Más notícias do país de Dilma (94)

Já se disse que às vezes a presidente Dilma Rousseff exibe um lado Chacrinha, o que dizia ter vindo para confundir, não para explicar. Pode ser pura implicância. Mas a presidente às vezes exibe também um lado elefante, daqueles que invadem a loja de cristais.

Tome-se por exemplo o almoço de segunda-feira, 8 de abril, para o qual ela convidou três economistas que não fazem parte do governo – Antonio Delfim Netto, Luiz Gonzaga Belluzzo e (estranhamente, eu diria) Yoshiaki Nakano. A lógica diz que ela chamou para ouvir as opiniões dele sobre os problemas econômicos que o país enfrenta. (Não deve ter sido para conversar sobre a Seleção Brasileira, hoje dirigida pelo ex-técnico do Palmeiras, nem para falar sobre a atual campanha do time do clube que já foi presidido por Belluzzo.)

Poderia até ser uma boa notícia: talvez a presidente estivesse começando a achar que a condução da economia, teoricamente a cargo de seu ministro da Fazenda, pode não ser a mais adequada. Talvez fosse uma demonstração de humildade: a presidente poderia estar querendo ouvir conselhos de gente de fora. (Embora saiba-se que a presidente é mais de falar, com todas as certezas do mundo, e em geral de falar em tom que humilha os interlocutores, mas tudo bem.)

Ao mesmo tempo, porém, uma presidente mostrar ao país e aos agentes econômicos que está duvidando do taco da sua equipe não chega a ser inspirador de muita confiança – e o mercado, os empresários, precisam ter confiança nas ações do governo.

O fato de que um dos excelsos convidados foi o czar da economia dos generais-presidentes da ditadura também não chega a inspirar muita confiança.

Mas a loja de cristais fica mesmo ameaçada é porque, com essas andanças elefantíacas, destrambelhadas, a presidente da República andou quebrando ainda mais a confiança dos que ainda acham que o Banco Central é livre para atuar contra a inflação.

Como disse o Estadão em editorial da quarta-feira, dia 10:

“Qualquer decisão do Copom na próxima semana poderá ser vinculada ao Palácio do Planalto. Se a taxa básica for mantida em 7,25%, terá prevalecido, mais uma vez, a ojeriza da presidente à alta dos juros. Se a taxa for aumentada, a mudança será atribuível a uma autorização sua, influenciada por seus conselheiros. (…) Em resumo: ao marcar aquele almoço a presidente Dilma Rousseff mais uma vez pôs em xeque a já desgastada imagem de um Copom com autonomia operacional para conduzir o combate à inflação. As ações presidenciais tornam cada vez mais difícil acreditar em um BC autônomo, capaz de agir sem instruções emanadas do Palácio do Planalto.”

O editorial é de quarta. No mesmo dia, o IBGE divulgou o IPCA de março, de 0,47%, o que resulta numa inflação acumulada de 6,59% nos últimos 12 meses – furando o teto da meta.

Como disse outro editorial do Estadão, da segunda, dia 8: “O governo do PT vai desarranjando ainda mais uma economia que tem nítidas dificuldades para crescer e vai gerando o ambiente para a pior das situações – estagnação com inflação em alta e contas públicas desarranjadas.”

Aí vai a 94ª compilação de notícias e análises que comprovam a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial. Foram publicadas entre os dias 5 e 11 de abril.

A inflação

* Inflação pelo IPCA em 12 metos fura o teto da meta

“A inflação deu uma leve trégua em março. O IBGE informou ontem (10/4) que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, usado nas metas de inflação do governo) ficou em 0,47%, abaixo do 0,60% registrado em fevereiro e inferior às projeções dos analistas do mercado, que previam uma alta de 0,50%. Mesmo assim, pela primeira vez desde novembro de 2011, o IPCA acumulado em 12 meses estourou o teto da meta de inflação perseguido pelo governo. O índice subiu 6,59% nesta conta – a meta de inflação do governo para este ano é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos para baixo e para cima, ou seja, no limite, até 6,5%.

“No mês passado, os alimentos subiram 1,14% e tiveram o maior impacto na inflação, respondendo por mais de metade do índice (0,28 ponto percentual). Em 12 meses, acumulam alta de 13,48%. O grupo serviços, cujos preços têm subido devido ao mercado de trabalho aquecido, também tem pressionado a inflação e já registra alta de 8,37% nos últimos 12 meses. Em março, a alta dos serviços foi de 0,26%. O custo do empregado doméstico, que em fevereiro subiu 1,12%, teve aceleração, para1,53% no mês passado. Foi o maior impacto individual do mês, correspondendo a 0,06 ponto percentual do IPCA. Também ajudou a puxar a inflação a alta do etanol, de 3,55%.

“Enquanto alguns economistas viram no ligeiro recuo da inflação em março um alento que pode fazer o Banco Central (BC) adiar para maio uma elevação na taxa básica de juros Selic, outros apontam que o IPCA apresenta ainda um grande número de itens com elevação de preços. Em março, 69% dos produtos pesquisados pelo IBGE subiram. Em fevereiro, este índice de difusão havia sido de 72,3%.

Para o estrategista chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno, a inflação permanece em patamar ainda elevado. ‘Já são três anos de inflação muito acima dos centro da meta, apesar das desonerações que temos visto. O brasileiro está voltando a internalizar um cenário de inflação mais elevada e isso leva a reajustes automáticos de preços e aumenta o esforço necessário para o Banco Central levar a inflação para o centro da meta. O BC tem de agir logo.’” (Clarice Spitz, Eliane Oliveira e Martha Beck, O Globo, 11/4/2013.)

* Ficou claro que a terapia de panos quentes não funcionou. E as condições políticas começam a mudar

“O fato mais notável na inflação de março não foi o sobe e desce dos números. Foi ter caído na boca do povo e virado motivo de piadas. Ou seja, a inflação deixou de ser assunto exclusivamente técnico; ganhou inesperada dimensão política.

“Como sempre, as autoridades farão o jogo do contente. Dirão, como já fazem, que o avanço dos núcleos de inflação e o índice de difusão (medida de quanto a inflação está espalhada) caíram em março sobre fevereiro. Enquanto isso, o povão começa a rir da alta da farinha de mandioca (de 151,4% em 12 meses), do tomate (122,1%), da cebola (76,5%) e do alho (53,1%).

“Ontem (10/4), a apresentadora da TV Globo Ana Maria Braga, por exemplo, passou a maior parte da manhã exibindo um vistoso colar de tomates, ao qual o papagaio dela se referia a todo momento.

“Do ponto de vista técnico, o teto da meta de inflação, de 6,5% ao final do ano, foi perfurado. O índice em 12 meses foi para 6,59%. A credibilidade do Banco Central levou mais um tiro. Sua última projeção no Relatório de Inflação, feita há duas semanas, cravava 6,5% no final do primeiro trimestre – e dava a impressão de estar mais interessado em enfeitar o bolo do que em lhe dar qualidade.

“Até agora, a atitude do governo em relação à inflação foi de tolerância e de pouco-caso. A todo momento, a presidente Dilma se mostrou mais interessada em reverter a sucessão de pibinhos do que em combater a inflação. Há duas semanas, na África do Sul, chegou a condenar políticas de aperto monetário (alta dos juros) por destruírem empregos e força de produção. O desmentido que veio depois não revogou a percepção geral de que o atual governo optou por ser leniente com a inflação.

“Mas as condições políticas começam a virar. Está claro que a terapia de panos quentes não funcionou. Segurar a inflação com desonerações tributárias, como a dos produtos da cesta básica e dos veículos, e com adiamento de remarcações (como dos combustíveis e da condução) criou mais distorções do que controle.

“Diagnóstico e prognóstico do governo estão pelo menos parcialmente equivocados. Essa inflação não é gerada por choques internacionais de oferta (quebra de safras de grãos nos Estados Unidos). Há, sim, um pedaço da inflação proveniente de choque de oferta que não tem nada a ver com o que acontece lá fora. É o que se passa, por exemplo, com a farinha de mandioca, com o tomate e com a cebola.

“Outro pedaço enorme da inflação é produzido por desequilíbrios internos que, mais recentemente, o Banco Central (e aparentemente não o resto do governo) passou a reconhecer. Entre esses desequilíbrios estão a disparada das despesas públicas (política fiscal expansionista); a demanda por bens e serviços exacerbada por transferências de renda; e o mercado de trabalho aquecido demais.

“Há falhas também no prognóstico. A inflação não é o cavalo paraguaio, que sai na frente e, na primeira curva, perde o fôlego. É perigosa pelo risco de se perpetuar, como mostra o segmento dos serviços (alta de 8,37% em 12 meses). Nas atuais condições de baixa capacidade de condução das expectativas pelo Banco Central, a inflação é resistente. Só um antibiótico de espectro largo parece capaz de detê-la.” (Celso Ming, Estadão, 11/4/2013.)

* Mais uma vez a presidente pôs em xeque a já desgastada imagem de um Copom com autonomia para conduzir o combate à inflação.

