abril do ano passado, para 11%, este ano, numa sucessão de nove elevações consecutivas. Depois, fez duas rodadas de diminuição de compulsório — dinheiro que os bancos são obrigados a deixar parado no BC — para estimular a liberação de empréstimos pelo setor financeiro. Ou seja, primeiro, encareceu o custo do dinheiro para os tomadores, depois, estimulou as dívidas.

“Para entender melhor o encarecimento das linhas, é bom olhar para a Nota de Política Monetária. Os juros médios pagos para o financiamento de veículos subiram de 19,7% ao ano, em março de 2013, para 23% agora. Na aquisição de outros bens, saltaram de 68% para 77%. Quem já está enrolado com as dívidas, e precisa tomar crédito pessoal, também já está sentindo o gosto mais amargo dos juros. O consignado teve aumento médio de 24,6% para 25,6%, enquanto a taxa para quem está com a corda no pescoço disparou: o cheque especial saltou de 137% para 171% ao ano.

“A medida é contraditória no combate à inflação, que permanece no teto da meta, em 6,5%, pelo último dado do IPCA, de julho. Também dificulta a formação de poupança bruta da economia, que caiu para o nível mais baixo dos últimos 15 anos, para apenas 12,7% do PIB no primeiro trimestre. Sem poupança, não há como financiar investimentos.

Nunca é demais lembrar que a inflação ainda não viu o centro da meta sob a gestão da atual diretoria do Banco Central – a última vez foi agosto de 2010 – e não há previsão da autoridade monetária sobre quando o índice voltará para 4,5%.” (Álvaro Gabriel e Marcelo Loureiro, O Globo, 21/8/2014.)

* “O baixo fôlego das decisões mostra que o arsenal de resposta do governo à paradeira está esgotado. E o brasileiro parece suficientemente esperto para deixar-se levar apenas pela conversa enroladora das autoridades.”

“Ontem (20/8), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o Banco Central (BC) anunciaram providências destinadas a aumentar e facilitar a segurança no crédito.

“Vão na linha das medidas tomadas no dia 25 de julho, que começaram a flexibilizar o depósito compulsório, a parcela do dinheiro dos clientes que os bancos têm de deixar no BC. Procuram acelerar o crédito e, portanto, o consumo e a atividade econômica.

“Não deverão ter impacto imediato, por duas razões: primeira, porque os novos recursos hoje disponíveis são relativamente baixos, como a seguir se verá; e, segunda, porque as decisões do Ministério da Fazenda (e não as do Banco Central) dependem de leis e regulamentação suplementar. Afora isso, nos próximos meses não se espera grande entusiasmo do consumidor pela tomada de empréstimos.

“Mas a idéia de desburocratizar e criar novos mecanismos de alavancagem do crédito, especialmente no setor imobiliário e no de veículos, pode facilitar as operações no futuro.

“A principal decisão do Banco Central autoriza os bancos a usar mais 10% do que estão obrigados a depositar no BC (depósito compulsório) nas aplicações a prazo dos seus clientes, desde que esses recursos sejam usados para novas operações de crédito ao varejo.Pelos cálculos do próprio Banco Central, mais R$ 10 bilhões serão injetados nesse segmento, além dos R$ 45 bilhões adiantados em julho. É uma insignificância diante do saldo atual do crédito no Brasil, de R$ 2,9 trilhões.

“Esta é uma iniciativa com certa dose de contradição. O movimento predominante do Banco Central é de acionamento dos freios, na medida em que a política monetária (política de juros) procura enfraquecer o consumo, a atividade e a inflação, por meio da redução da ração de moeda na economia (juros altos), e não o contrário.

“As novas decisões tentam acelerar o consumo e, assim, confundem as expectativas. O mercado, que vive de comunicações claras do BC, vacila em relação à direção pretendida.

“O governo (e não só o Banco Central) está pressionado por forças opostas. De um lado, tem de combater a inflação, que dança sobre o precipício. De outro, enfrenta a prostração da economia. E tem dificuldade para fazer suas escolhas. Não basta jurar que “a economia não está patinando” – como, ontem, jurou Mantega, quando os dados apontam para o contrário.

“O efeito prático imediato parece baixo. As vendas não estão emperradas por falta de crédito, mas por outras razões. A primeira delas é a erosão no poder aquisitivo provocada pela inflação. A segunda, o excessivo endividamento das famílias. E, a terceira razão, a disseminação da percepção geral de que os tempos estão mais difíceis, de que o emprego está sob risco e de que o orçamento doméstico está mais comprometido, o que induz a um comportamento mais conservador por parte do consumidor. Neste momento, ele resiste a buscar mais crédito.

“O baixo fôlego das decisões de ontem mostra que o arsenal de resposta do governo à paradeira está esgotado. Ficaram para trás os tempos em que o Tesouro tinha farta munição para as tais políticas compensatórias anticíclicas. E o brasileiro parece suficientemente esperto para deixar-se levar apenas pela conversa enroladora das nossas autoridades.” (Celso Ming, Estadão, 21/8/2014.)

Tudo errado na condução da economia

* Dilma repete frases fabricadas pelo seu marketing. Para os investidores, isso pega mal, porque se vê que a presidente foge de explicações

“O Brasil vive um momento de profunda incerteza, como naqueles dias nublados em que não se vê muita coisa ao olhar para o horizonte. Na economia, há dúvidas em muitas áreas ao mesmo tempo e isso reduz o ímpeto para os investimentos produtivos e faz oscilar a bolsa ao sabor da notícia de cada dia. A política vive, a 50 dias das eleições, um ambiente de comoção e mudança.

“Um cenário assim piora ainda mais a economia. Os indicadores não estão bons há algum tempo. De vez em quando sai uma taxa positiva, mas não chega a afastar o quadro mostrado pelo conjunto dos outros índices. Os números de cada dia desenham o movimento de pequenas altas, e sucessivas quedas, que vão confirmando a conjuntura em desaceleração forte. Um ano em que os empresários pisaram no freio, em que a indústria encolheu, as vendas diminuíram e as perspectivas pioraram.

“Nem mesmo um ano ruim seria anormal na economia, já que há ciclos, fases, e freio de arrumação. O que é de fato preocupante é que o Brasil vem crescendo pouco há anos e o ritmo diminuirá ainda mais em 2014 porque os investidores estão com temores sobre o futuro.

“Há perguntas demais para respostas pouco sólidas. Os dois candidatos à frente nas pesquisas precisam explicar melhor como pretendem enfrentar e superar os vários obstáculos que estão impedindo o Brasil de crescer. A dúvida maior recai sobre a presidente Dilma, porque ela tem o mais elevado percentual de intenção de votos, é a governante que tomou decisões que levaram a vários problemas e não tem demonstrado qualquer interesse de falar sobre a superação das dificuldades para a economia brasileira.

“Dilma prefere repetir frases fabricadas pelo seu marketing que não guardam relação com a realidade, como a de que Fernando Henrique teria deixado o país numa situação equivalente à que a Argentina está agora. Qualquer pessoa que acompanha o assunto conhece os fatos e despreza essas frases de efeito. Entre investidores, isso pega mal porque se vê a governante fugindo das explicações que precisa dar sobre seu projeto para ajustar o que tem que ser corrigido de imediato na economia e no setor energético.

“A incerteza alimenta o pessimismo e até o exagera às vezes. O dado da Pesquisa de Clima Econômico da FGV mostrou que o grau de confiança está no pior nível desde o Plano Collor. A pesquisa é feita com metodologia alemã desde 1989. Evidentemente que não há nada parecido agora com aquele momento, janeiro de 1991, quando o país vivia uma recessão, com o dinheiro confiscado, mas essa é a percepção dos economistas pesquisados. É preciso mudar isso.

“O ambiente econômico pode se alterar com um choque de confiança, mas ele terá que vir da política, que neste momento vive o período de luto e dúvida que se segue ao trauma provocado pela morte de Eduardo Campos. Ainda que fosse o terceiro na disputa, Campos tinha grandes chances de ser um líder importante em qualquer cenário, ou consolidando uma terceira via, ou empurrando os outros candidatos a assumirem posições mais objetivas em relação aos dilemas econômicos e ambientais. Campos não teria muito tempo no horário de televisão, mas já vinha rodando pelo setor privado, explicando suas idéias. O candidato Aécio Neves tem também feito esse esforço. Já a presidente Dilma tem mais dificuldades de dizer como superará os problemas da economia, porque teria que, em primeiro lugar, reconhecê-los.

“A retirada súbita de Eduardo Campos do cenário político nacional torna inevitável o reconhecimento de como a República brasileira tem sido marcada pelo trágico e o inesperado. Um longo governo oligárquico, duas ditaduras, um suicídio, uma renúncia, um impeachment, a morte de Tancredo no momento da posse e perdas de lideranças com futuro promissor vão deixando suas cicatrizes na República brasileira.” (Míriam Leitão, O Globo, 15/8/2014.)

* O que o BC faz com o câmbio é um remendo, assim como os estímulos fiscais ao consumo, a maquiagem das contas públicas e a contenção de tarifas. Política séria é outra coisa

“A economia brasileira está cheia de remendos – arranjos improvisados para disfarçar problemas -, e um exemplo notório dessa política tem sido a intervenção no câmbio para conter a inflação. É uma política perigosa e, no fim das contas, ineficaz, têm advertido economistas do setor privado. Mas o alerta foi até agora desprezado pelas autoridades. Na segunda-feira o Banco Central (BC) vendeu 4 mil contratos de swap cambial, no total de US$ 198,8 milhões. A intenção é aumentar a oferta de moeda americana, deter sua valorização e impedir a contaminação dos preços internos por um dólar mais caro. A estratégia atingiu o limite, ou logo atingirá, avisam especialistas do mercado e de consultorias independentes.

“O BC já comprometeu mais de US$ 91 bilhões, pouco menos de um quarto das reservas cambiais, em operações de swap. Desde agosto do ano passado esse tipo de transação vem sendo realizado em todos os dias úteis. É uma espécie de venda futura. No fim do prazo combinado, o investidor poderá receber a moeda americana pelo preço estipulado na data da operação. Estará protegido, portanto, no caso de uma grande valorização do dólar.

“Até aqui, o BC tem sustentado o jogo sem ter de enfrentar uma sangria de reservas. Suas intervenções têm servido para manter a cotação do dólar entre R$ 2,20 e R$ 2,30. Diante desses números, a estratégia parece ter dado certo, até agora. O objetivo básico, segundo dirigentes do BC, tem sido evitar grandes solavancos no mercado cambial. Mas um número crescente de especialistas diverge dessa avaliação.

