Gabo

O caixão com o corpo do Gabriel García Márquez teve que ser levado na mão, por trezentos metros. Vencida mais ou menos a metade, um homem que segurava uma das seis alças (parece que era o Vargas Llosa) sentiu-se mal e teve que desistir. A alça ficou vazia, mas os que continuaram perceberam que algo estranho se passava. Parecia que o caixão estava menos pesado.

À medida em que avançavam, o caixão foi perdendo cada vez mais peso. Ficou leve… leve. Quando deram por si, o próprio Gabo segurava o caixão, pela alça vaga. Ninguém ousou abrir a boca, e assim seguiu o féretro. Chegou-se ao túmulo. O que aconteceria agora?

Um drone se aproximou e, como um pássaro intruso, começou a sobrevoar o grupo que formara o séquito. Devido à perplexidade geral, o caixão fora deixado no chão. Quando deram por si, Gabo não estava mais à vista. O caixão começou a vibrar e produzir um ronco cada vez mais forte. Todos se assustaram, menos Manuel Scorza e Juan Rulfo, que qualquer daquelas pessoas juraria que não estavam entre eles, mas agora estavam.

E já não estavam mais. Subitamente, o caixão começou a se mover. Correu pela alameda e decolou. Antes de se afastar, a tampa abriu-se e Garcia Marques, Scorza e Rulfo apareceram sorridentes, acenando lencinhos brancos. O drone ganhou altura e sobrevoou a cova vazia por cinco vezes. Agora puxava um banner, onde se lia: “Obrigado, amigos. Nunca se esqueçam de mim”.

Quem esqueceria?

18 de abril de 2014

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