“A presidente Dilma Rousseff almoçou na segunda-feira, em Brasília, com seus conselheiros econômicos informais, os economistas e consultores Antônio Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo, acompanhados, desta vez, do professor Yoshiaki Nakano, da FGV de São Paulo. Conversaram sobre perspectivas e problemas do crescimento econômico e, naturalmente, sobre inflação e política anti-inflacionária. Na próxima semana o Copom deverá reunir-se para decidir se elevará os juros básicos ou se os manterá em 7,25% por mais algum tempo, à espera de uma acomodação espontânea dos preços. Uma semana antes da reunião do Copom, o encontro da presidente Dilma com seus conselheiros foi no mínimo inoportuno. Ela continua afirmando a autonomia da política monetária, mas continua também, com suas ações estabanadas, alimentando a descrença dos investidores e dos analistas independentes, como fez há poucas semanas com suas declarações à imprensa em Durban, na África do Sul.

“A presidente tem-se mostrado contrária à elevação dos juros para o controle da inflação. Insiste em medidas de outro tipo, como redução de encargos e de alguns preços administrados. O governo estendeu a mais setores a desoneração da folha de salários, promoveu um corte das tarifas de eletricidade e reduziu tributos sobre a cesta básica de alimentos e produtos de higiene. Segundo fontes próximas de seu gabinete, Dilma ainda manifesta a esperança de ganhar tempo com novas ações desse tipo e assim continuar evitando uma alta de juros. Seus conselheiros manifestaram opinião diferente, depois do encontro, e mostraram-se favoráveis a um leve aperto monetário para conter a alta de preços.

“Bem mais preocupante que uma possível tendência de aceleração da alta de preços é a resistência da inflação, segundo Belluzzo. Há pouco tempo essa resistência foi também apontada pelo presidente do BC.

“Com esses antecedentes, qualquer decisão do Copom na próxima semana poderá ser vinculada ao Palácio do Planalto. Se a taxa básica for mantida em 7,25%, terá prevalecido, mais uma vez, a ojeriza da presidente à alta dos juros. Se a taxa for aumentada, a mudança será atribuível a uma autorização sua, influenciada por seus conselheiros. Nesse caso, os artigos dos professores Delfim Netto e Yoshiaki Nakano publicados no jornal Valor de ontem serão considerados prenúncios bem informados da nova política do BC.

“Em resumo: ao marcar aquele almoço a presidente Dilma Rousseff mais uma vez pôs em xeque a já desgastada imagem de um Copom com autonomia operacional para conduzir o combate à inflação.

“As ações presidenciais tornam cada vez mais difícil acreditar em um BC autônomo, capaz de agir sem instruções emanadas do Palácio do Planalto. Essa autonomia existiu na prática durante os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele percebeu a importância política do controle da inflação. Sem isso, as políticas de aumento do salário mínimo e de transferência de renda a famílias pobres teriam fracassado, porque a alta de preços teria corroído os ganhos proporcionados por aquelas políticas. A reeleição de Lula em 2006 foi em grande parte obra do presidente do BC, Henrique Meirelles, e de seus companheiros no Copom. Parece faltar essa percepção à presidente Dilma Rousseff.

“Mas é preciso adicionar um detalhe importante a esse quadro. Ao tentar a substituição da política monetária por uma ampla bateria de benefícios fiscais, Dilma comete um erro enorme. Desonerações fiscais são inúteis contra a inflação. Podem reduzir alguns preços a curto prazo, mas novos aumentos ocorrerão, porque os fatores inflacionários continuarão intactos. Em segundo lugar, cortes de impostos e contribuições afetam as contas públicas e reforçam o perigoso expansionismo fiscal apontado mais de uma vez pelo BC. Sem disciplina fiscal, sobra o aperto monetário como remédio contra a inflação. Enfim, estímulos fiscais dirigidos principalmente ao consumo, como no Brasil, são inúteis quando o desafio é aumentar a eficiência geral da economia e seu potencial de crescimento.” (Editorial, Estadão, 10/4/2013.)

* “Ao adotar desonerações tributárias para setores escolhidos para controlar a inflação, o governo comete uma série de equívocos”

“A maneira pela qual o governo vem tratando a questão inflacionária no Brasil deixa só duas interpretações possíveis: ou ele não sabe o que é inflação ou, se sabe, não está efetivamente empenhado em debelá-la, mas apenas em obter algum alívio temporário, com o menor custo político possível e de olhos fixos nas eleições de 2014.

“Sem preocupação com rigor técnico, defino inflação como um processo generalizado e persistente de alta dos preços dos bens e serviços de uma economia. As palavras em itálico merecem atenção especial, dado que elas se referem exatamente às características que diferenciam um processo inflacionário de uma alta temporária dos preços causada, por exemplo, pela quebra da safra de uma determinada cultura em razão de problemas climáticos.

“Do ponto de vista da teoria econômica, a questão inflacionária começou a ser analisada de forma quantitativa e focada a partir do célebre artigo do economista neozelandês Alban W. H. Phillips, publicado em 1958. Ao analisar estatisticamente dados para a economia britânica no período 1861/1957, ele observou a existência de uma relação regular entre a taxa de desemprego e a taxa de variação do salário nominal.

“Dado que a taxa de inflação tenderia a ser aproximadamente igual ao crescimento do salário menos o da produtividade do trabalho, foi possível obter uma relação empírica entre desemprego e inflação. Isso foi formalizado mais claramente por Samuelson e Solow (em 1960), que repetiram o exercício de Phillips para a economia norte-americana. Desde então, a relação desemprego-inflação ficou conhecida como Curva de Phillips. Debatida, criticada, modificada e ampliada, ela exerceu (e ainda exerce) papel vital para o estudo e a compreensão dos processos inflacionários.

“Posteriormente, Milton Friedman (1969) e Edmund Phelps (1968) mostraram que a possibilidade, implícita na Curva de Phillips, de trocar um pouco mais de inflação por um pouco menos de desemprego só é possível no curto prazo. No longo prazo, tal escolha simplesmente não existe.

“Durante a década de 70, principalmente em função das crises do petróleo, a economia mundial se defrontou com um fenômeno até então pouco conhecido: a elevação de inflação com concomitante alta do desemprego. Essa situação, apelidada de estagflação, parecia ter varrido a Curva de Phillips da teoria econômica.

“Mas não foi isso o que ocorreu. Passou-se a analisar melhor o conceito de choque de oferta, bem como o importante papel das expectativas na determinação da taxa efetiva de inflação. Com isso, em vez de desaparecer, a Curva de Phillips foi modificada e ampliada para incorporar esses novos conceitos.

“Atualmente, os bancos centrais, inclusive o brasileiro, utilizam uma mescla dessas importantes contribuições teóricas para nortear a política monetária. Dito de uma maneira simples, simulam a inflação como decorrência do excesso de demanda em relação à oferta de bens e serviços na economia.

“Do lado da demanda, as principais variáveis explicativas são a taxa real de juros e a política fiscal, representada no Brasil pelo superávit primário do governo. Já a oferta é modelada na forma de uma Curva de Phillips ampliada, onde entram o grau de utilização dos recursos produtivos, trabalho e capital (em economês, ‘hiato do produto’), a expectativa de inflação dos agentes econômicos, a inflação passada, na medida em que ela influencia principalmente via contratos a inflação futura (no jargão econômico, ‘inércia’), a inflação importada (taxa de câmbio e índices internacionais de preços) e choques de oferta. Tudo isso se aplica aos chamados preços livres. Para os preços administrados (tarifas de água e esgoto, energia elétrica, comunicações, transportes urbanos, combustíveis, medicamentos e planos de saúde), são feitas simulações com base nas informações disponíveis para cada setor.

“Assim, como mostram sólidas evidências estatísticas, embora no longo prazo inflação baixa favoreça o crescimento econômico – e não o contrário -, o seu combate, no curto prazo, não pode ser feito sem certo custo em termos de aumento temporário do desemprego. Esse custo pode ser minimizado dando-se ênfase à disciplina fiscal, mais do que ao aperto monetário.

“Ao adotar desonerações tributárias para setores escolhidos visando a controlar a inflação, o governo comete uma série de equívocos. Em primeiro lugar, exceto para preços administrados ou para setores muito visíveis (automotivo, por exemplo), não há como saber quanto da desoneração será repassada ao consumidor. Em segundo lugar, mesmo que tais desonerações resultem em reduções de preços, elas provocarão apenas alívio temporário. Cessado o efeito, a inflação retomará seu curso, ditado pelo desequilíbrio macroeconômico que a gerou. É aqui que o governo parece desconhecer o que é inflação (aumento generalizado e persistente dos preços) e suas causas, conforme discutido nestas linhas.

“Tal estratégia, contudo, não é somente ineficaz. Ela acarreta enormes custos para a sociedade. Significa distorção na alocação eficiente de recursos. A renúncia de receita tributária acaba beneficiando os setores menos eficientes (com menor crescimento de produtividade e mais ávidos por reajustes de preços). Em vez disso, tais recursos poderiam ser usados alternativamente para reduzir de forma geral a carga tributária, para pagar parte da dívida pública ou serem investidos em saúde, educação, desenvolvimento tecnológico e melhoria da precária infra-estrutura do País.” (Claudio Adilson Gonçalez, economista, Estadão, 8/4/2013.)