“Segundo alguns, o BC comprometeu um volume excessivo de reservas e tem hoje pouco espaço para manter essa política. Somando-se a dívida externa e os outros compromissos em moeda estrangeira chega-se ao total de US$ 219 bilhões. Para esse cálculo se tomam como referência dados oficiais de junho. Esse valor corresponde a cerca de 58% do volume de reservas. No fim de 2012, a exposição ao risco cambial estava em US$ 121 bilhões e o volume de reservas era muito parecido com o de hoje. “Essa avaliação é rejeitada por outros economistas, porque é impróprio, segundo argumentam, equiparar uma operação de swap à contratação de uma dívida. Se o jogo der certo, ou enquanto der certo, o BC poderá ficar livre de qualquer desembolso. De toda forma, há um risco inegável, podem responder os outros.

“Sem entrar nessa discussão, é possível apontar como certo um efeito indesejável das intervenções no câmbio. Ao ampliar a oferta de dólares no mercado, o BC mantém o real valorizado, mais do que estaria se o jogo das cotações funcionasse mais livremente. Isso encarece os produtos brasileiros em dólar e barateia os estrangeiros. Dificulta as exportações, facilita as importações, prejudica os produtores nacionais, principalmente os da indústria, e afeta a criação de empregos. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a cotação do real está entre 5% e 15% acima do ponto compatível com as condições econômicas do País.

“Alguns críticos chamam a atenção para as tendências do mercado internacional. Se o dólar continuar ganhando força na maior parte do mundo, o BC enfrentará dificuldade crescente para conter a depreciação do real. Isso dependerá da recuperação dos EUA e da perspectiva de aumento de juros pelo banco central americano.

“Mas o argumento mais poderoso é de ordem interna. Apesar da intervenção no câmbio e de outros expedientes, como a contenção dos preços da eletricidade e dos combustíveis, a inflação permanece alta. Falta cuidar com determinação dos principais focos de pressão inflacionária. O governo continua estimulando mais o consumo do que a produção e, além disso, o gasto público permanece excessivo e ineficiente. O efeito do câmbio sobre os preços tem sido muito menos perigoso em países com inflação menor e fundamentos mais sólidos. O swap cambial é basicamente um remendo, como os estímulos fiscais ao consumo, a maquiagem das contas públicas e a contenção de tarifas. Política séria é outra coisa.” (Editorial, Estadão, 15/8/2014.)

* Nos últimos 12 anos, o país foi orientado para jogar na segunda ou na terceira divisão

“Perdido o primeiro semestre, o governo terá de rezar com muito fervor para fechar o ano com o mísero crescimento econômico previsto há dois meses pelo Banco Central (BC), 1,6%. No setor privado as apostas há muito tempo estão abaixo desse número. No dia 8 a mediana das projeções do mercado, coletadas entre instituições financeiras e consultorias, já estava em 0,81%. Quatro semanas antes havia chegado a 1,05%. Só no fim do mês o IBGE divulgará os novos números do produto interno bruto (PIB) e mostrará, de acordo com os padrões oficiais, o tamanho do desastre nos primeiros seis meses. Por enquanto, a informação mais aproximada é o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Publicados na sexta-feira, os dados mostraram queda mensal de 1,48% em junho e crescimento de apenas 0,08% no semestre. Esses números são da série depurada de efeitos sazonais.

“A Copa das Copas tem sido usada como desculpa, ou meia explicação, para o emperramento da atividade em junho: menos dias de trabalho, adiamento de compras e coisas parecidas. Mas a Copa das Copas, também anunciada como a melhor de todos os tempos, durou umas quatro semanas. A economia, no entanto, foi mal durante seis meses – sem contar, é claro, o período entre o começo de 2011 e o fim de 2013. A presidente Dilma Rousseff e sua equipe cuidaram de manter em 2014 um desempenho econômico à altura dos três anos anteriores. Não tomaram, pelo menos até agora, uma única e solitária medida para renegar o padrão. Seu sucesso é confirmado pelos principais indicadores – contas públicas em frangalhos, inflação ainda ameaçadora, investimento baixo e balanço de pagamentos esburacado.

“O baixo investimento é explicável tanto pela má condução dos programas oficiais quanto pela desconfiança dos dirigentes da indústria. Muitos podem até apoiar politicamente o governo e aplaudir o protecionismo e os favores setoriais, mas aplicar dinheiro em máquinas, equipamentos e instalações é outra história. A produção de bens de capital no primeiro semestre foi 8,3% menor que a de um ano antes, segundo o IBGE. Os empresários terão substituído máquinas e equipamentos nacionais por estrangeiros? Nem isso. O valor gasto com a importação desse tipo de produto, entre janeiro e julho, foi 6% menor que nos sete meses correspondentes de 2013, pela média diária.

“Apesar disso, fabricantes estrangeiros de bens de capital até podem ter ocupado uma parcela maior do mercado interno. Mas, no balanço geral, tudo indica, por enquanto, um corte do investimento em bens de produção. A pior situação, de toda forma, é a dos produtores nacionais, pressionados pela combinação de procura em queda e custos em alta. Com dificuldades para competir no mercado externo, têm de enfrentar, ainda, a retração dos compradores nacionais.

“Na maior parte dos últimos seis anos, desde o começo da recessão internacional, o governo brasileiro alardeou o vigor e a dimensão do mercado interno como fator de segurança contra a crise. A insistência nos estímulos ao consumo foi uma consequência dessa concepção – e da percepção errada, naturalmente, do problema e das soluções possíveis.

“Se a presidente e sua equipe fossem mais atentas aos fatos, teriam percebido há muito tempo os erros de sua estratégia. Apesar dos incentivos fiscais a alguns setores, da expansão do crédito e da elevação da renda dos consumidores, a indústria brasileira teve um desempenho muito fraco durante os últimos anos. Alguns setores mais beneficiados pelos incentivos conseguiram boas vendas e lucros, durante algum tempo, porém nem esses aproveitaram as vantagens para ganhar poder de competição. Mas até a mágica do mercado interno parece estar acabando, como indicam os últimos números do comércio varejista. De janeiro a junho, as vendas foram 4,2% maiores que as do primeiro semestre do ano anterior, sem contar veículos, componentes e material de construção. Com a inclusão desses itens, a diferença fica em apenas 0,1%.

“O mercado interno está sendo incapaz de acompanhar a produção de automóveis, disse na quarta-feira o vice-presidente da associação nacional das montadoras, Antônio Carlos Botelho Megale. A solução, segundo ele, é exportar mais. Outros segmentos mal acompanharam – ou nem acompanharam – a expansão da procura, nos últimos anos, como indica o aumento de importações. Todos estariam agora em melhor situação, e com melhores perspectivas, se houvessem cuidado mais do poder de competição e da ocupação de espaços dentro e fora do País.

“Para exportar a indústria automobilística depende amplamente do mercado argentino, estagnado e protegido. A maior parte das indústrias, com algumas exceções notáveis, acostumou-se a exportar principalmente para os vizinhos. Agora nem esse mercado é garantido, por causa da invasão da turma da Ásia. Até no Mercosul esses competidores têm deslocado os brasileiros. Mas a concorrência vem também de economias desenvolvidas, facilitada pelos acordos comerciais dos latino-americanos com as potências da América do Norte e da Europa.

“Esnobar o mundo rico foi uma das espertezas da diplomacia comercial brasileira a partir de 2003. Boa parte da indústria aceitou esse jogo e se acomodou como fornecedora de países da vizinhança. Alguns exportadores continuaram batalhando pelos mercados da Europa e dos Estados Unidos. Mas tiveram problemas crescentes de competitividade. O ambiente de ineficiência – tributação irracional, logística ruim, inflação elevada, intervencionismo desastrado, etc. – prejudicou também as empresas bem organizadas e equipadas. Nos últimos 12 anos o País foi orientado para jogar na segunda ou na terceira divisão. Falta explicar esse detalhe ao resto do mundo e pedir compreensão.” (Rolf Kuntz, Estadão, 16/8/2014.)

* “O País tem exibido uma rara combinação de baixíssimo crescimento com inflação elevada, contas públicas em deterioração e comércio externo empacado”

“O Brasil continuou perdendo espaço na economia mundial, no primeiro semestre, com desempenho muito pior que o da maior parte dos países, tanto emergentes quanto desenvolvidos. A recuperação global vem sendo mais lenta do que se previa há alguns meses, mas o quadro brasileiro é especial. O País tem exibido uma rara combinação de baixíssimo crescimento com inflação elevada, contas públicas em deterioração e comércio externo empacado. Na sexta-feira a estagnação foi confirmada por mais uma fonte oficial. Em junho, a atividade econômica foi 1,48% inferior à de maio e 2,68% menor que a de um ano antes, segundo o índice produzido mensalmente pelo Banco Central (IBC-Br). Esses números são da série livre de efeitos sazonais. O crescimento ficou em 0,08% na primeira metade do ano. Em 12 meses, chegou a 1,41%, mas com forte perda de ritmo na fase final.

“O balanço completo do período janeiro-junho será divulgado no fim do mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas o índice do BC é considerado uma boa antecipação do Produto Interno Bruto (PIB) e, além disso, harmoniza-se muito bem com os dados parciais de produção, consumo e investimento conhecidos até agora e também com os números da balança comercial. Será enorme surpresa se o PIB vier muito melhor que o IBC-Br.

“As projeções mais otimistas para o ano todo continuam sendo as do setor público. O Ministério do Planejamento publicou em julho uma estimativa de crescimento econômico de 1,8%. No mês anterior o BC havia divulgado uma projeção de 1,6%. As bolas de cristal do setor privado mostram cenários muito piores. A mediana das projeções do setor financeiro chegou a 0,81% no dia 8, segundo a pesquisa Focus, conduzida pelo BC. Na semana anterior a estimativa de crescimento estava em 0,86%. Na metade de julho havia chegado a 1,05%.

“Os maus números de junho têm sido atribuídos, pelo menos em parte, à Copa do Mundo. Houve menos dias de trabalho e menor atenção aos negócios e, além disso, decisões importantes foram adiadas. Há alguma verdade nesse argumento. Mas a Copa durou cerca de um mês e a economia foi mal durante todo o semestre. Além disso, vários números da série do IBC-Br foram revistos para baixo, segundo a informação publicada ontem. O dado de maio passou de -0,18% para -0,80%. O de abril, de +0,05% para -0,01%. O de março, de +0,04% para -0,24%. Seria cômico atribuir todo esse desastre à mudança de rotina provocada pelo campeonato da Fifa.

