A grande bolada

A única grande bolada que eu recebi, foi com bola mesmo. Chutada por um profissional amigo, a redonda bateu em cheio em meu rosto e me abalou um dente. A que todos nós gostaríamos de receber nunca vem, mesmo que façamos de vez em quando uma aposta na loteria do governo. Que, sendo de empresa governamental, sempre causa uma certa desconfiança, com prêmios que sempre se acumulam e acabam saindo para alguém de uma pequena cidade que nem existe no mapa. A mão grande dos governantes federais é insaciável, capaz dos mais variados artifícios para esvaziar nossos bolsos do fruto de nosso trabalho suado. Todo cuidado é pouco e toda suspeita vale.

As boladas não são para nós, cidadãos, mas as porradas sim. Leio, por exemplo, as declarações do coronel Sarney sobre os quase sessenta assassinatos e os estupros na penitenciária de São Luiz: “a violência ficou restrita aos portões da prisão”. Como se a capital do Estado que ele e os seus governam há quase sessenta anos não fosse exemplo de miséria, insalubridade, falta de educação e crueldade. Esse é o aliado maior dos antes puros, dos defensores da justiça e dos pobres até que as portas dos palácios se abriram para eles.

Outro aliado cara de pau viaja de jato para implantar cabelos em Recife. Passeio pago com o que nos tiram diariamente com impostos, taxas e burocracia.

Mais porrada, essa atingindo os músicos e compositores brasileiros. O Senado e a Câmara, irresponsavelmente, passando por cima de qualquer discussão, aprovaram em junho uma lei nefasta, que a presidente sancionou. No momento estamos discutindo a questão, democraticamente, no Supremo. O golpe da aprovação da lei foi apenas um capítulo a mais na série de agressões que os autores vêm recebendo desde que o atual partido governista se instalou em Brasília, há quase doze anos.

Não ouvi nem li nenhuma palavra do Lula, quando candidato, sobre o propósito de nos perseguir. E não acredito que essa tenha sido idéia dele. Desde os primeiros momentos de seu primeiro mandato, porém, dentro do Ministério que deveria cuidar da cultura se instalou um pessoal que parece odiar os criadores de canções. Queriam passar os direitos dos músicos para o pessoal do cinema, mas como, ao mesmo tempo, desejavam mesmo é destruir a grande empresa de comunicação do país, tiveram de recuar. Passaram a falar em flexibilizar os nossos direitos, entregá-los para as telefônicas. E por aí seguiram. Como havia alguns antropólogos nesse grupo, cheguei a pensar que o que eles tinham em mente era nos exterminar para nos estudar, conhecer essa nossa gente estranha e rara.

Sei que a briga continua e este vai ser um ano importante. Não quero bolada e muito menos porrada. Quero ter reconhecidos os meus direitos. Paz e harmonia para continuar criando canções.

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em dezembro de 2013. 

4 Comentários para “A grande bolada”

  1. Faço as seguintes considerações e presto uma significativa homenagem ao dono do Maranhão e Amapá.
    O atual senador e ex-presidente da República José Sarney deve estar se sentindo o canalha mais feliz da terra.
    Enfim, o império construído ao longo de mais de 50 anos está respondendo aos objetivos traçados.
    Sarney está feliz como pinto no lixo, sua obra ganha reconhecimento internacional.
    Sarney enfim pode morrer, a edificação do Maranhão ( o Amapá está em obra) está se concluindo num vasto exemplo imperial. Construído em sólida humanidade. Pedra sobre pedra, pedrinhas sobre pedrinhas num grande colosso arquitetônico de imagens incontestes.
    Sarney está orgulhoso, ninguém conseguiu tanta proeza e grandeza segurando o cabo do chicote.
    A família Sarney é só festa, de mediocridade, canalhice, de barbárie, de falta de lustre, de dignidade. Por essas razões José Sarney é rei onde pisa
    O império sem luz faz de Sarney o melhor entre os piores, o melhor entre a escoria, o melhor entre a pior imundice do universo.
    Só Sarney consegue ser o catarro, a doença, a bactéria, o vírus, a infecção, a moléstia numa só pessoa.
    A penitenciaria de Pedrinhas é o Sarney por dentro.
    E Sarney não está sozinho já tem vários adeptos, mas só um sucessor a altura. O nome dele já é aclamado e conhecido. O nome dele… é Lula.

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