Os faxinados de volta ao poder

* Algo de sobrenatural ocorre quando o Palácio do Planalto é palco de desagravo ao faxinado

“Algo de sobrenatural, no sentido metafísico do excesso, está acontecendo quando um ministro de Estado toma posse acusando a presidente da República (responsável por sua nomeação) de ter cometido uma injustiça ao demitir um antecessor, colega de partido, por suspeita de corrupção no ministério dos Transportes.

“As denúncias que levaram a presidente Dilma Rousseff a demitir Alfredo Nascimento ainda no primeiro ano de governo resultaram em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal e o ato da demissão rendeu prestígio e popularidade à governante ontem apontada pelo novo titular da pasta, César Borges, como autora da iniquidade. ‘Hoje se corrige uma injustiça cometida a Vossa Excelência, que foi denunciado, mas nada, nada, nada foi provado’, disse Borges referindo-se a Nascimento, muito aplaudido pela plateia.

“Entre os que ovacionavam estavam o deputado Paulo Maluf, caçado pela Interpol, o deputado Natan Donadon, prestes a ser preso por ter sido condenado pelo STF por corrupção, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, denunciado ao Supremo por uso de documentos falsos e desvio de dinheiro público. (…)

“A presidente, cujos assessores são sempre tão ciosos em lustrar-lhe a imagem de pessoa irascível, achou ruim? Caso tenha achado, fez que não notou que o Palácio do Planalto servia de palco para ato de desagravo de um dos varridos na dita ‘faxina ética’.

“Sorriu e atribuiu ao empossado a tarefa de consolidar a presença do PR – até então tratado feito lixo no governo a fim, naturalmente, de ‘segurar’ o partido na aliança até a eleição de 2014. Afinal, o que é a coerência (não, não, falar em decência soaria grosseiro) diante dos 70 segundos a que tem direito a legenda no horário eleitoral?

“Em verdade, o que se passou naquela cerimônia foi um jogo de aparências. O PR fingindo que estava satisfeito, a presidente fazendo de conta que preservava autoridade ao impor nome de sua preferência, mas o que fica é o seguinte: o ministério não é garantia de nada e Dilma tropeçou na austeridade.

“A conta só não soma zero porque o País continua a arcar com o prejuízo do modelo pervertido de loteamento da máquina pública mediante critério puramente eleitoral.” (Dora Kramer, Estadão, 5/4/2013.)

* Demitida por irregularidades, Erenice despacha como se ainda fosse do governo. E viaja na comitiva da presidente

“Em 2011, no primeiro ano de seu mandato presidencial Dilma Rousseff demitiu seis ministros acusados de corrupção e tráfico de influência. Em 2013, no primeiro ano de sua campanha à reeleição, ela reabilitou dois dos principais alvos de sua elogiada ‘‘faxina ética’: os presidentes do PDT, Carlos Lupi e do PR, senador Alfredo Nascimento. Expurgados dos ministérios do Trabalho e dos Transportes, que haviam se tornado, sob a batuta de ambos, escoadouros de verbas públicas para bolsos privados, Lupi e Nascimento foram recebidos no Planalto e emplacaram aliados no comando das duas pastas. Foram prestigiados politicamente numa tentativa da presidente de amarrar o apoio do PDT e do PR na próxima eleição. Sob os aplausos do mentor Lula, Dilma tirou a sujeira de debaixo do tapete, espalhando-a pelos gabinetes da Esplanada — tudo de olho em 2014. Toda essa negociação ocorreu à luz do dia, mas a reabilitação de aliados pilhados em malfeitorias tem também uma faceta obscura, restrita aos bastidores e com potencial tão ou mais danoso para os contribuintes. Entre os beneficiários desse processo, destaca-se a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra.

“Braço-direito de Dilma no governo passado, Erenice foi demitida em setembro de 2010, duas semanas antes da eleição, depois de Veja revelar que ela integrava um bem articulado esquema de corrupção montado no Palácio do Planalto. Com a vitória de Dilma, reconstruiu a carreira longe dos holofotes. Hoje, ela atua como lobista de sucesso — que recebe em seu escritório autoridades de primeiro escalão para negociar projetos bilionários — e participa até mesmo das articulações eleitorais em curso. Na semana passada, Erenice esteve em Fortaleza com Dilma e a comitiva da presidente, que cumpriu agenda oficial na cidade. Erenice se hospedou no mesmo hotel reservado para a equipe presidencial e agiu como se ainda fosse, formalmente, uma das estrelas do time. Ela conversou com políticos e cobrou deles empenho na campanha pela reeleição da petista. Apresentou-se sempre como uma interlocutora do Planalto e quis saber quem simpatizava com Eduardo Campos (PSB), o aliado que pode virar adversário na corrida presidencial. Há mais do que mera lealdade à amiga Dilma nesse tipo de trabalho. Há, isso sim, uma boa dose de estratégia comercial. Erenice ganha para fazer lobby de interesses privados junto ao governo do PT, no qual tem uma extensa rede de contatos.

“No Ceará, a ex-ministra teve uma audiência com o vice-governador Domingos Filho (PMDB) para tratar de um projeto de exploração de energia solar tocado no estado pelo empresário Eike Batista. Mas a base de operações dela é mesmo em Brasília, numa luxuosa casa no Lago Sul, um dos endereços mais exclusivos da capital. Ali, funciona o escritório Guerra Advogados Associados que Erenice mantém em sociedade com os irmãos. O escritório é de advocacia apenas no nome. Erenice não aparece como advogada em nenhum processo novo sequer, nem na Justiça local nem nos tribunais superiores de Brasília. Não sem razão. A especialidade da casa é outra: fazer lobby. Utilizando-se das boas relações que tem no governo federal e entre políticos petistas e de partidos aliados, Erenice bajula e é bajulada por autoridades — de senadores da República a funcionários do alto escalão do governo — e fecha negócios valiosos envolvendo o setor público. Na quarta-feira, ela recebeu o secretário executivo do Ministério da Previdência, o petista Carlos Gabas. ‘Foi um almoço de amigos. Conversamos sobre a vida e o que estamos fazendo para manter nossa sanidade mental’, disse Gabas, que chegou ao escritório em carro oficial e é quem manda de fato na pasta. ‘Até onde eu sei, nada foi provado contra ela.’ Não é bem assim.

“No Ministério Publico, após uma investigação sumária e repleta de falhas, o procedimento destinado a apurar as peripécias da ex-ministra de fato foi arquivado. Mas um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), órgão do próprio governo, acusou Erenice de irregularidades graves quando esteve no comando da Casa Civil. Entre elas, ter usado o cargo para viabilizar negócios de empresas que contratavam os serviços de consultoria de seu filho Israel. Erenice agiu ainda para favorecer a Unicel, companhia de telefonia que tinha seu marido, José Roberto Camargo, como representante. Esse lobby rendeu frutos num primeiro momento, mas o grande negócio — que era a venda da Unicel para a Nextel — foi barrado pela Anatel depois de revelado por Veja. O modo de atuação de Erenice fora do governo é bastante semelhante ao dos tempos em que dava expediente no Planalto. Em dezembro passado, a ex-ministra recebeu um empresário russo que tinha planos de investir no Brasil. O maior interesse de Alexander Bobarykin era na Petrobrás. De acordo com participantes do encontro, a ex-ministra, que foi integrante do conselho de administração da empresa, disse que poderia abrir as portas da Petrobrás ao investidor russo. ‘Além do interesse em fechar negócios com a Petrobrás o empresário queria comprar uma usina de álcool em Minas e por ser mineiro, eu estava lá’, conta o deputado federal Leonardo Quintão (PMDB).

“Na quinta-feira passada (4/4), Erenice promoveu uma reunião com Francisco Cláudio Duda, diretor financeiro do BRB, o banco público de Brasília, subordinado ao governo do petista Agnelo Queiroz. Procurado por Veja, Duda, que chegou em carro oficial, disse tratar-se de uma reunião com investidores. Ele negou conhecer Erenice Guerra e alegou que a reunião fora marcada a pedido de um parceiro institucional do banco, por coincidência irmão de Erenice. ‘Estou sabendo agora que ele é irmão dela’, desconversou. A ex-ministra participou? Duda não se lembra. A carteira de clientes de Erenice inclui gigantes dos setores de energia e transportes. São empresas que estão de olho em negócios bilionários no governo e que pagam muito bem a lobistas de sucesso. ‘Estou apenas trabalhando. Infelizmente ou felizmente, fiz relações de amizade com pessoas que trabalham no governo, mas não faço negócios com o governo e não trato de assuntos da Presidência’, disse a ex-ministra. Erenice é prova de que boas amizades rendem bons dividendos. Mesmo flagrada em um esquema que levaria qualquer um ao banimento da vida pública, ela se reergueu, anda a bordo de um Land Rover avaliado em 200 000 reais, tem escritório em bairro nobre, é influente e bem-sucedida. Nada mau para quem era uma funcionária de terceiro escalão do governo do DF até o PT ascender ao poder.” (Rodrigo Rangel e Adriano Ceolin, Veja, 10/4/2013.)