“O futebol pode servir para explicar parcialmente, portanto, a redução do consumo e o recuo da produção industrial em junho e, talvez, em parte de julho. Mas é necessário examinar outros fatores para analisar o atoleiro econômico do primeiro semestre deste ano. Um dos principais componentes do quadro é a estagnação da indústria.

“A produção industrial nos primeiros seis meses foi 2,6% menor que a de janeiro a junho de 2013. A de bens de consumo duráveis, 8,6% inferior à de um ano antes. Esse número combina, à primeira vista, com os do consumo. O volume das vendas no varejo, no mesmo período, ficou 4,2% acima das de um ano antes, sem contar as de carros, veículos, peças e material de construção. Quando esses itens entram na conta, a diferença fica em apenas 0,1%. Isso se explica em parte pelo endividamento dos consumidores, pela alta dos juros e pelo efeito da inflação no orçamento familiar.

“Mas o aumento da importação também é parte da conta. Nos 12 meses terminados em junho, a parcela de importados no mercado nacional de bens industriais chegou a 21,8%, o coeficiente mais alto desde 2007. O cálculo é da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Juntam-se nesse quadro a perda de vigor do mercado interno e o baixo poder de competição da indústria. A competitividade foi erodida por vários fatores desastrosos. Mais estímulo ao consumo que à produção, baixo nível de investimento, ineficiência da infra-estrutura e política comercial mais ideológica do que pragmática são exemplos evidentes. Grandes erros nasceram das fantasias do governo, incluída a do mercado interno como seguro contra a crise.” (Editorial, Estadão, 16/8/2014.)

* “O governo Dilma fica aboborizando respostas para o mau desempenho da economia, que outra explicação não tem senão as más escolhas feitas nestes anos”

“As advertências vão se sucedendo, o gato sobe todos os dias no telhado, mas o governo não assume a deterioração crescente das condições da economia nem aponta para saídas.

“Afirma, com a cara deslavada, que a paradeira da atividade, a inflação e o não cumprimento das metas se devem à crise externa ou, então, à seca e aos feriados da Copa do Mundo.

“Ontem (15/8) saiu mais um indicador ruim, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (BC), o IBC-Br, que apontou uma retração de 1,48% em junho em relação a maio, com a agravante de que o dado de maio foi reavaliado para baixo: a queda não foi de apenas 0,18%, como divulgado anteriormente, mas de 0,80%.

“O IBC-Br é um índice do BC concebido para antecipar tendências do comportamento do PIB. É que as Contas Nacionais, que avaliam o desempenho da renda nacional, só são divulgadas trimestralmente e, ainda assim, com um atraso de quase dois meses sobre o encerramento de cada trimestre. Por exemplo, só vamos conhecer o PIB do segundo trimestre de 2014 no dia 29 de agosto.

“O PIB é uma excelente radiografia das grandes variáveis da atividade econômica, mas, quando é divulgado, chega até nós como a luz das estrelas, com uma diferença de muitos anos-luz depois de emitida. A desvantagem é avisar tarde demais sobre a existência de problemas que poderiam ter sido corrigidos antes.

“O IBC-Br é um termômetro mensal que não tem a mesma precisão das Contas Nacionais. Mas, por ser mais ágil, pode ajudar a providenciar consertos.

“Nesse caso, a avaliação dos seus resultados também tem de ser feita com mais eficácia. Análises de ascensorista são inócuas. Afirmar que a atividade subiu ou desceu de andar só tem sentido quando acompanhada de diagnósticos firmes e de procedimentos de correção de rumo.

“Agora, por exemplo, importa menos se a economia já entrou ou está mais próxima de uma recessão técnica (dois trimestres de recuo do PIB). Mais importante é encontrar saídas para uma situação inequívoca de paradeira, agravada por uma inflação alta demais e pela deterioração das contas públicas.

“Decididamente, o governo Dilma não quer distribuir mais contas entre a população nos meses que precedem as eleições. Por isso, fica aboborizando respostas para o mau desempenho da economia, que outra explicação não tem senão as más escolhas feitas nestes anos.

“Mas há o que fazer. O principal problema não é o mau comportamento da economia, mas a prostração dos agentes econômicos: empresários, consumidores, profissionais liberais. Todos os indicadores mostram queda enorme do nível de confiança. É a situação do sujeito que sente que vai perder o emprego, está brigando com a mulher e os filhos, enfrenta problemas de saúde… e, compreensivelmente, está deprimido. A primeira coisa a fazer nesse quadro é tratar da depressão para que sobre um mínimo de objetividade para encarar o resto.

“Ou seja, a presidente Dilma poderia agir para recuperar o entusiasmo do empresário e do consumidor. Mas não ousa enveredar por essa via porque teme que isso seja interpretado como reconhecimento dos erros de política econômica.” (Celso Ming, Estadão, 16/8/2014.)

* “O volume de problemas que se acumula na economia é assustador”

“Nas crises agudas foram tomadas decisões difíceis. Quando os problemas são crônicos, como agora, a tendência dos gestores e políticos é adiar as medidas impopulares. O volume de problemas que se acumula na economia é assustador. Falarei de um só, como exemplo, porque é impossível esgotar numa coluna a lista de bombas a desarmar.

“Nos últimos tempos o governo conseguiu refazer um perigoso embaralhamento dos balanços dos entes públicos. A Eletrobrás deve à Petrobrás, pegou dinheiro emprestado no Banco do Brasil e na Caixa, para pagar apenas uma parte e pendurou o resto. O Tesouro não tem repassado à Caixa todos os valores devidos para pagar a Bolsa Família e seguro desemprego. As distribuidoras de energia elétrica, que são empresas privadas, receberam empréstimos do Banco do Brasil, Caixa, bancos estaduais, BNDES e bancos privados em operações financeiras intermediadas por uma Câmara de empresários, por ordem do governo, e tendo como garantia o aumento futuro da tarifa. O Tesouro deve bilhões ao FGTS e ao FAT. O BNDES deve R$ 400 bilhões ao Tesouro. É um emaranhado de dívidas cruzadas. Isso já ocorreu no Brasil e o saneamento das empresas e bancos deu muito trabalho ao governo Fernando Henrique.” (Míriam Leitão, O Globo, 17/8/2014.)

* A Caixa Econômica paga parte dos altos custos do populismo, voluntarismo e incompetência do governo

“O governo decidiu usar e abusar da Caixa – o principal banco executor das políticas sociais – para remendar as contas públicas em frangalhos e consertar problemas criados por sua política desastrosa. A história inclui a cobrança de dividendos crescentes e pressões para participação no socorro às distribuidoras de eletricidade. Além disso, desde o ano passado o Tesouro tem atrasado repasses para programas como o Bolsa Família e o seguro-desemprego. A Caixa usa recursos próprios para atender os beneficiários. Quando o dinheiro é finalmente liberado pelo governo central, chega depreciado pela inflação e sem juros. É como se o Ministério da Fazenda dispusesse de um cheque especial sem limite e sem custo para emergências. Essas emergências se vêm tornando cada vez mais frequentes.

“Com o atraso nos pagamentos o Tesouro melhora a aparência de suas contas, pelo menos por algum tempo. A contabilidade criativa, usada principalmente para maquiar as finanças públicas no fim do ano, inclui, entre outros itens, o adiamento de vários tipos de repasses. Embora o grande objetivo seja o fechamento do balanço fiscal em dezembro, os truques aparecem durante todo o ano.

“O governo continua gastando demais. Ao mesmo tempo, a arrecadação tem sido afetada por incentivos fiscais ao consumo e pelo baixo crescimento econômico. O Tesouro tem recorrido a receitas especiais e a atrasos de pagamentos para tentar obter, pelo menos formalmente, o resultado fiscal prometido. Para 2014, o objetivo é um superávit primário – dinheiro para pagar juros – de R$ 80,8 bilhões para o governo central.

“Pressionada pelo Banco Central (BC) a explicar a ‘discrepância’ em suas contas, a diretoria da Caixa recorreu à Advocacia-Geral da União (AGU) para mediar o conflito com o Tesouro. Uma câmara de conciliação foi criada para cuidar do problema, com participação da Caixa, do Tesouro e do BC. ‘Os trabalhos da câmara podem evoluir para um parecer técnico’, informou ao Estado o chefe da AGU, Luiz Inácio Adams.

“Se esse parecer for baseado exclusivamente nos termos do contrato entre o Tesouro e a Caixa, o problema permanecerá. Para uma solução, será preciso levar em conta as condições financeiras da prestação do serviço, mas ninguém avançou nesse tipo de detalhe. Por meio de sua assessoria, a Secretaria do Tesouro disse desconhecer qualquer proposta da Caixa para alteração do contrato.

“A natureza do problema, no entanto, é bastante clara. Os termos do acordo entre as duas partes seriam muito menos importantes em outra circunstância. O Tesouro está em muito má situação e o governo está perdido no emaranhado de erros da política econômica. Para reforçar a receita fiscal, o governo tem pressionado a Caixa para entregar dividendos maiores que os combinados para este ano. A idéia inicial era entregar apenas metade do ganho disponível, mas o Ministério da Fazenda resolveu mudar o jogo. Agora se espera da Caixa uma contribuição de cerca de R$ 5 bilhões.

“Dividendos maiores que os do ano passado já reforçaram as contas do Tesouro no primeiro semestre e o jogo deve continuar. Além disso, o governo espera recolher uns R$ 18 bilhões de pagamentos do novo Refis, o refinanciamento de dívidas tributárias, e mais algum dinheiro de bônus de concessões.

“Pressionada para aumentar os dividendos pagos ao Tesouro, a Caixa foi mobilizada também para o socorro às distribuidoras de energia. Determinada há mais de um ano pela presidente Dilma Rousseff, a diminuição das tarifas de eletricidade prejudicou as companhias do setor. Danosa mesmo em circunstâncias normais, essa política foi especialmente custosa porque as empresas tiveram de comprar eletricidade – mais cara – de centrais térmicas. A redução das contas de luz foi duplamente errada: distorceu os preços e estimulou o consumo em fase de restrição de oferta.

“A Caixa deve participar com R$ 750 milhões do novo financiamento, de R$ 6,5 bilhões, articulado pelo governo. Um empréstimo de R$ 11,2 bilhões mobilizado em abril já se esgotou e o novo será mais caro. Populismo, voluntarismo e incompetência têm custos altos.” (Editorial, Estadão, 18/8/2014.)

