Fortes emoções

Abaixa que aí vem lama.

Mal os reis magos terminaram a sua tarefa de entregar ouro, incenso e mirra ao menino recém-nascido, o que marca para o calendário gregoriano de nossas atribulações o início efetivo de um longo ano de trabalho, futebol e eleições, a pax natalina dá lugar às primeiras escaramuças de guerra.

Não vamos incomodar a nobre família Sarney, que conduz os destinos do Maranhão há quase 50 anos, lembrando coisas desagradáveis como a chacina dos presídios ou o ataque incendiário a um ônibus que matou uma menina de 6 anos.

O octogenário patriarca acha até louvável que a governadora – sua filhota – tenha conseguido circunscrever a violência às paredes internas dos presídios, enquanto ela se incomodou mais com a notícia do fato do que com o fato em si. São agruras, sim, mas nada que 80 quilos de lagosta ou 1.500 de camarão fresco não amenizem.

Mas não era a nobre família Sarney que queríamos incomodar. O período pós-reis magos serviu para registrar o clima em que a campanha eleitoral promete descambar, entre um gol de Neymar e outro, na épica busca por mais uma Copa – que acontecerá com ou sem os pitos de Joseph Blatter.

Os enternecedores olhos verdes do companheiro governador de Pernambuco, neto do lendário Miguel Arraes, subitamente se tornaram opacos, aquele seu sorriso franco ganhou um esgar de falsidade e aquele seu espírito de realizador na verdade não passava do cínico oportunismo de um aproveitador mal agradecido, que ganhou todos os mimos do papai presidente e da mamãe presidenta, mas cuspiu no prato em que comeu.

Eduardo Campos cometeu o maior dos pecados que pode cometer um tutelado do poder: anunciou a sua intenção de tentar a sua carreira solo, de candidatar-se à presidência da República fora do regaço paterno, deu uma guinada à direita, transformou-se em instrumento da burguesia e não passarão nem 7 dias nem 7 noites para tornar-se, pasmem todos , num coxinha reaça, que é o maior e mais profundo dos insultos que o novo dicionário ideológico pós marxista foi capaz de produzir neste começo de século.

Um texto de autor anônimo – tão anônimo que nem o presidente do partido sabe quem é o autor – publicado na página do PT no Facebook já ensinou ao dissidente atrevido com que tipo de gentileza é que se devem ser tratados os aliados quando se dão ao luxo de dissentir.

O texto chamou o governador de Pernambuco de “tolo”, de ingrato (adivinhem a quem ele deve tudo o que ele é?) e comemora o fato de seu histórico avô não estar vivo para presenciar tanta torpeza e traição, como essa de querer seguir seu próprio caminho.

Além da danação do fogo eterno a que condena o desertor, o texto, que Campos chamou de “ataque covarde”, antecipa as fortes emoções que o alto nível e a delicadeza do debate programático sobre os problemas brasileiros nos proporcionará na campanha eleitoral de 2014.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 10/1/2014,

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