Tudo errado nas decisões sobre a Economia

* Se tudo der certo, nada der errado e todos os santos ajudarem, a economia terá um desempenho mambembe

“Se o céu ajudar, os ventos forem favoráveis e os fatos confirmarem a projeção mais otimista em circulação na praça, a economia brasileira crescerá 3,2% em 2013 e 6,94% nos três primeiros anos da presidente Dilma Rousseff. Isso equivalerá a uma média anual composta de 2,26%. Talvez ainda se possa falar de espetáculo do crescimento. Circos mambembes também anunciam espetáculos. Mas cobram pouco pelo ingresso e seus dirigentes evitam equiparar-se aos melhores do ramo.

“Menos modesto e muito menos realista, o governo brasileiro insiste, no entanto, em se alinhar a emergentes muito mais dinâmicos, como se o uso de um crachá dos Brics fosse um atestado de competência e dinamismo. A presidente Dilma Rousseff esbraveja quando se cobra uma política mais eficaz contra a inflação, sem gastar um minuto para olhar outros latino-americanos, como Colômbia, Chile, Peru e México. Todos esses países têm crescido mais que o Brasil, nos últimos anos, com preços muito menos instáveis.

“Este é outro detalhe do show mambembe: a inflação prevista para o ano está na vizinhança de 5,7% e mesmo essa projeção pode ser furada se as contas públicas forem administradas como até agora. Mais de uma vez, desde o fim do ano passado, o Banco Central chamou a atenção para a tendência expansionista das finanças federais. Esses componentes bastariam para fazer da exibição do Circo Brasil uma das mais constrangedoras, mas o programa oferecido ao distinto público é bem mais rico.

“Outra grande atração do programa é a depredação das contas externas. O desastre poderá demorar um pouco, mas será inevitável se as tendências dos últimos seis ou sete anos forem mantidas. A partir de 2007 as importações têm sido mais dinâmicas que as exportações. Entre 2007 e 2012 o valor exportado aumentou 51%, de US$ 160,65 bilhões para US$ 242,58 bilhões, enquanto o custo dos bens importados cresceu 85%, de US$ 120,62 bilhões para US$ 223,15 bilhões. Esse poderia ser o efeito normal de uma estratégia de abertura econômica, mas a história é outra. Durante esse período o governo elevou as barreiras comerciais e o país se tornou muito mais protecionista. Esse protecionismo é parte da impropriamente chamada política industrial, mas os resultados têm sido abaixo de pífios. Com essa orientação o governo conseguiu, entre outros efeitos discutíveis, inflar os custos da Petrobrás, dificultar as compras de equipamentos para petróleo e favorecer a acomodação de alguns setores beneficiados.

“Com ou sem barreiras de proteção, a indústria brasileira continua sujeita à concorrência de fabricantes mais competitivos e a erosão do saldo comercial amplia o déficit em conta corrente. Durante algum tempo o problema foi atribuído ao real valorizado. A valorização cambial atrapalhou, de fato, mas as demais desvantagens comparativas são muito mais importantes, a começar pela tributação incompatível com uma economia ligada, mesmo com limitações, ao mercado internacional. É até grotesco insistir na história do câmbio quando os caminhões se enfileiram nas estradas e o agronegócio brasileiro, um dos mais eficientes do mundo, mal consegue enviar seus produtos aos portos.

“A deterioração das contas externas continua. De janeiro a março o país acumulou um déficit comercial de US$ 5,15 bilhões. Para tapar esse buraco e alcançar o superávit de US$ 15 bilhões ainda estimado pelo BC, o Brasil terá de conseguir nos nove meses restantes um saldo positivo de US$ 20,15 bilhões, maior que o de todo o ano passado, US$ 19,43 bilhões. A mediana das previsões do mercado financeiro estava em US$ 12,4 bilhões na semana passada. Em seu último informe conjuntural a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reduziu para US$ 11,3 bilhões o saldo estimado para o ano. Em dezembro a projeção ainda era de US$ 18,1 bilhões.

“O quadro fica mais feio quando se olham os detalhes: a exportação prevista é de US$ 253,4 bilhões, mais uma vez inferior à de 2011 (US$ 256 bilhões). No ano passado o valor ficou em 242,6 bilhões. A importação, US$ 242,1 bilhões, continuará em alta e será 7,03% maior que a de dois anos antes. Mesmo com o cenário internacional adverso, as vendas do agronegócio continuarão sustentando o resultado comercial. O PIB industrial, mesmo com crescimento previsto de 2,6%, continuará muito fraco, por causa das limitações estruturais. Os incentivos adotados pelo governo continuam favorecendo mais o consumo do que o investimento e a produção, mas o governo ─ por falha de percepção, por interesse eleitoral ou por uma combinação dos dois fatores ─ insiste nas medidas de curtíssimo alcance já experimentadas nos últimos dois anos.

“O investimento deve aumentar 4% neste ano e puxar a expansão econômica de 3,2%, segundo a CNI. A projeção é bem menor que a divulgada em dezembro (7%), mas pelo menos indica uma composição mais saudável que a do ano passado. Se a previsão estiver correta, o valor investido mal compensará a redução de 4% registrada em 2012. Além disso, o país continuará aplicando muito menos que o necessário para sustentar durante alguns anos um crescimento econômico igual ou pouco superior a 4%. Se o Brasil investir 4% mais que em 2012 e a economia avançar os 3,2% estimados, a relação entre o investimento e o produto interno bruto (PIB) passará de 18,14% para 18,28%. Será uma variação irrisória. Além disso, o valor investido continuará muito longe dos 24% ou 25% apontados por muitos economistas como indispensáveis a um dinamismo mais parecido com o de outros emergentes.

“O espetáculo mambembe do crescimento ainda se completa com cenas grotescas de avacalhação da máquina governamental. O número de ministérios aumenta, mais uma vez, para a acomodação de aliados, e mais estatais de valor muito duvidoso são criadas. O loteamento continua, com a participação de siglas e de líderes partidários afastados na faxina encenada em 2011. Mas uma boa parte do distinto público aplaude como se assistisse a um espetáculo de classe mundial.” (Rolf Kuntz, Estadão, 6/4/2013.)

* É preciso investir muito mais. E o governo teria que fazer uma ampla reforma de usos, costumes e valores – que, tudo indica, não fará jamais

“A economia crescerá 3,2% neste ano, puxada por investimento 4% maior que o de 2012, segundo as novas projeções da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Há um tom de otimismo na apresentação do cenário. ‘A retomada da atividade industrial parece estar garantida em 2013’, declaram logo de início os autores do Informe Conjuntural divulgado nesta semana. A esperada expansão do investimento inclui toda a chamada formação bruta de capital fixo – compras de máquinas e equipamentos pelas empresas, construção e ampliação de fábricas, edificações imobiliárias e obras de infra-estrutura, como rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e sistemas de geração e transmissão de eletricidade. A manifestação do chamado espírito animal dos empresários será, portanto, apenas uma das condições necessárias para a esperada expansão do investimento. O resultado geral dependerá também da competência do governo na execução de seus planos e projetos.

“Na terça-feira (2/4), um dia antes de sair o Informe da CNI, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) havia informado os números da produção industrial de fevereiro, 2,5% menor que a do mês anterior. Esse recuo praticamente anulou o aumento de 2,6% contabilizado em janeiro, mas, apesar disso, o relatório oficial trouxe um resultado animador, algo como um ponto de luz num quadro ainda escuro. A produção de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, cresceu 1,6% no mês e foi 9,1% maior que a de fevereiro do ano passado, de acordo com o levantamento do IBGE. Além disso, o resultado do primeiro bimestre ficou 13,3% acima do registrado um ano antes.

“Nada disso foi suficiente para compensar, por enquanto, o desastre de 2012. A produção de bens de capital acumulada em 12 meses foi 7,8% menor que a do período imediatamente anterior. É cedo para dizer se há uma nova tendência, mas os números de janeiro e fevereiro criam a esperança de uma retomada do investimento, com as empresas voltando a ampliar e a renovar seu parque produtivo.

“De toda forma, as previsões de investimento diminuíram desde o fim do ano. Em dezembro, a CNI projetava um aumento de 7%, parecido com aquele estimado pelo ministro da Fazenda, de 8%. As principais projeções incluídas no Informe foram reduzidas nos últimos três meses. A estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) passou de 4% para 3,2%, praticamente a mesma do Banco Central (BC), 3,1%. O crescimento previsto para a indústria caiu de 4,1% para 2,6% – mas até esse resultado pode parecer satisfatório, depois do recuo de 0,8% em 2012.

“Mas é preciso olhar para além de 2013. Não há, por enquanto, como sustentar qualquer otimismo, quando se consideram as perspectivas dos próximos anos. O investimento projetado pela CNI, com expansão de 4%, mal servirá para compensar o recuo do ano passado, quando o total investido em todos os setores da economia brasileira foi 4% menor que o de 2011.