* Entre 33 países da América Latina e Caribe, Brasil ocupa a 27ª posição quanto à previsão de crescimento este ano

“A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), da ONU, divulgou recentemente seu Estudo Econômico da América Latina e do Caribe – 2014 (www.cepal.org/publicaciones). É um denso e bem elaborado diagnóstico do que se passa com a economia da região.

“Esse estudo merece maior divulgação, porque a economia brasileira passa por sérias dificuldades, espelhadas particularmente nas taxinhas de crescimento do seu produto interno bruto (PIB). Diante delas o governo do Brasil reage com escapismo, pois costuma atribuí-las à crise econômica da segunda metade da década passada, da qual economia mundial ainda se recupera. Despreza causas de sua própria lavra, embora se revele como o principal culpado.

“Quanto a isso, um dos aspectos que enfatizo é o de que vários outros países também estão diante das sequelas dessa crise, mas se saem bem melhor que o Brasil. Examinando o estudo da Cepal vi que o número deles é muito maior do que imaginava, e são países mais próximos geográfica e culturalmente do nosso, alguns até mais expostos a movimentos da economia mundial.

“Na página 59 um gráfico lista 33 países ordenados pelas taxas previstas em cada caso para a variação do seu PIB em 2014, da maior para a menor. Iniciei o exame da lista de cima para baixo, ansioso por achar o Brasil. Mas a quem for consultar a lista com o mesmo interesse sugiro começar de baixo para cima, pois só achei nosso país bem ao final, com 26 (!) outros mostrando taxas maiores. Menores só Dominica, Jamaica, Barbados, Argentina e Venezuela – que ostenta a única taxa negativa. Também é interessante notar que a previsão para o PIB brasileiro em 2014 (1,4%) é a mesma de Cuba – talvez essa ‘boa’ companhia sirva de consolo à nossa presidente, notória admiradora do regime político cubano e de seus líderes.

“Mais dois aspectos agravam a má posição brasileira. Numa tabela, apresentada na divulgação do estudo, aparecem individualmente as taxas anuais de variação do PIB observadas de 2011 a 2013, separando os países latino-americanos dos caribenhos. Para comparações usei a média aritmética dessas taxas em cada caso. Quanto aos 20 países da América Latina (AL), 18 (!) deles superaram a média alcançada do Brasil, que só ganha de El Salvador. No que toca aos 13 do Caribe, 10 apresentaram médias inferiores à do Brasil, mas entre eles estão Bahamas, Granada, Jamaica, Trinidad e Tobago e outros que lembram escalas dos muitos cruzeiros marítimos que circulam pela região. Ou seja, dependem muito do turismo e foram particularmente afetados pela referida crise. Mas, nas previsões de crescimento para 2014, 10 superam a do Brasil e 11 mostram taxas superiores à média do triênio anterior, o que indica recuperação também nessa região.

“No meio de tantos países, surpreendeu-me o bom desempenho da Bolívia. Seu PIB teve crescimento médio de 5,7% no último triênio e a taxa prevista para 2014 é de 5,5%. Dilma Rousseff deveria ver se Evo Morales tem algo a lhe ensinar, porém com cautela, pois entre as habilidades dele está a de tomar patrimônio e obter preços maiores do Brasil para o gás natural que exporta para nós.

“A segunda agravante é que no Brasil são poucos os que crêem que o PIB do País cresça 1,4% em 2014. Fora do governo a maioria das previsões aponta para uma taxa inferior a 1%.

“Esses dados confirmam que o Brasil tem seus próprios e muitos problemas a resolver se quiser dar melhores rumos à sua economia. E mais: mesmo admitindo algum papel da economia mundial no desarranjo econômico atual, são tantos, fortes e flagrantes os erros de política econômica ‘made in Brazil’ que já os retiram da condição de meros suspeitos de constituírem a força mais robusta e atuante.

“Vale relembrar alguns dos mais evidentes nas ações macro e microeconômicas governamentais. Entre as primeiras, o apelo ao consumo exacerbado pelo crédito fácil, admissível em épocas de muito fraco desempenho da demanda, mas suicida no médio e no longo prazos, quando se revela indispensável o papel dos investimentos na expansão da capacidade produtiva e na geração de empregos e renda capazes de sustentar endividamento adicional. Ora, os investimentos não receberam a devida atenção, como no caso daqueles em infra-estrutura. A propósito, o estudo da Cepal afirma que (página 57), ‘no Brasil, a atividade econômica, sobretudo o investimento, segue debilitada’.

“E não me lembro de ver o governo a exaltar as virtudes da poupança. Sinônimo de economia, ela não está nos discursos nem nas ações governamentais, que também deveriam incuti-la na cabeça das pessoas, pois sua prática está no caminho da prosperidade pessoal e nacional.

“Na microeconomia, as políticas desastrosas foram tão voluntariosas e inconsequentes que prejudicaram até empresas estatais tão endeusadas pelos condutores dessas políticas, com destaque para a Eletrobrás e a Petrobrás, esta com sua imagem manchada também por notórios malfeitos. Como atuam no setor energético, em que há também empresas privadas, várias destas foram igualmente prejudicadas, como as do setor sucroenergético, tanto na sua atuação como nos seus planos de investimentos.

“E há as práticas criativas para dissimular maus resultados, os quais deveriam servir ao menos para advertir os condutores quanto a perigos, à maneira do velocímetro e do termômetro no painel de um automóvel. Contudo a visão desse mau comando não escapou à observação dos agentes econômicos, em particular dos empresários. Isso fez ruir a confiança na gestão do governo, indispensável ao sucesso da política econômica, pois este depende da crença desses agentes na competência de quem a formula e na perspectiva de seu sucesso.

“Hoje, a única utilidade desse desastre econômico é, analisadas as suas causas, a de guiar os que inevitavelmente enfrentarão o desafio de repará-lo.” (Roberto Macedo, economista, Estadão, 21/8/2014.)

Os erros na área de energia

* Consumidores vão pagar R$ 1,1 bilhão a mais por energia

“A receita das empresas do sistema de transmissão de energia, que interliga as cinco regiões do País, é bancada pelos geradores e consumidores. Com a MP 579, que renovou alguns contratos de concessão, a parcela dos consumidores caiu de 52,74% para 31,33% – o que significou um custo menor na conta de luz. Mas, com a frustração da entrada em operação de algumas unidades geradoras, a participação voltou a subir e alcançou 40%. Esse movimento vai representar uma conta de R$ 1,1 bilhão que os consumidores terão de pagar a mais.

“Conforme a nota técnica da Aneel deste ano, comparada com a de 2013, há casos de companhias do setor de mineração e de alimentos que tiveram aumentos superiores a 100% na tarifa, como é Alcoa e Sadia, por exemplo. ‘A indústria está muito insatisfeita. Ela não teve direito às cotas da energia barata das usinas antigas (renovadas) nem teve acesso à energia dos leilões das novas hidrelétricas. E agora tem de pagar o prejuízo’, reclama o presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa.

“Ele explica que, numa situação normal, de cronograma em dia da entrada em operação das usinas, o gerador paga pela transmissão da energia. Como a usina atrasou e não entregou a eletricidade, a conta foi parar no colo dos consumidores, já que a receita precisa ser arrecadada para pagar o transmissor.

“Segundo a nota técnica da Aneel, quase 3 mil megawatts (MW) foram retirados do ciclo 2014/2015, entre outros fatores, ‘devido aos atrasos na entrada em operação das unidades geradoras’. A tabela com as revisões da capacidade de geração das usinas inclui as hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, Santo Antônio do Jari, Ferreira Gomes e Teles Pires. O documento ressalta, entretanto, que as usinas ‘ Santo Antônio e Jirau têm pleitos na Agência para revisão dos cronogramas e que decisões parciais não estão refletidas nos contratos de uso do sistema de transmissão dessas usinas’.

“Outra reclamação refere-se aos descontos concedidos às fontes renováveis e que está incluído na conta. ‘Em 2012, comemoramos a decisão de que o Tesouro passaria a arcar com as despesas relacionadas às políticas públicas do setor, mas esse desconto continua saindo do caixa dos consumidores’, diz Pedrosa.

“Na avaliação do diretor da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), César de Barros Pinto, com a necessidade de expansão do sistema de transmissão, a tendência é que o peso desse custo aumente cada vez mais. As novas linhas são de longa distância e exigem grandes investimentos. De 1999 pra cá, a rede nacional cresceu de 67 mil quilômetros para cerca de 100 mil quilômetros.

“Barros destaca, porém, que, com a renovação das concessões em 2103 e a queda nas receitas de algumas transmissoras, a questão da manutenção tem sido assunto recorrente. Ele conta que vai entrar em audiência pública uma pauta para tentar resolver a questão. Hoje, qualquer investimento na rede de transmissão precisa ser aprovado pela Aneel para ter reembolso. O problema é com alguns equipamentos do dia a dia que custam caro e precisam ser trocados. Nesse caso, a empresa só vai receber após uma revisão tarifária.” (Renée Pereira, Estadão, 20/8/2014.)

* Conta de luz no interior de São Paulo sobe 36%, maior reajuste do ano

“A diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou ontem (19/8) o maior aumento de tarifas de energia do ano, concedido à distribuidora Elektro Eletricidade e Serviços S/A, que atende 2,4 milhões de unidades consumidoras em 223 municípios do estado de São Paulo e cinco do Mato Grosso do Sul. A partir do próximo dia 27, a conta de luz dos consumidores residenciais e comerciais (baixa tensão) subirá 35,97% e a da indústria (alta tensão), 40,79%, em média. A maior parte do aumento decorre dos custos da empresa com a compra de energia, cujo impacto foi de 21,78% no reajuste da conta de luz. — É um reajuste muito alto, o mais alto que já deliberamos aqui. O custo da energia é muito alto. O custo de energia foi decisivo neste impacto — afirmou o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino. Para calcular o reajuste, a Aneel considerou, entre outros itens, as despesas com a compra de energia, que neste caso foi o item que mais aumentou: 43,37%. No ano passado, o reajuste das tarifas dos consumidores residenciais da distribuidora foi de 8,62% e o das indústrias foi, em média, de 8,27%.

