O paradoxo de Abilene

“O paradoxo de Abilene” é uma fábula clássica usada pelas consultorias de gestão de empresas que mostra como as circunstâncias podem levar um grupo de pessoas a agir de uma forma oposta às suas preferências.

A fábula é ilustrada por um filmete que mostra como um grupo de pessoas de uma mesma família, mesmo que nenhuma delas queira, é levada a fazer um passeio a uma cidade mormacenta e desprovida de graça chamada Abilene, no interior do Texas.

É impossível não pensar no paradoxo de Abilene quando você vê uma pesquisa de avaliação de desempenho de um governante, onde ele é reprovado em 6 dos 9 itens de avaliação de gestão e, mesmo assim, no total, atinge uma soma que satisfaz seus seguidores e seus estrategistas, que acordam e dormem pensando nas próximas eleições.

Também não dá pra deixar de pensar no paradoxo de Abilene quando você vê um líder quase histórico do PC do B, Aldo Rabelo, que está longe de ser um cosmopolita e um apreciador das mazelas do internacionalismo capitalista, exercendo com grande maestria o comando de um evento esportivo super-capitalista, comandado pela gananciosa e globalizada Fifa, que não é propriamente um exemplo de fraternidade proletária.

Rabelo, tão nacionalista que queria trocar o Halloween pelo dia do Saci e andou querendo reprimir estrangeirismos de linguagem, admitiu tranquilamente que a entidade transnacional que comanda o business futebolístico pudesse patrocinar a violação das leis do Pais, suspendendo temporariamente a venda de bebida alcoólica nos estádios durante a Copa do Mundo justamente para que o evento seja tão lucrativo quanto possível. (Sem falar nas demais mazelas, excessivas para este espaço).

Impossível não associar o paradoxo de Abilene à política do governo de facilitar a venda de automóveis para aquecer o consumo e a indústria, isentando de impostos e enchendo as ruas de carros financiados a perder de vista enquanto promove infinitos estudos, seminários e teses sobre mobilidade urbana.

E ao mesmo tempo em que o prefeito de São Paulo abre faixas exclusivas para ônibus, espreme os carros, esperando expulsá-los das ruas para que todos usem um transporte coletivo que não existe.

Paradoxo é também o fato de que o eterno dr. Pangloss da economia, o ministro Mantega, tenha fornecido a uma oposição carente de propostas e idéias um mote para a próxima temporada eleitoral, dizendo que a economia brasileira “está manca das duas pernas”.

Nenhum marqueteiro da oposição teria coragem de pôr para circular uma frase dessas, mesmo porque acabaria por ser chamado de traidor da Pátria.

Quando descreveu o paradoxo de Abilene, o professor Jerry Harvey não conhecia o Brasil e falava apenas de gestão empresarial. Todo mundo concorda em fazer o que não tem vontade de fazer porque acha que todos os outros querem, mesmo que ninguém queira.E a viagem a Abilene é um tormento.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 20/12/2013. 

2 Comentários para “O paradoxo de Abilene”

  1. Sandro, se o governo falha em nos dar o pão, pelo menos nos dá fartamente o circo, com as constantes mancadas da fala de Manteca.

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