“Além disso, a formação bruta de capital continuará muito abaixo do nível necessário para sustentar um crescimento econômico em torno de 5% ao ano. O mínimo necessário para criar um dinamismo parecido com o de outros emergentes seria um investimento equivalente a uns 24% ou 25% do PIB. Vários países latino-americanos já chegaram lá. Em muitas economias da Ásia a proporção é igual ou superior a 30%.

“Se o Brasil investir neste ano 4% mais que em 2012, a relação entre investimento e PIB subirá de 18,1% para 18,2% e continuará muito longe do desejável. A agenda necessária para mudar esse quadro é bem conhecida e inclui uma desoneração séria da atividade produtiva, algo muito diferente de uma porção de remendos mal costurados.

“Do lado governamental será indispensável uma ampla reforma de usos, costumes e valores. O governo precisa decidir, entre outros pontos, se a sua função é organizar a vida coletiva e promover certos investimentos de importância fundamental ou, bem ao contrário, distribuir cargos e favores a companheiros e aliados e financiar empresas selecionadas sem critérios estratégicos. As últimas mexidas no Ministério reafirmam a preferência pela segunda hipótese.” (Editorial, Estadão, 6/4/2013.)

* Falta planejamento nas ações do governo

“As questões de desenvolvimento econômico e socioambiental que estão claramente definidas no atual contexto histórico do Brasil exigem perspectiva de longo prazo para serem equacionadas. Entre essas questões se destacam: a eliminação dos gargalos na infra-estrutura econômica; o desenvolvimento das centenas de municípios e das inúmeras áreas economicamente deprimidas; a transição das políticas sociais compensatórias para as políticas de redução das desigualdades e assimetrias sociais; uma política de preservação e restauração da nossa base de recursos naturais; etc.

“O hábito que se criou na burocracia estatal, desde o fim das últimas experiências de planejamento de longo prazo no fim dos anos 70, de atuar por meio de uma sequência interminável de intervenções casuísticas não pode perdurar. Jean Ladrière mostra que a lógica interna do sistema econômico pode chegar a absorver os agentes econômicos que exercem as atividades no seu quadro, à medida que estes se tornam incapazes de superar a sua própria condição. Identificando-se com os processos de que são os portadores, deixam-se conduzir pelas exigências que não cessam de nascer de suas próprias iniciativas.

“Sem uma perspectiva de longo prazo em suas ações, os agentes e as instituições governamentais se entrelaçam nos mecanismos que eles próprios criaram e passam a ser conduzidos por uma espécie de processo acumulativo aparentemente sem limites. Ao sobrepor e acumular ações de curto prazo, desencadeiam forças que não podem controlar, induzem efeitos inesperados, promovem desencontros de expectativas e chegam à perda de confiabilidade perante a opinião pública.

“Como evitar, pois, que as alternativas de políticas econômicas sejam, em última instância, comandadas pelas exigências das opções realizadas no passado, de tal forma que o sistema passa a subsistir em função de uma overdose de políticas de curto prazo de caráter pragmático? A necessidade dessa virada de mesa pode ser observada quando se constata o processo de deterioração que vem ocorrendo com as diferentes formas de capital de interesse público de nossa sociedade.

“Algumas dessas deteriorações são visíveis, como a perda de qualidade de nossos recursos naturais (degradação de nossas bacias hidrográficas, a dramática perda da biodiversidade) ou de nossa infra-estrutura econômica. Outras perdas são intangíveis, como a deterioração no capital institucional (baixa capacidade de gestão e de implementação de projetos pelas nossas instituições públicas, loteadas para atender sem critérios de mérito aos interesses velados e clientelísticos da base aliada) ou no capital humano, quando tem prevalecido no sistema educacional a regra de mais e mais insumos por menor produção de pessoal qualificado.

“Um bom sistema de planejamento de longo prazo (mais indicativo, mais flexível, mais exato, mais rápido, mais descentralizado, mais participativo) pode ajudar a construir uma sociedade mais competitiva sistemicamente, mais justa socialmente e com melhor contrato natural. Mas esse planejamento não deve ser considerado só como método, mas, principalmente, como processo.

“Como método, o nosso progresso em matéria de planejamento se destaca internacionalmente. As equipes técnicas do governo, das instituições universitárias e das empresas de consultoria têm produzido excelentes sistemas de indicadores de desenvolvimento sustentável, modelos de projeção com uso de metodologias na fronteira do conhecimento, relatórios profundos sobre o estado da arte de nossos ecossistemas, etc.

“Contudo, as nossas experiências mais recentes mostram também o fracasso do planejamento como processo, em que a grande maioria das políticas, programas e projetos tem descarrilhado não nas etapas iniciais de formulação ou de mobilização das expectativas e aspirações dos beneficiários, mas na etapa da arte de implementação. Sem dúvida, uma indicação de nosso subdesenvolvimento político.” (Paulo R. Haddad, Estadão, 6/4/2013.)

* A gestão Dilma padece de um ativismo compulsivo, sem planejamento, sem rumo

“Na quinta-feira 4/4), a presidente Dilma Rousseff afirmou que o Brasil levou anos sem rumo e só depois do governo Lula recuperou a capacidade de planejar e construir o futuro. A presidente confunde alhos com bugalhos. O que falta em sua gestão, desde o primeiro dia, é justamente planejar um rumo, definir uma direção, sedimentar um caminho para chegar a metas e objetivos, de forma organizada, consistente e segura. Não é isso o que se vê. O que falta mesmo é um programa de governo.

“A gestão Dilma padece de uma espécie de ativismo compulsivo. Dá voltas (há dois anos fala em privatizar portos), segue e recua (trapalhadas na privatização de aeroportos), atira sem mirar o alvo e quase todo dia produz uma novidade, uma nova intervenção na economia, tenta apagar incêndios aqui e ali, mas o fogo reaparece adiante. De resultados no crescimento econômico, quase nada. E como explicar, então, a popularidade da presidente?

“Na área social, Lula e ela tomaram a decisão acertada de dar ênfase aos programas de transferência de renda de Fernando Henrique Cardoso, o que contribuiu para pobres ascenderem à classe média. Porém a degradação da rede pública de saúde, a falta de uma educação de qualidade, o pífio investimento em saneamento básico e a ausência de uma política de segurança para reduzir a violência são obstáculos ao bem-estar dessa classe média emergente.

“Na economia, Lula e Dilma conseguiram reduzir a dívida pública para 35,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e a taxa básica de juros para 7,25% ao ano. Tal sucesso deveria, mas não resultou em crescimento econômico – nos últimos dois anos, o PIB brasileiro foi lanterna entre os países da América Latina. Dilma também conseguiu reduzir a tarifa de energia elétrica, mas causou tanto estrago nas empresas elétricas que o Tesouro Nacional terá de arcar com boa parcela do custo, injetando dinheiro na capitalização da Eletrobrás para garantir a sua sobrevivência.

“Como disse o ministro Aloizio Mercadante em entrevista ao Estado, ‘o PIB para o povo é emprego e renda’. Nestes dois anos, a renda e o emprego estiveram em alta e é possível que assim fiquem nos próximos meses. Só que faltou Mercadante acrescentar: é uma boa receita para ganhar a eleição de 2014, mas é pouco para gerar investimentos, garantir um crescimento sustentado e consistente e quase nada para construir um futuro promissor para o País e seus habitantes.

“Isso porque – e tanto Dilma quanto Mercadante sabem disso – o que fazem no governo é transitório, momentâneo, passageiro, e não fruto de um plano de governo que multiplique o investimento e pavimente o progresso econômico.

“O ativismo compulsivo do governo Dilma produz ações em quantidade. Porém, descoladas de um planejamento de longo prazo, elas não conseguem se transformar em realizações de qualidade, nem mesmo para o objetivo pretendido. Exemplos há muitos.

“O mais óbvio deles são as ações voltadas para derrubar a inflação. Até onde não dava mais, Dilma esticou a corda do aumento dos combustíveis, dilapidando o presente e o futuro da Petrobrás; pediu a prefeitos que adiassem o aumento da tarifa de ônibus (e quando vier o aumento?); e reduziu a tarifa de energia elétrica. Em vez de atacar o dilema da inflação na sua estrutura, por exemplo, cortando gastos correntes do governo, Dilma recorre a paliativos transitórios que só adiam, não resolvem o problema. Por isso – como reconhece o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini -, a inflação persiste e produz riscos para a saúde da economia.

“As ações do ativismo são lançadas aos borbotões, sem a preocupação de avaliar resultados. O ‘Plano Brasil Maior’, de agosto de 2011, seria a política industrial da gestão Dilma, mas a produção industrial não para de cair.

“Os subsídios em linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as desonerações fiscais a setores escolhidos, o BNDES socorrendo grupos privados em parcerias perigosas, o arriscado uso das estatais em políticas públicas e licitações públicas mal feitas com lucro tabelado que afastam o investidor são ações que se tornaram corriqueiras e pretensamente visam a estimular o crescimento e o investimento. Até agora, não conseguiram nem uma coisa nem outra. Desconfiado com as habituais intervenções do governo, o investidor teme mudanças de regras e desiste de seu projeto.