“A Aneel também autorizou, a partir do próximo dia 26, um reajuste para os consumidores da CEB, que presta serviço para cerca de 960 mil unidades do Distrito Federal. Para as residências e o comércio, a conta de luz vai subir 18,38% e para a indústria 19,9%. Nos sete primeiros meses do ano, a agência autorizou o reajuste da energia de cerca de 40 distribuidoras de várias regiões do país. Os aumentos foram impactados pela crise do setor, principalmente porque as empresas precisaram comprar energia das usinas Termelétricas, que é mais cara. No dia 8 de abril a conta de luz das residências da Cemig aumentou 14,24%. Ela atende 7,7 milhões de unidades consumidoras, de 805 municípios de MG. “No dia 22 de abril aumentou a conta de luz de mais de dez milhões de unidades consumidoras da Energisa (SE), em 12,17% para residências e 11,31% para indústrias; da Cosern (RN), em 11,40% para residências e 15,78% para indústrias; da Coelba (BA), em 15% para as residências e 16,04% para indústrias; e da Coelce (CE), em 17,02% para residências e 16,16% para indústrias. No dia 18 de junho, a conta de luz de consumidores residenciais de Nova Friburgo (RJ) aumentou 7,94%. No mesmo dia, a Energisa Minas Gerais (EMG), que fornece energia a 60 municípios de Minas Gerais e seis do Rio de Janeiro, elevou a tarifa em 5,8% para residências e 3,75% para a indústria.

“No dia 19 de junho, a tarifa de Rio Grande Energia S/A aumentou 23,08%. Ela fornece energia para 1,3 milhão de unidades consumidoras de 262 municípios do Rio Grande do Sul. A Aneel autorizou ainda o aumento médio de 35,05% da tarifa da Copel (PR) no dia 24 de junho, mas ele foi reduzido para 24,86% a pedido do governo do estado. A conta de luz dos consumidores da AES Eletropaulo (SP), uma das maiores do país, com 6,7 milhões de unidades consumidoras na capital de São Paulo e em outros 23 municípios da região metropolitana, subiu no dia 4 de julho. Para as residências e comércio a tarifa aumentou 18,08%, enquanto para a indústria, 19,93%.

“O reajuste da Celtins (TO) para os consumidores residenciais e comerciais foi de 10,98% e para industriais, 10,43%. As novas tarifas entraram em vigor no dia 4 de julho. A empresa fornece energia para 506 mil unidades consumidoras de 139 municípios de Tocantins. O aumento da Celesc (SC), que começou a vigorar no dia 7 deste mês, foi de 22,45% para as residências e de 22,42% para a indústria. Ela atende 2,6 milhões de unidades consumidoras.” (Mônica Tavares, O Globo, 20/8/2014.)

* Com a interferência do governo no setor, dívida bruta das empresas subiu 19% em um ano e meio

“O desarranjo do setor elétrico está exposto na safra de balanços do segundo trimestre. A dívida bruta das companhias subiu 19% desde março de 2013, primeiro resultado após a MP 579 entrar em vigor. O montante devido pelas 38 empresas listadas em bolsa saltou R$ 23 bilhões no período e atingiu R$ 150,7 bi em junho, segundo a Economatica. Para diminuir o valor da energia, o governo pressionou as geradoras a anteciparem a renovação de suas concessões. Algumas recusaram, continuaram a cobrar o preço antigo, e conseguiram diminuir o endividamento. É o caso da Cesp, que cortou em 31,2% suas dívidas.

“ Controlada pelo governo, a Eletrobrás aceitou os novos termos da MP e viu sua dívida saltar 23,6%, ou R$ 6,7 bilhões, no maior aumento nominal entre as companhias de energia. “O setor está desarrumado e não é só pela falta de chuvas”, disse Pedro Galdi, analista da SLW Corretora.”  (Álvaro Gabriel e Marcelo Loureiro, O Globo, 21/8/2014.)

O governo afundando a Petrobrás

* O lucro da Petrobrás cai e a dívida cresce em ritmo acelerado

“Nem produzindo e refinando mais petróleo a Petrobrás consegue melhorar seu desempenho financeiro, como mostram os resultados do primeiro semestre deste ano, na comparação com os da primeira metade de 2013. O lucro líquido do período, que alcançou R$ 10,4 bilhões, foi 25% menor do que o do período janeiro-junho do ano passado. Dominada politicamente pelo governo do PT – e por isso submetida a um regime de controle de preços que lhe impõem custos cada vez mais insuportáveis e, ainda assim, obrigada a executar um ambicioso programa de investimentos -, a estatal não poderia produzir resultados muitos melhores do que os que vem apresentando. Ou seja, com perdas para os investidores e para o País.

“Com o objetivo de conter as pressões inflacionárias, em boa parte decorrentes da inconsistência de sua política econômica e da fragilidade de sua política fiscal, o governo Dilma Rousseff vem segurando os preços dos combustíveis para os consumidores. Essa política, ou antipolítica, tarifária vem causando prejuízos bilionários para a empresa na área de abastecimento. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, essa área registrou prejuízo de R$ 8,6 bilhões, 29% maior do que na primeira metade de 2013.

“A empresa chegou a uma situação tal que, quanto mais refina e vende gasolina e óleo diesel, além de outros derivados, mais tende a perder dinheiro, pois o preço cobrado nas bombas não é suficiente para cobrir os custos de produção. E vem refinando mais petróleo. No entanto, como sua capacidade de refino ficou estagnada nos últimos anos, está sendo obrigada a utilizá-la num nível acima do recomendável. Como ela própria reconheceu, o processamento em seu parque de refino no segundo trimestre de 2014 alcançou 98% da capacidade instalada, 2 pontos porcentuais acima do registrado nos três primeiros meses do ano. É um nível de utilização que pode dificultar a manutenção indispensável para reduzir os riscos de interrupção das operações ou de acidentes.

“Mesmo assim, por causa dos fortes estímulos do governo petista à venda de automóveis, o consumo interno de combustíveis vem crescendo num ritmo que a Petrobrás não tem mais condições de acompanhar com sua produção própria, o que a tem forçado a importar derivados, sobretudo gasolina, pelos quais paga em dólares ao preço internacional e é obrigada a vender a preços controlados pelo governo – e insuficientes para cobrir seus gastos.

“A área de abastecimento é a principal responsável pela geração dos recursos para os investimentos da Petrobrás – e também pela geração dos resultados financeiros para os acionistas. Em crise, como mostram os números recentes, ela não tem gerado os recursos suficientes para sustentar o bilionário programa de investimentos da empresa na área de exploração, cuja ação está concentrada no pré-sal. No primeiro semestre, os investimentos foram 6% menores do que os do mesmo período de 2013.

“Sem gerar recursos suficientes, a Petrobrás vem procurando no mercado financeiro o capital de que necessita para sustentar seus investimentos. O resultado é a expansão da dívida em ritmo acelerado. No fim do primeiro semestre, a dívida líquida da Petrobrás correspondeu a 3,94 vezes sua capacidade de geração de resultados (conhecida como Ebtida, que corresponde ao lucro antes do pagamento de impostos e juros e do lançamento contábil de depreciações e amortizações), acima do índice de 3,52 registrado no fim do primeiro trimestre e muito superior ao considerado ideal pela diretoria da empresa, de 2,5 vezes.

“Com a concentração de investimentos no pré-sal, a produção nessa área alcançou o recorde de 542 mil barris em julho. Mas, com a redução dos investimentos nas áreas já em exploração, sua decadência se acelerou, ocasionando a queda mais rápida de sua produção.

“Os problemas que a empresa enfrenta para explicar o ruinoso negócio da compra da Refinaria de Pasadena, no Texas – se explicações há para isso -, são a face política de uma crise que já era aguda nos planos administrativo e operacional.” (Editorial, Estadão, 19/8/2014.)

Os escândalos na Petrobrás

* Comissão de ética apura ‘sonegação de dados’ no caso de Pasadena

“A Comissão de Ética Pública da Presidência da República informou nesta segunda-feira (18) ter pedido informações à Petrobrás sobre a conduta do ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró à época da elaboração do relatório que levou a companhia a adquirir a refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006.

“O processo foi aberto após nota divulgada neste ano pela presidente Dilma Rousseff, à época presidente do Conselho de Administração da estatal, informar que os membros do colegiado optaram pela compra da refinaria com base em parecer ‘falho’, elaborado pela área então chefiada por Cerveró.

“‘Quanto ao processo do ex-diretor internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, foram requisitadas informações à Petrobrás sobre a existência de eventual sonegação de dados relevantes ao Conselho de Administração daquela sociedade anônima [Petrobrás], relacionadas à aquisição da refinaria de Pasadena’, informou o presidente da Comissão de Ética, Américo Lacombe.

“O Congresso Nacional instalou duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para investigar a compra da refinaria de Pasadena, uma composta por senadores e outra por deputados e senadores. A unidade nos Estados Unidos custou aos cofres da Petrobrás US$ 1,18 bilhão. A Polícia Federal, O Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) também investigam a operação feita pela Petrobrás.

“Em abril, ao depor na CPI Mista da Petrobrás, na Câmara, Cerveró disse que não teve a ‘intenção de enganar’ o Conselho de Administração e que a decisão de adquirir a refinaria norte-americana foi compartilhada com os conselheiros da Petrobrás.

“‘Eu apresentei um trabalho que foi desenvolvido durante mais de um ano. Não houve nenhuma intenção de enganar ninguém, não há nenhum sentido de enganar ninguém. A posição [de comprar a refinaria de Pasadena] não é uma posição só minha, é da diretoria e do conselho [da Petrobrás] que aprovou este projeto. Não existem decisões individuais nem na Diretoria nem no Conselho. Foi tudo baseado numa série de consultorias por mais de um ano’, disse o ex-diretor na ocasião.

“De acordo com Lacombe, a Comissão de Ética solicitou informações em relação a reportagens publicadas neste mês que denunciaram a participação de assessores do Palácio do Planalto na coordenação da atuação da Petrobrás e da liderança do PT no Senado durante as investigações da CPI que apura denúncias contra a estatal.

O presidente do colegiado, porém, informou que a condução dos trabalhos é sigilosa e que, portanto, não poderia explicar a quem ou quando as informações foram solicitadas.

“No início do mês, a revista Veja afirmou que a presidente da Petrobrás, Graça Foster, o ex-presidente Sérgio Gabrielli e o ex-diretor Nestor Cerveró receberam com antecedência as perguntas que seriam formuladas pelos senadores na CPI.

“A Comissão de Ética pediu após a sessão de julho informações ao Ministério da Fazenda sobre o processo que envolve Marcelo Fiche, ex-assessor do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O caso deveria ter sido julgado nesta segunda, mas, segundo Lacombe, não foi analisado porque o relator, ministro Horácio Raymundo de Senna Pires, não compareceu à sessão.

“Denúncia publicada em novembro de 2013 pela revista Época aponta que Fiche teria recebido irregularmente pelo menos R$ 60 mil de uma empresa contratada pelo ministério para prestar serviços de comunicação. Ele nega as acusações.” (Felipe Matoso, G1, 18/8/2014.)

* Depois do sincericídio de Dilma sobre Pasadena, e pouco antes de terem seus bens bloqueados, a presidente e um diretor da Petrobrás fizeram doações para parentes

“O Tribunal de Contas da União (TCU) suspendeu ontem à tarde (20/8) a votação sobre o bloqueio dos bens da presidente da Petrobrás, Graça Foster, logo após o site do Globo revelar que Graça e Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da estatal, doaram imóveis aos filhos depois que estourou o escândalo da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

“No momento que a reportagem foi publicada, os ministros discutiam exatamente se decretariam o bloqueio dos bens de Graça Foster. Os bens dos demais diretores envolvidos no caso Pasadena, inclusive os de Cerveró, já estão bloqueados, mas o TCU tomou a decisão quando Cerveró já tinha passado aos bens à família.

“Com a sessão em plenário em curso, o ministro José Jorge, relator do processo sobre a refinaria no Texas, leu o voto em que pede o bloqueio dos bens de Graça e ouviu voto em sentido contrário do ministro Walton Alencar. Em seguida, ao tomar conhecimento das informações veiculadas no site do Globo, José Jorge suspendeu o processo, com a promessa de recolocá-lo em pauta na sessão da próxima quarta-feira:

“— Se isso for verdade, e, dependendo de sua extensão, configura uma burla ao processo de apuração da irregularidade. Então, é gravíssimo. É grave porque é como se fosse uma tentativa de burlar o caso — afirmou José Jorge, que determinou a realização de uma diligência para apurar a transferência de bens.

“Como mostram registros em cartório obtidos pelo Globo, Graça e Cerveró doaram imóveis aos filhos após estourar o escândalo sobre a compra da refinaria, mas antes de o TCU determinar o bloqueio do patrimônio de dez gestores e ex-gestores da Petrobrás apontados como responsáveis por um prejuízo de US$ 792,3 milhões na compra da refinaria.

“O bloqueio de bens ocorreu em 23 de julho. Graça repassou imóveis aos filhos em março e abril. Cerveró fez o mesmo em junho. Foram doados apartamentos no Rio e em Búzios.

“Entre os ex-diretores que tiveram os bens bloqueados, além de Cerveró, estão Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento preso no Paraná em razão da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal; e José Sergio Gabrielli, ex-presidente da Petrobrás. Graça Foster e Jorge Zelada, ex-diretor da área internacional, só ficaram de fora da medida por causa de um erro do TCU, que acabou responsabilizado outros gestores por um prejuízo específico de US$ 92,3 milhões no descumprimento da sentença arbitral referente à compra da segunda metade de Pasadena.

“O julgamento de ontem (20/8) se destinava a avaliar e corrigir esse erro. A sessão já havia sido adiada uma vez, por conta de pressão feita pelo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. A informação sobre a doação de bens provocou novo adiamento. A iniciativa do TCU visa justamente garantir que os bens não sejam movimentados pelos gestores, de forma que se permita o ressarcimento aos cofres da estatal, caso as tomadas de contas especiais abertas pelo tribunal confirmem o prejuízo aos cofres públicos.

“Os documentos oficiais obtidos pelo Globo revelam que, em 20 de março, Graça doou ‘com reserva de usufruto’ um apartamento no bairro do Rio Comprido a sua filha Flavia Silva Jacua de Araújo, tendo o filho Colin Silva Foster como interveniente. No mesmo dia, a presidente da Petrobrás fez uma doação semelhante a Flavia e a Colin de um imóvel na Ilha do Governador.

“No dia 19 de março, um dia antes dessas transações, veio a público um posicionamento da presidente Dilma Rousseff de que apoiou a compra de Pasadena por conta de um ‘parecer falho’ elaborado por Cerveró. Era o início de uma crise que resultou na instalação de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) no Congresso Nacional.

Dilma, como presidente do Conselho de Administração da Petrobrás em 2006, votou a favor da aquisição da primeira metade da refinaria. No processo em tramitação no TCU, os ministros a eximiram de responsabilidade no negócio. Graça ainda fez uma ‘doação com reserva de usufruto’ a Colin em 9 de abril deste ano. Trata-se de um imóvel na Praia de Manguinhos, em Búzios, com direito a uma vaga de garagem.

Cerveró, por sua vez, doou três apartamentos aos filhos em 10 de junho, 43 dias antes de o TCU determinar o bloqueio de seus bens e de mais nove gestores da Petrobrás. Cerveró doou um apartamento na Rua Prudente de Morais, em Ipanema, à filha Raquel Cerveró; outro apartamento no mesmo prédio ao filho Bernardo Cerveró; e um apartamento na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, também a Bernardo.

“As revelações alteraram a rotina do julgamento ontem no plenário do TCU. O ministro Walton Alencar ainda proferia seu voto quando José Jorge se levantou para conversar com outros ministros. Minutos depois, o ministro André Luís de Carvalho sugeriu que a sessão fosse suspensa. José Jorge leu, então, o título da reportagem veiculada pelo GLOBO na internet.

“Sentado na primeira fila do plenário, Adams foi à tribuna e defendeu a continuidade do julgamento. O advogado da União argumentou que o tema já havia sido suficientemente debatido e lançou dúvidas sobre a informação, afirmando que há reportagens que são ‘jogadas de forma midiática, sem nenhuma consistência’.

“O presidente do TCU, ministro Augusto Nardes, disse que a decisão sobre o adiamento cabia ao relator. A exemplo de Adams, Walton manifestou-se contrariamente à suspensão do julgamento. Em seguida, recebeu um tablet com a reportagem do Globo. Adams disse que a notícia não altera os argumentos apresentados por ele há duas semanas, e afirmou ter certeza de que Graça e demais diretores poderão esclarecer tudo ‘com tranquilidade’:

“— Não há nenhuma fuga patrimonial. Não há como você achar que, eventualmente, se houve uma transferência pontual, isso representa fuga patrimonial. Fuga patrimonial é desfazimento integral de patrimônio em favor de laranjas, em favor de pessoas não identificadas, de forma que você não possa recuperar esse patrimônio. Não é o caso.

“No início da noite, a Petrobrás divulgou nota para ‘refutar veementemente’ a informação de que a doação dos imóveis objetivou burlar alguma decisão do TCU. ‘A presidente não estava incluída dentre as pessoas nominadas no acórdão como potenciais responsáveis por supostos danos ao patrimônio da companhia’, diz a nota.

“A estatal informa que Graça tem ‘documentos pessoais’ que comprovam a iniciativa de transferir os bens desde junho de 2013. ‘Doações de bens são atos legítimos, previstos em lei e objetivam evitar futuros conflitos entre herdeiros. Esses procedimentos foram: avaliações de imóveis, obtenção de certidões, verificação do valor dos custos e tributos incidentes, elaboração das minutas das escrituras e sua posterior formalização, bem como os competentes registros imobiliários, culminando todos esses atos em 20 de março e 9 de abril de 2014.’

“O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, afirmou que as doações não tiveram o objetivo de dissimular a propriedade dos bens:

“— Ele resolveu fazer em vida o que seu pai já havia feito, dividindo os bens com os filhos. Em junho, não havia qualquer decisão do TCU e, além disso, a diretoria não tem absolutamente nenhuma responsabilidade sobre isso (os prejuízos com Pasadena). A idéia não foi dilapidar o patrimônio, pois os imóveis ficaram com a família. Foi uma atitude normal.” (Vinicius Sassine, Eduardo Bresciani e Demétrio Weber, O Globo, 21/8/2014.)

Coerência zero

* Há 12 anos o PT usa a Petrobrás como arma eleitoral. Agora vem a presidente dizer que não se deve falar de Petrobrás na campanha

“Voltas que o mundo dá. A presidente Dilma agora acha que a Petrobrás deve ser preservada da campanha eleitoral. ‘Se tem uma coisa que tem que se preservar, porque tem que ter sentido de Estado, sentido de nação e sentido de país, é não misturar eleição com a maior empresa de petróleo do país. Não é correto, não mostra qualquer maturidade.’

“Quem agora diz isso é a mesma candidata que, a partir de 2009, transformou a partidarização do papel da Petrobrás no pré-sal em plataforma de lançamento de sua candidatura à Presidência. É difícil que alguém já tenha se esquecido da sua campanha eleitoral em 2010, saturada por cenas em que a candidata aparecia, em sondas, plataformas e navios, com mãos lambuzadas de petróleo, envergando indefectíveis capacetes e macacões da Petrobrás.

“O problema é que, desde então, a Petrobrás converteu-se em inesgotável poço de temas espinhosos, que a presidente preferiria não ter de tratar na campanha da reeleição. O Planalto tem boas razões para estar preocupado. O potencial de desgaste político é, de fato, grande.

“Para começar, é preciso ter em mente que, por impressionantes que sejam, as perdas decorrentes das trapalhadas de Pasadena são incomparavelmente menores que as envolvidas no faraônico projeto da Refinaria Abreu e Lima, imposto pelo Planalto à Petrobrás. E, como já tive oportunidade de destacar em artigo publicado neste mesmo espaço, em 4 de julho, sob o título ‘Desperdício em grande escala’, Dilma Rousseff é a figura chave para esclarecer como essa imposição de fato se deu, pois ocupava posições centrais em cada um dos principais elos da cadeia de comando com que o Planalto controlava os investimentos da Petrobrás. Era, ao mesmo tempo, ministra-chefe da Casa Civil da Presidência, coordenadora do PAC e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás.

“Mas as dificuldades com as duas refinarias são apenas parte dos espinhosos problemas que vêm aflorando na empresa. O irresponsável represamento de preços de combustíveis vem não só impondo grande desgaste ao governo, como exigindo dotes de malabarista para tentar manter um discurso que faça sentido sobre a questão. A rápida deterioração das contas da Petrobrás, na esteira da ‘queima de caixa’ decorrente desse represamento, vem reforçando expectativas de que o governo não terá como deixar de aumentar preços de combustíveis logo após as eleições. Mas, empenhado em vender a idéia de que a inflação voltará a ficar abaixo do teto de tolerância da meta no fim do ano, o governo não quer dar alento a expectativas de um ‘tarifaço’ pós-eleitoral. É o que explica as manifestações desencontradas sobre correção de preços dos combustíveis que vêm sendo feitas pelo governo e pela Petrobrás.