“Além da situação fiscal – prejudicada pela menor arrecadação de impostos -, o mais novo pepino para Dilma descascar é o comércio exterior, ou seja, a queda das exportações e o aumento de importações. É nessa área onde desabam com maior intensidade e rapidez os efeitos da crise econômica dos países ricos, com reflexos internos negativos sobre o câmbio e o balanço de pagamentos. O inédito déficit comercial de US$ 5,1 bilhões até março de 2013 parece não preocupar o governo (o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, diz que ‘vamos conseguir um bom saldo comercial’), mas derrubou todas as previsões de analistas.

“O boletim Focus reduziu sua estimativa para um saldo positivo de US$ 12,4 bilhões, o Banco Central manteve a sua em US$ 15 bilhões, mas as apostas mais comuns oscilam, agora, entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões. E o ex-secretário de Comércio Exterior do governo Lula Welber Barral é mais pessimista: o saldo em 2013 cai para US$ 4 bilhões. Para um país habituado a gerar superávits elevados (US$ 20,3 bilhões, em 2010; US$ 29,8 bilhões, em 2011; e US$ 19,4 bilhões, em 2012), é extremamente preocupante um tombo desse tamanho.

“Mesmo porque, ainda resta contabilizar em abril mais US$ 1,8 bilhão de importações de petróleo de 2013; a Petrobrás vai importar, este ano, tanto ou mais do que no ano passado; o saldo comercial com China e Argentina – países que mais compram no Brasil – vem desabando e, em 2013, deve piorar; e os países ricos, que costumam sustentar nossa receita cambial, estão importando bem menos.

“As exportações para os 27 países da União Europeia (UE) desabam desde o ano passado, com resultados crescentemente negativos para o Brasil. O superávit de US$ 6,520 bilhões com o bloco da UE em 2011 caiu para US$ 1,192 bilhão em 2012 e, em 2013, a situação inverteu: entre janeiro e fevereiro, o Brasil acumulou déficit de US$ 1,434 bilhão.” (Suely Caldas, Estadão, 7/4/2013.)

* “A resistência a diminuir a ênfase no consumo e a tentação à volta a um passado que fracassou sintetizam as razões para a difícil situação atual”

“A difícil situação econômica que o país vive atualmente tem pouco a ver com a crise externa e mais com as dificuldades para lidar com os desdobramentos do modelo pró-consumo posto em prática nos últimos tempos, sem falar na volta a erros do passado.

“Impulsionado, a partir do destravamento da economia em 2003, pelo forte crescimento da demanda de consumo, o crescimento da demanda agregada se espalharia pela economia e mostraria resultados divergentes, em grande medida inevitáveis, nos setores básicos: Serviços e indústria de transformação. Sem prejudicar o raciocínio geral, deixo de lado o setor de commodities, que é voltado basicamente para o exterior e é por ele guiado.

“Já o de serviços, que responde por quase 70% da economia, basicamente não importa do exterior, sua produção teria necessariamente de crescer acima da dos demais. Sem a velha restrição de divisas, a Indústria tenderia a desempenhar o papel de importador estratégico, ou de ter sua produção crescendo a uma menor velocidade, liberando recursos — capital e mão de obra — para a expansão de Serviços. A hipótese de o País absorver maior volume de poupança externa não mudaria esse quadro, quando se considera que ela só consegue ser materializada em investimento físico mediante aumento do déficit externo, vale dizer das importações. Ou seja, maior ingresso de poupança externa é mais uma razão para aumentar as importações industriais.

“O mecanismo de formação de preços dá vida a esse processo, pois os preços de Serviços, que se determinam pelo cruzamento de curvas convencionais de oferta e demanda internas, tendem a subir mais que os da Indústria, puxando o aumento de salários. Na Indústria, em contraste, a oferta é uma linha reta horizontal determinada fora do País, com tendência a se deslocar permanentemente para baixo, pelo efeito Ásia. Os preços relativos sobem em favor de Serviços, porque ali a oferta é bem mais rígida, inclusive pela forte presença/interferência do governo nesse setor, que não tem recursos para investir e hesita em abrir espaço para o setor privado fazê-lo. Na indústria, a oferta é bem mais flexível. Ali o mundo é o limite.

“A indústria tem de pagar os mesmos salários mais altos que Serviços paga, e enfrentar uma receita unitária medida em dólares tendendo a cair. A consequência óbvia é o menor crescimento da produção industrial, exceto nos segmentos em que, nesse processo todo, haja aumento de produtividade capaz de compensar os demais efeitos desfavoráveis que afetam esse setor. Como consequência, ocorreria aumento das importações da indústria, a fim de atender ao crescimento da demanda.

“Mesmo que o País não fosse inundado por dólares devido ao aumento dos preços de commodities e ao forte ingresso de capitais, esse movimento de preços relativos corresponderia a uma apreciação real da moeda, necessária para realizar todas as movimentações derivadas do modelo de baixa poupança ou alto consumo em vigor. Como ser contra isso?

“Numa primeira fase, diante da inundação de dólares, a taxa de juros e a taxa de câmbio entraram em tendência de queda; o crédito e os gastos públicos correntes explodiram — e com eles o consumo; os salários ascenderam, a partir do setor de serviços; este passou a crescer mais que os demais e a absorver o emprego liberado pela Indústria. Esta cresceu menos, mas a taxas consideradas aceitáveis. Ao mesmo tempo, e financiada por poupança externa, a taxa de investimento global subiu até 2008, permitindo aumento da taxa de crescimento sustentável do PIB para algo próximo de 4,5% do PIB, segundo se estimou.

“Vistos de hoje, os acontecimentos no período desde o fim da crise mostram, contudo, que os mecanismos de propulsão do consumo perderam força, mesmo sob forte estímulo fiscal. O crescente comprometimento das rendas familiares com o serviço das dívidas é um óbvio fator limitador. Mais adiante, a deterioração fiscal acenderá uma luz amarela no painel do País, e novo esforço de ajuste terá de ocorrer para evitar outra crise interna.

“Em adição, após recuperar os níveis pré-crise, o encolhimento relativo da Indústria se acentuou, em face do aumento do custo unitário do trabalho, vale dizer, do aumento dos salários acima da produtividade industrial, algo que não havia ocorrido até então. Pouco adiantaram as medidas de proteção introduzidas pelo governo, incluindo a desvalorização forçada da moeda que ocorreu no ano passado.

‘Por fim, a inflação pulou de patamar, diante da busca de juros baixos a qualquer custo e da desvalorização cambial extemporânea de 2012, e a despeito dos novos controles de preços. As concessões de infra-estrutura ainda não deslancharam. Nessas condições, os investimentos vêm caindo seguidamente e a taxa de crescimento do PIB se situa abaixo do potencial. A resistência a diminuir a ênfase no consumo como motor de crescimento e a tentação à volta a um passado que fracassou sintetizam as razões para a difícil situação atual. Os inéditos níveis da taxa de desemprego e dos salários são o último baluarte a ruir da fase que se esgotou.” (Raul Velloso, economista, Estadão e O Globo, 8/4/2013.)

Contas nebulosas

* “O governo desarranja cada vez mais a economia e se encaminha para o pior dos mundos: estagnação com inflação em alta e contas públicas desarranjadas”

“Já turvada por espertas práticas contábeis que corroeram sua credibilidade, a política fiscal do governo Dilma Rousseff está ficando ainda mais nebulosa. A sanção, pela presidente da República, da lei que aumenta em R$ 20 bilhões o valor que o governo poderá descontar da meta de superávit primário definida na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para este ano torna ainda mais frouxa uma política fiscal cuja execução vem se tornando uma das principais fontes de preocupação dos investidores.

“Demonstrando desprezo cada vez maior pelas metas fiscais e insistindo – como tem feito com contundência a própria presidente – em que o combate à inflação não poderá ser feito à custa do crescimento, como se existisse conflito entre uma coisa e outra, o governo do PT vai desarranjando ainda mais uma economia que tem nítidas dificuldades para crescer e vai gerando o ambiente para a pior das situações – estagnação com inflação em alta e contas públicas desarranjadas. A correção desses erros poderá ser custosa.

“O mais recente Relatório de Inflação, publicação trimestral do Banco Central (BC), reconheceu, como já o faziam há tempos economistas do setor privado, que a inflação de 2013 poderá alcançar 5,7%, bem acima do centro da meta, de 4,5%, mas ainda dentro da margem de tolerância definida pelo Conselho Monetário Nacional. Para que essa meta seja alcançada sem a necessidade de novas altas dos juros, que tanto parecem assustar a presidente da República, o BC considera necessário, entre outras coisas, que seja cumprida a meta de superávit primário cheio definida na LDO, de R$ 155,9 bilhões, ou 3,1% do PIB. Poucos acreditam, no entanto, que isso ocorrerá.

“As frequentes autorizações para o governo descontar valores da meta do superávit primário geraram desconfiança entre os economistas do setor privado e os investidores. A própria LDO já permitia ao governo descontar do superávit cheio até R$ 45,2 bilhões com os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A autorização para o novo aumento da parcela que pode ser deduzida foi incorporada, a pedido do governo, ao projeto que estendia até 31 de dezembro de 2012 o prazo para a inclusão na LDO das projeções de despesas decorrentes dos reajustes negociados com diversas carreiras do serviço público.

“Com a lei agora sancionada, o desconto pode chegar a R$ 65,2 bilhões. O aumento é justificado como necessário para compensar as desonerações tributárias já concedidas ou que vierem a ser decididas durante o ano. Desse modo, o governo poderá alcançar um superávit bem menor do que o projetado inicialmente para 2013, de R$ 90,7 bilhões, ou 1,9% do PIB (ou 1,2 ponto porcentual menor), tudo de acordo com a lei. Apesar de tudo, o Ministério da Fazenda segue afirmando que continuará a perseguir a meta cheia, como se alguém ainda acreditasse nela.

“O relaxamento da política fiscal nas proporções já autorizadas, por si só, poderia ter um impacto inflacionário de mais de 0,3 ponto porcentual em 2013, segundo cálculos de consultorias privadas. Para evitar esse efeito, seria necessário adotar uma política monetária mais rigorosa.

“A meta cheia do superávit agora não passa de simples referência. As projeções dominantes entre os economistas privados vão convergindo para um superávit primário de cerca de 2% do PIB.

“Está em curso um grave retrocesso na política fiscal, que, no governo Lula, foi executada com o rigor necessário para assegurar sua credibilidade e, desse modo, dar tranquilidade para o setor privado atuar. Além dos abatimentos permitidos da meta do superávit, o governo tem lançado mão antecipadamente de dividendos de empresas estatais contabilizados de maneira não convencional, além da não contabilização de determinadas despesas. São formas muito criativas de tratar o dinheiro público, que geram desconfianças crescentes quanto à sustentabilidade dessas práticas contábeis.

“Do jeito como o governo vem conduzindo a política fiscal, não há expectativa de melhora antes da próxima eleição presidencial, que muitos políticos parecem considerar iminente, mas que só ocorrerá em 2014.” (Editorial, Estadão, 8/4/2013.)

Bondades para quem pode, que tem bom lobby

* A produção das montadoras cresce uma enormidade. Mas, para o governo, as montadoras, tadinhas, precisam de favores

“Para a indústria de veículos, tudo.

“A produção das montadoras cresce uma enormidade. Nada menos que 39,2%, em março sobre fevereiro; e 3,4%, em relação a março do ano passado. Comparando-se o primeiro trimestre deste ano com o primeiro de 2012, o avanço foi de 12,1%.

“Tomadas as mesmas bases de comparação, os números correspondentes às vendas, algo mais baixos, não são pouca coisa: houve crescimento de 20,8% sobre fevereiro; queda de 5,5% sobre março de 2012; e expansão de 1,5% no trimestre.

“No entanto, para o governo, as montadoras, tadinhas, precisam de ajuda. Desde 2009 vêm tirando proveito de reduções tributárias e acabam de ganhar novo presente: a prorrogação dos favores fiscais até o final deste ano. As graças do governo são tão generosas que nem a Anfavea, a associação que defende os interesses do setor, tem argumentos aceitáveis para justificá-las. Nesta quinta-feira, seu presidente, Cledorvino Belini, não conseguiu dizer outra coisa senão agradecer e repetir que, não fosse a prorrogação, os estoques cresceriam e o desempenho do segmento decepcionaria seus dirigentes.

“Por essa lógica, o governo deveria conceder as mesmas bondades para cada setor industrial incapaz de cumprir as metas que compõem os planos dos seus dirigentes. O problema é que nem todos têm o mesmo poder de lobby, nem todos contam com os mesmos padrinhos, nem todos contam com o respaldo obtido pelas montadoras de veículos da aristocracia do proletariado, agasalhada tanto pelo governo Lula quanto pelo governo Dilma.

“Não se trata somente de um caso de sucesso de quem consegue gritar mais alto ou de quem tem maior poder de convencimento ante as autoridades. Trata-se, também, de omissão e/ou de fragilidade das lideranças da Indústria, tanto na Confederação Nacional da Indústria como na Fiesp, sempre propensas a aplaudir qualquer presentinho do governo sem, no entanto, se empenharem em arrancar melhores condições de competitividade para todo o setor produtivo, e não apenas para os abonados de sempre.

“Essas cortesias não saem barato. De desoneração em desoneração, o Tesouro vai perdendo receita. O governo admite que, neste ano, passarão dos R$ 50 bilhões, algo na casa de 32% do superávit primário previsto para 2013 pelo Banco Central.

“Mas o preço mais alto é o avanço das distorções. Está claro que, uma vez concedidas, sempre em caráter transitório, essas isenções se perpetuam, com a agravante de semearem incertezas na medida em que tudo depende da boa vontade e dos favores do rei, circunstâncias que não cabem nos planejamentos – até porque podem cessar a qualquer momento.

“No mais, são expedientes que não garantem, como não vêm garantindo, o bom desempenho da indústria. Os pibinhos vão se sucedendo e a política de puxadinhos, também. Por essas e outras é que se aprofunda o processo que a Fiesp chama de desindustrialização. E o que se desindustraliza já não é mais indústria. É desindústria.” (Celso Ming, Estadão, 5/4/2013.)

* Em dois anos, governo injetou R$ 315 bi do nosso dinheiro para turbinar a economia. E só sai pibinho

“Os esforços do governo Dilma Rousseff para turbinar a economia somaram R$ 315,3 bilhões nos dois primeiros anos de mandato, e chegarão a pelo menos R$ 366 bilhões no fim de 2013. Esse valor inclui a redução de impostos para vários segmentos da economia, os subsídios incluídos no Orçamento para assegurar taxas de juros mais baixas ao setor produtivo, além de sucessivas injeções de recursos em bancos públicos para a ampliação do crédito.

“Somente este ano, as desonerações programadas chegam a R$ 50,7 bilhões e para 2014 mais R$ 55 bilhões já estão previstos. Os principais alvos das ações têm sido setores com maior potencial de alavancar investimentos e estimular o crescimento, como bens de capital e construção civil. Mas os setores mais prejudicados pela competição com os importados, como as indústrias têxtil e automotiva, também mereceram tratamento especial.

“No entanto, as medidas tiveram pouco efeito sobre o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), que cresceu apenas 2,7% em 2011 e 0,9% em 2012. A indústria de transformação, que funciona como termômetro do setor de bens de capital, praticamente não cresceu no primeiro ano do governo Dilma (0,1%) e caiu 2,5% no ano passado. A taxa de investimento também decepcionou, baixando de 19,3% para 18,1% do PIB no período.” (Martha Beck e Cristiane Bonfanti, O Globo, 7/4/2013.)

A desorientação na área de energia

* Elétricas já perderam R$ 34 bilhões do valor de mercado desde setembro

“Uma forte crise de confiança tem abalado o setor elétrico brasileiro e colocado em risco investimentos na expansão do parque gerador. Desde a edição da Medida Provisória 579, em setembro, com as regras de renovação das concessões, o governo publicou uma série de decretos, resoluções e portarias envolvendo mercado livre, distribuidores e geradores que podem ter efeito negativo em várias áreas, afirmam especialistas.

“A turbulência atingiu em cheio as ações do setor. Levantamento da empresa de informação financeira Economática mostra que, após a MP, as elétricas já perderam R$ 34 bilhões do valor de mercado, sendo R$ 8,7 bilhões da Eletrobrás e R$ 8,4 bilhões da Cemig. O resultado preocupa diante da necessidade de investimentos do setor nos próximos anos, afirma o analista de um grande banco de investimentos, que prefere não se identificar. Até 2021, a capacidade instalada no País terá de ser ampliada em 58%, para 182 mil MW.

“Desde 2004, quando o modelo elétrico foi implementado pela presidente Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia, o setor não vivia sob tanta pressão. ‘Hoje o setor está muito instável. Algumas medidas têm motivações que não necessariamente seguem a lógica econômica, mas política’, afirma o sócio da comercializadora Compass, Marcelo Parodi.

“Em parte das decisões, um dos objetivos foi evitar que a queda média de 20% nas tarifas obtida com a renovação das concessões fosse corroída, por exemplo, pelo alto custo das térmicas a óleo – essas unidades tiveram de aumentar a produção por causa do baixo volume de chuvas que derrubou o nível dos reservatórios.

“Para não repassar os custos ao consumidor, conforme já explicou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o governo decidiu usar o Tesouro para capitalizar a Conta de Desenvolvimento Econômico (CDE) e pagar as distribuidoras – ou seja, o brasileiro vai pagar não como consumidor, mas como contribuinte. Além disso, criou uma fórmula para ratear com todos integrantes do setor os custos das térmicas entre abril e julho.