“Em entrevista ao Valor de 11 de agosto, Rui Falcão, presidente do PT, preocupado com a questão, apresenta a melhor racionalização que conseguiu articular para a política de represamento de preços de gasolina: ‘…Você tinha que fazer uma escolha entre remuneração de acionistas e o poder aquisitivo da população. E a Petrobrás, além de ter acionistas, é um patrimônio do povo brasileiro.’

“A racionalização revela visão confusa e deturpada do problema. O povo brasileiro, através do Tesouro, é o acionista controlador da Petrobrás. Manter preços de gasolina irrealistas é uma política pervertida que subsidia proprietários de automóveis à custa do povo brasileiro. O governo só teve de apelar para esse represamento populista de preços porque não soube conduzir a política macroeconômica. Agora, só lhe resta tentar evitar na marra que a inflação fique ainda mais alta do que já está.

“Sobram razões para o Brasil lamentar o desaparecimento prematuro de Eduardo Campos, um dos políticos mais talentosos e promissores de que o País dispunha. Como bem mostrou sua entrevista ao ‘Jornal Nacional’, na véspera do acidente que lhe foi fatal, o candidato do PSB à presidência tinha visão extremamente lúcida da urgência de se dar encaminhamento mais consequente às grandes questões que hoje afligem o país.” (Rogério Furquim Werneck, Estadão e O Globo, 15/9/2014.)

A infra-estrutura em frangalhos

* Por capricho ideológico, o governo não fez avançar as obras necessárias ao país

“Não se trata apenas de esperança. Desde que passaram a ser geridos nos moldes do setor privado, os aeroportos de Guarulhos, Brasília e Campinas só melhoram.

“Investimentos que andavam a passos lentos foram acelerados, e a flexibilidade na administração permitiu que medidas emergenciais pudessem ser adotadas para facilitar a vida dos usuários. Essa experiência deve se repetir agora nos aeroportos do Galeão e de Confins, entregues para a gestão privada.

“Como porta de entrada para muitos visitantes, a primeira impressão deixada pelos aeroportos dessas cidades era (e ainda é, no caso do Rio) terrível. Outros países, economicamente menos desenvolvidos que o Brasil, e com tráfego aéreo menor, conseguiram renovar os aeroportos, assegurando mais conforto aos usuários.

“Por capricho ideológico, o Brasil relutou em seguir o exemplo internacional e manteve os grandes aeroportos sob a administração de uma estatal federal (Infraero) com visão ultrapassada na gestão desse tipo de infra-estrutura. Diante de uma situação quase insuportável, os governos Lula e Dilma acabaram cedendo e concordaram em transferir a administração de grandes aeroportos para consórcios formados majoritariamente por instituições de direito privado. Mesmo assim, sob a condição que a estatal Infraero permanecesse com participação acionária de 49% nesses consórcios.

“Além de obter uma expressiva receita direta com as concessões, o Tesouro não terá mais a responsabilidade de subsidiar os investimentos necessários ao bom funcionamento desses grandes aeroportos. As tarifas cobradas dos passageiros e das companhias aéreas continuarão reguladas pelo poder público. É uma receita importante, mas não foi a principal fonte de atração dos grupos de investidores que disputaram os leilões. Pelos aeroportos circulam diariamente milhares de pessoas, consumidores com razoável poder de compra. A utilização inteligente de espaços disponíveis pode fazer com que esses consumidores se ocupem nos momentos de espera, adquirindo produtos, alimentando-se, entretendo-se ou usufruindo de algum outro serviço.

“A experiência bem-sucedida da concessão de serviços públicos ainda não conseguiu vencer o preconceito ideológico contra tais investidores, infelizmente. Sem alternativa, o governo tem promovido licitações dos serviços, mas sempre criando restrições que retardam o processo ou afastam interessados. Várias licitações de rodovias fracassaram simplesmente porque as autoridades insistem em definir taxas internas de retorno do capital, a partir de cálculos alheios à realidade de mercado. Se esse preconceito fosse vencido, o ritmo de investimentos na infra-estrutura poderia ter se multiplicado, contribuindo para um crescimento menos insatisfatório da economia.” (Editorial, O Globo, 15/8/2014.)

* Obra de ferrovia na Bahia avança pouco, mas recebe R$ 600 milhões em aditivos

“Nos últimos 12 meses, pouco se viu de avanço físico nas obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), empreendimento da estatal Valec, em construção na Bahia. Nas planilhas de custos, porém, a multiplicação dos gastos desconhece paralisações. De agosto de 2013 para cá, a ferrovia baiana viu seu orçamento explodir em quase R$ 600 milhões, segundo dados oficiais obtidos pelo Estado.

“Os oito lotes da obra, que um ano atrás tinham investimento total previsto em R$ 4,335 bilhões, já chegam a R$ 4,904 milhões e, certamente, não devem parar por aí, dada a etapa inicial em que está o empreendimento. Na lista das revisões de orçamento dos 1.022 km de extensão da Fiol, chama a atenção a situação de três lotes. Trata-se do trecho de 320 km que liga o município de Luís Eduardo Magalhães a São Félix do Coribe, além de uma ponte de 3 km de extensão prevista para cruzar o Rio São Francisco. Há um ano, o índice de execução de obras nesses lotes era zero. E no zero os trechos continuam até hoje. Seus custos, no entanto, cresceram R$ 130 milhões nos últimos 12 meses e, agora, já chegam a R$ 1,376 bilhão.

“O aumento de gastos estaria relacionado a uma série de fatores: constantes revisões técnicas dos trechos, mudanças de traçado, repactuação de alguns contratos e, finalmente, a saída de empreiteiras de determinados lotes, situação que, se não exigiu a realização de outra licitação, levou a negociações com outras construtoras que tinham participado das concorrências.

“A ferrovia baiana vive hoje duas situações distintas. Nos primeiros 500 km que ligam o município de Caetité até Ilhéus, no litoral do Estado, o avanço das obras era de 47% até julho, de acordo com o balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“Numa segunda parte de 500 km, porém, que avança até o sertão baiano e chega ao cerrado, na região de Barreiras, não foi feito praticamente nada até hoje – a execução é de apenas 2,81% nas obras.

“As obras da Fiol foram iniciadas pela Valec em 2010 e tinham previsão de conclusão em julho de 2013. Hoje, a estimativa do governo é entregar todo o trecho até abril de 2016, um cronograma que as próprias empreiteiras veem com desconfiança.

“No início deste mês, a estatal conseguiu vencer uma etapa que parecia intransponível: a compra de trilhos. Depois de três anos de licitações canceladas e revisadas, finalmente chegou ao porto de Ilhéus uma primeira remessa de 3 mil peças de trilhos fornecidas pela filial espanhola da Arcelor Mittal.

“Atualmente, informa a Valec, há cerca de 5 mil trabalhadores espalhados por todos os lotes da ferrovia. Os trechos que até hoje não tiveram obras iniciadas, diz a estatal, estão em fase de mobilização e instalação de canteiros. No lote 7, na região de Barreiras, a primeira ordem de serviço deve ser emitida em uma semana, segundo a Valec.

Ferrovia depende da conclusão de um porto

“A viabilidade da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) não se encerra na instalação dos trilhos. A operação da ferrovia depende, fundamentalmente, da conclusão de um porto em Ilhéus, já que seu traçado não foi desenhado para avançar até as instalações portuárias atuais da cidade.

“O complexo portuário, que tem orçamento total de R$ 5,6 bilhões, passou os últimos três anos travado em discussões ambientais. Em março deste ano, o empreendimento obteve a licença prévia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o que atesta a sua viabilidade. Há duas semanas, o governo baiano pediu a licença de instalação das obras. A previsão é de que a autorização seja concedida até o início de 2015.

“Com área de 1.865 hectares, a implantação do complexo Porto Sul está prevista para a Praia de Aritaguá, em Ilhéus (BA). O governo da Bahia diz que o projeto colocará o Estado em ‘outro patamar de desenvolvimento’, integrado à ferrovia, e induzirá o crescimento regional.

“O complexo será formado pelo Terminal de Utilização Privada (TUP) da Bahia e pelo TUP da Bahia Mineração (Bamin). Está prevista a movimentação de cargas de todos os tipos, de granel a outras mercadorias em várias formas de acondicionamento. Estima-se, no 25.º ano de funcionamento, operar 100 milhões de toneladas anuais.

“Poucas obras de infra-estrutura enfrentam tantos embates ambientais quanto o porto baiano. Em novembro de 2012, o projeto obteve a licença prévia. Desde então, o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público Estadual (MPE) passaram a contestar a obra. Com a licença prévia nas mãos, o governo baiano corre para implementar os programas básicos ambientais (PBA), divididos em 38 etapas. Trata-se das compensações atreladas aos impactos das obras. Só depois de analisar o cumprimento dos PBAs é que o Ibama decide se concederá ou não a licença da obra.

“Os custos sócio-ambientais do Porto Sul ainda não foram detalhados, mas as estimativas preliminares indicam que a conta rondaria R$ 150 milhões. O cronograma já está comprometido. A expectativa do governo baiano era ter iniciado a obras em meados de junho de 2013. Hoje, na melhor das hipóteses, os trabalhos nos canteiros de obras devem começar em 2015.

“Muitos lotes da ferrovia passaram anos paralisados por pendências ambientais apontadas pelo Ibama e irregularidades encontradas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Somente em abril deste ano a Valec conseguiu autorização para tocar as obras em todo o traçado. Os atrasos também foram causados por questionamentos de empresas e do TCU sobre as licitações dos trilhos, sob alegação de que elas restringiam a competitividade de interessados.

“Em 2013, auditores do TCU chamaram a atenção para outro problema grave: o descolamento entre os cronogramas da ferrovia e do Porto Sul. Há riscos de que os dois empreendimentos fiquem prontos com diferença de até três anos. Ou seja, não haveria por onde escoar a carga transportada. Essa lacuna, segundo o tribunal, pode gerar perdas de até R$ 1,996 bilhão aos cofres públicos.” (André Borges, Estadão, 17/8/2014.)

Dentro do Planalto, caluniando jornalistas

* O caso do ataque na Wikipédia não é coisa de aloprado, mas um exemplo extremo que revela, em toda a sua profundeza, o abismo em que nos lançaram

“Internet é isto mesmo: um território livre onde se trocam informações, críticas e insultos. É raro uma pessoa pública nela encontrar apenas elogios. E raro um texto sobre ela que não desperte comentários sacanas. Wikipédias, desciclopédias, com informações truncadas, dizem o que querem e, se as pessoas acreditassem firmemente no que leem na rede, ficariam paralisadas caso encontrassem um personagem dos verbetes, o médico e monstro. Suas reações seriam como as de Alec Guines no Dr. Strangelove, de Stanley Kubrick: os gestos desmentiriam as palavras, o abraço se transfiguraria num soco, e vice-versa.

“Num prefácio para o livro do treinador Rômulo Noronha sugeri a natação como uma das táticas para enfrentar comentários negativos. Você os lê, mergulha e, nos primeiros cem metros, começa a achar que não foram tão graves assim. Nos 400 metros, já admite que talvez possam ajudar você de alguma forma, na autocompreensão ou na aceitação do mundo.

“Algo muito grave acontece quando os ataques nascem num computador do Palácio do Planalto, sede do governo federal. É o caso das inserções feitas na biografia dos jornalistas Carlos Sardenberg e Miriam Leitão.

Como sempre, o governo reagiu, a princípio, dizendo que era difícil rastrear a origem das notas, os dados foram desmanchados – a mesma tática usada para as gravações das câmeras naquele problema de Dilma Rousseff com uma diretora da Receita Federal. A segunda explicação também é clássica: o Wi-Fi do Planalto é usado por visitantes, pode ter sido alguém de fora – de preferência, da oposição.

“Às vezes paro para pensar: por que o PT faz tanto mal a si próprio? Deixo o campo estritamente moral para raciocinar apenas de uma forma política. O caso do Santander é típico: uma nota realista sobre o comportamento do mercado provocou uma grande reação, sua autora foi demitida e o banco, forçado a se derreter em desculpas.

“O mercado deve ser livre para fazer suas previsões. E arcar com as consequências. O mercado tinha uma visão negativa no primeiro mandato de Lula. E errou, pois o País iniciou um processo de crescimento.

A pressão contra o Santander, além de sugerir censura, amplificou a análise do banco, que em outras circunstâncias ficaria restrita aos clientes especiais. Assim mesmo, aos que se orientam politicamente por cartas bancárias. O governo conseguiu transformar uma simples análise num debate nacional, o que era um consenso entre analistas de mercado se tornou uma consistente crítica à política econômica de Dilma.

A julgar pelo digitador do Palácio do Planalto, as coisas estão pegando aí, na política econômica: os dois jornalistas atingidos são críticos das medidas do governo com base nas evidências.

“No universo político, a artilharia sempre foi comandada pelos blogueiros mantidos por empresas do Estado. Eles cuidam de nos combater com dinheiro público e racionalizam essa anomalia com a tese de que uma verba muito maior é usada pelos meios de comunicação que criticam o governo.

“Os intelectuais dissidentes em Cuba dão de barato que o governo os vigia, os boicota e promove campanhas para assassinar sua reputação. Mas é uma ditadura.

“Num país democrático, essas práticas, além de condenáveis, não são eficazes. Todo este universo de rancor acaba se voltando contra os agressores, que, como dizem os orientais, sempre se desequilibram no ataque. Os nove jornalistas atacados, nominalmente, por um dirigente do PT tiveram a solidariedade internacional, uma nota de apoio da organização Repórteres sem Fronteiras.

“O PT sabe que existe um nível de rejeição ao partido nas grandes cidades – em Vitória os petistas já não usam estrelas e bandeiras vermelhas, talvez nem barba. O que parece não perceber é como seus movimentos autoritários aumentam a rejeição. É como se um partido abrisse mão de seduzir e se focasse apenas em intimidar.

“Esse é um jogo muito perigoso. Em primeiro lugar, porque há muitos homens e mulheres que não se intimidam. Em segundo, porque envenena uma atmosfera que já é medíocre com atos de campanha sem graça, muitos bebês no colo, Dilma comendo cachorro-quente. Come cachorro-quente, pequena. Olha que não há mais metafísica no mundo, senão cachorro-quente.

“O PT conseguiu construir uma linguagem própria. O verbete aloprado é um descoberta para se distanciar de seus combatentes da guerra suja. Digo com conhecimento de causa. Depois das eleições de 2006, interroguei todos os chamados aloprados. Era estranho que aloprados tivessem coletado mais de R$ 1 milhão. Mais estranha, ao longo dos interrogatórios, a recusa em responder, a frieza matemática em usar os mecanismos legais em sua defesa. Aloprados?

“Se um dia aparecer o aloprado do computador do Planalto, observem como se esquiva, como é difícil achar nele algum traço que o defina como aloprado, como resiste às provocações. Ele é resultado de uma cultura que domina a política brasileira desde 1992. A constante tentativa de liquidar o outro é uma arma típica de ditaduras. Infelizmente, para uma grande parte da esquerda, a democracia ainda não é um valor estratégico.

Não sei qual será o resultado das eleições. Mas acho que o PT faz tudo para merecer uma derrota, algo que lhe dê pelo menos a chance de refletir sobre o período sombrio que acabou instalando no Brasil.

Uma força verdadeiramente democrática, à esquerda, seria boa para o futuro.

“Será que é preciso que Cuba desmorone, que a Venezuela fracasse mais claramente, para que os petistas se convençam de que esse não é o caminho?

“Sei que assim procedendo me exponho ao Twitter de todos vocês. Mas é preciso combater essa cultura de ressentimento e mediocridade que leva um digitador do Palácio do Planalto a dedicar sua tarde ao ataque a jornalistas na Wikipédia.

Não é um aloprado, mas um caso extremo e talvez cristalino: revela, em toda a sua profundeza, o abismo em que nos lançaram.” (Fernando Gabeira, Estadão, 15/8/2014.)

Os fundos de pensão tomados de assalto

* Funcionários tentam tirar do fundo dos Correios os diretores indicados pelo PT e PMDB que causaram rombo de R$ 2,2 bilhões

“Três associações de funcionários dos Correios anunciaram que vão pedir, nesta quarta-feira, intervenção da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), vinculada ao Ministério da Previdência Social, no fundo de pensão da estatal, o Postalis. As associações argumentam que a gestão política de diretores indicados por PT e PMDB no Postalis levou a ‘operações suspeitas’ que explicariam o rombo de R$ 2,2 bilhões acumulado entre 2013 e 2014.

“Maior fundo de pensão do Brasil em número de participantes, com cerca de 140 mil contribuintes, o Postalis tem hoje um patrimônio líquido de R$ 5,4 bilhões no principal plano do fundo. Dado o valor do déficit, os participantes temem um aumento na contribuição mensal para cobrir o rombo e, mesmo assim, não ter o retorno esperado em suas aposentadorias.

“‘Quem perde 25% do patrimônio em dois anos está numa situação muito difícil, que mereceria intervenção externa enquanto ainda, talvez, haja alguma esperança de recuperação’, diz uma avaliação feita pelas associações a que O Estado teve acesso. O pedido é subscrito pela Associação dos Profissionais dos Correios, a Federação Interestadual dos Trabalhadores dos Correios e a Associação Nacional dos Participantes do Postalis.

“Outro argumento que será usado a favor da intervenção será que os prejuízos da gestão política não atrapalham apenas os contribuintes do Postalis, mas também a Previ (do Banco do Brasil), o Petros (Petrobrás) e outros fundos de estatais. ‘Trata-se, portanto, de um tema nacional, oportuno no momento em que o País se prepara para escolher seu novo presidente’, avalia o documento.

“As associações querem aproveitar o momento em que a relação dos fundos de estatais com partidos está no radar da operação mais notória da Polícia Federal em 2014: a Lava Jato, que prendeu o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa. A relação foi revelada por uma ex-contadora do doleiro, Meire Bonfim da Silva Poza, em depoimento à PF.

“Entre os ‘negócios mal explicados’ feitos pela cúpula do Postalis, apontam as associações de funcionários dos Correios, está uma operação com o Banco BNY Mellon atribuída a Youssef e ao ex-diretor financeiro do Postalis Ricardo Oliveira Azevedo. O negócio levou, segundo as associações, a prejuízo causado pela troca de títulos da dívida brasileira por papéis argentinos. Oliveira se demitiu do cargo em outubro de 2013, após uma investigação do Previc lhe atribuir responsabilidade por prejuízos ao fundo.

“Também estão na lista de maus negócios que aumentaram o rombo, segundo os funcionários, a compra de títulos da Venezuela, de ações de empresas de Eike Batista e da Universidade Gama Filho e UniverCidade – ambas endividadas e descredenciadas pelo Ministério da Educação este ano.

“Em nota, o Postalis afirmou que a maior parte dos investimentos está em títulos públicos federais com taxas acima da meta de rendimento fixada e que a diretoria presta esclarecimentos, ‘de forma sistemática’, à Previc. A assessoria afirmou que ‘o Postalis não tem mais em sua carteira nenhum ativo do Grupo X e não trabalha mais com o gestor terceirizado responsável pela realização desses investimentos’.

“Sobre as universidades, informou que, após o descredenciamento pelo MEC, ‘solicitou o vencimento antecipado das parcelas’, reconheceu a possível perda ‘e tomou as demais medidas jurídicas cabíveis para proteger os seus direitos’.” (Fábio Brant, Estadão, 20/8/2014.)

22 de agosto de 2014

Outras compilações de provas da incompetência de Lula e do governo: 

Volume 140: Notícias de 9 a 15/5/2014.

Volume 141: Notícias de 16 a 22/5/2014.

Volume 142: Notícias de 23 e 29/5/2014.

Volume 143: Notícias de 30/5 a 5/6/2014. 

Volume 144: Notícias de 6 a 12/6/2014. 

Volume 145: Notícias de 13 a 19/6/2014.

Volume 146: Notícias de 20 a 26/6/2014.

Volume 147: Notícias de 27/6 a 3/7/2014.

Volume 148:  Notícias de 4 a 10/7/2014.

Volume 149: Notícias de 11 a 17/7/2014.

6 Comentários para “Más notícias do país de Dilma (150)”

  1. CONTAGEM REGRESSIVA!
    FALTAM APENAS 132 DIAS PARA O FIM DAS MÁS NOTÍCIAS!

    De volta as ¨Más Notíicias¨, nada mudou, traz as compilações de matérias do PIG, arduamente coletadas em O GLOBO e ESTADÃO, veículos que remuneram bem aos merdais. “50anosdetextos” traz de volta, as quinas feiras, uma espécie de revista semanal com as más notícias, parece com a a VEJA.

  2. Aumenta a esperança de mudanças. A morte e a tagédia criaram o bordão: Não deixem de acreditar no Brasil!
    Marina´S NELES.

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