A medida é questionada pelas geradoras, que ameaçam ir à Justiça. ‘Se não há racionalidade econômica, elétrica, regulatória ou a de aprofundar a confiança do setor, não vejo outra justificativa plausível senão interpretar as decisões como um apelo das urnas’, diz o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales. Desde a MP, o setor vive um vaivém de medidas sem fim. A redução das tarifas é legítima. O problema é que as decisões apenas vão adiar o repasse ao consumidor, avaliam especialistas.” (Renée Pereira, Estadão, 7/4/2013.)

* Atrasos em série nos projetos de geração e transmissão elevam risco de racionamento

“Não bastassem as incertezas relacionadas à conclusão dos estádios de futebol para a Copa do Mundo de 2014 ou quanto às condições dos aeroportos, o setor energético também dá sinais de que enfrentará uma corrida contra o tempo até o começo do mundial. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 48% dos 6.149 MW (Megawatts) referentes a projetos de geração de energia previstos para o ano que vem enfrentam impedimentos para entrar em operação. Na área de transmissão, 4.191 quilômetros de linhas para 2014 estão com o cronograma atrasado. Dos 80 principais projetos do país previstos para o período de 2013 a 2015, 53, ou 66%, estão com atrasos. Há problemas, ainda, na distribuição. Além disso, 27% das obras consideradas obrigatórias nas 12 cidades que vão sediar os jogos não serão concluídas no prazo previsto. Algumas contam com previsão de término para depois da Copa.

“Na área de geração de energia, os atrasos são liderados por projetos de energia eólica e térmicas de biomassa. No caso das eólicas, 83% da energia prevista têm cronogramas atrasados devido, principalmente, à falta das linhas de transmissão.

Elbia Melo, presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), diz que a burocracia na concessão de licenças por parte do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também explica o volume de atrasos. ‘Um parque eólico precisa ter uma linha de transmissão para estar interligado no sistema. Mas o governo fazia um leilão só para parques eólicos e outro para linha de transmissão. O tempo de construção das linhas foi mal dimensionado. Por isso, a partir deste ano, só haverá leilões de eólica onde houver linhas de transmissão’, disse Elbia, lembrando que a energia eólica vai passar de 1,5% para 2% da matriz energética até o fim do ano.

“Nas térmicas a biomassa, do total previsto para 2014, 88,5% contam com problemas para entrar em operação. Em 2013, o número também é relevante: 42,9% estão atrasados. Segundo Zilmar Souza, gerente de Bioeletricidade da Unica, que reúne produtores de álcool, os atrasos estão relacionados à crise financeira, iniciada em 2008, que afetou grande parte dos produtores de cana-de-açúcar. Com isso, diz, houve redução nos investimentos. ‘É preciso que o governo crie uma política de longo prazo para o etanol, fazendo leilões específicos de bioeletricidade’, disse Sousa.

“O professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, destacou que o setor vive um momento difícil, pois as empresas terão queda em suas receitas por causa da Medida Provisória (MP) 579, que tratou da renovação das concessões, o que pode prejudicar o andamento das obras.” (Ramona Ordoñez e Bruno Rosa, O Globo, 8/4/2013.)

* Na área de distribuição de energia, 27% das obras estão atrasadas

“A pouco mais de um ano da Copa do Mundo, quase um terço (27%) das 158 obras prioritárias na área de distribuição de energia para o mundial tem atrasos em relação ao que foi planejado, conforme relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Entre as obras em atraso, 25 ficarão prontas ano que vem, das quais dez devem ser concluídas em maio, às vésperas da estreia; e três, só após o torneio. Segundo especialistas, há previsão de aumento de até 25% na demanda por energia em locais de grande concentração.

“Segundo a Aneel, a situação mais crítica é em Porto Alegre, onde todas as obras, da C3E, tiveram o cronograma alterado. De 22, três só ficarão prontas após a Copa. Uma subestação, que deveria ser entregue em 2013, passou para outubro de 2014. Quatro devem ser concluídas em maio do ano que vem. A preocupação, expressa no relatório, revela que alguns projetos são vitais, pois “alimentarão as cargas das regiões onde haverá maior concentração das atividades relacionadas ao Mundial”.

“Situação semelhante ocorre em Manaus. Das dez obras prioritárias da Amazonas Energia, três devem ser concluídas em maio de 2014. As da subestação de Flores não foram iniciadas. A concessionária disse que pretende concluir o trabalho em janeiro, diferentemente do que consta do relatório da Aneel.

“Na Bahia, das quatro obras prioritárias, três estão atrasadas. A Coelba disse que a última obra, uma linha de transmissão, será concluída em dezembro.” ((Ramona Ordoñez e Bruno Rosa, O Globo, 8/4/2013.)

* Dos dez projetos da Petrobrás em construção previstos para 2013 e 2014, 60% estão atrasados

“No momento em que a produção da Petrobrás registrou queda de 2,1% em fevereiro, a estatal enfrenta atrasos na construção em seis de dez projetos de produção previstos para este ano e o próximo – elevando, assim, segundo analistas, os riscos de não cumprimento de suas metas. De acordo com o Plano de Negócios 2013/2017, a situação mais crítica ocorre nos sistemas planejados para 2013: dos sete, cinco estão fora do cronograma. Para 2014, um dos três previstos está atrasado. Especialistas atribuem os problemas à ineficiência dos estaleiros.

“Dos dez projetos da Petrobrás em construção previstos para 2013 e 2014, 60% estão fora do prazo

“Especialistas acreditam que a Petrobrás, caso as unidades não entrem em operação no período planejado, põe em xeque a promessa de aumentar a produção a partir do segundo semestre. A meta para 2013 oscila entre uma queda de 2% e uma alta de 2% na extração de óleo – de cerca de 2 milhões de barris por dia. Para 2017, a meta é de 2,75 milhões de barris de petróleo diários.

“Um dos maiores atrasos está na construção da plataforma P-61, no projeto de Papa-Terra, no pós-sal da Bacia de Campos. O projeto está sendo feito pelo estaleiro BrasFELS, em Angra dos Reis. A unidade, com previsão de produção em 31 de dezembro deste ano, tem 76,2% das obras realizadas, contra 94,9% do previsto. ‘Se esses projetos atrasarem, o aumento de produção vai atrasar. Qual é o grau de confiabilidade? Será que o gerenciamento desses projetos está adequado? A falta de caixa da Petrobrás é massacrante. Isso tudo traz um certo grau de incerteza’, diz o consultor Wagner Freire, ex-diretor da Petrobrás.” (Bruno Rosa e Ramona Ordoñez, O Globo, 10/4/2013.)

O país das obras atrasadas

* “A ineficiência gerencial reflete a baixa capacidade de elaboração e de execução de projetos”

“O Brasil vai continuar emperrado por muito tempo, se a aceleração do crescimento econômico depender das obras de infra-estrutura tocadas pelo setor público ou entregues ao setor privado em regime de concessão ou de parceria. Atrasos nas obras de geração e de transmissão elevam o risco de apagões e de racionamento de energia elétrica nos próximos anos. Construções de aeroportos estão paradas, investimentos em mobilidade urbana vão mal e quem quiser viajar pelo Brasil para acompanhar a Copa do Mundo, no próximo ano, terá de enfrentar condições precárias em todos os tipos de transporte. O País, segundo prometem a presidente Dilma Rousseff e seus auxiliares, vai fazer bonito em 2014. É muito tarde para prometer algo semelhante para a Copa das Confederações, neste ano, mas nenhuma autoridade federal parece ansiosa para discutir detalhes desse tipo. É muito mais confortável discursar como se as obrigações assumidas pelo presidente Luiz Inácio da Silva em 2007 só valessem para o próximo ano e para a próxima Olimpíada, em 2016. Será quase impossível evitar o vexame internacional na Copa do Mundo, mas as piores consequências serão de outra ordem.

“Por desleixo e inépcia do governo, os projetos concebidos para os grandes eventos esportivos serão concluídos com grande atraso – se forem – e qualquer esforço para apressar sua conclusão implicará enormes custos adicionais. Além disso, o Brasil terá desperdiçado um monte de dinheiro e continuará com uma infra-estrutura muito pobre e com padrão muito inferior ao mínimo necessário a um país extenso e com economia diversificada e exposta a uma concorrência internacional cada vez mais dura.

“Até o próximo ano os projetos do setor de energia deveriam acrescentar 6.149 megawatts (MW) à capacidade nacional de geração. Se os atrasos persistirem, ficará faltando quase metade (48%) desse total. Também estão fora do cronograma dois terços dos 80 projetos de transmissão previstos para ser concluídos até 2015. Os dados são da Aneel. As falhas de planejamento são evidentes. As autoridades do setor esqueceram-se, por exemplo, de compatibilizar os planos de geração e os de transmissão. Algumas consequências chegam a ser cômicas. Foi muito difundido o caso do parque eólico da Bahia, pronto para produzir eletricidade, mas impedido de funcionar por falta de linhas de transmissão.

“No setor do transporte aéreo o quadro é igualmente desastroso. As obras do novo aeroporto de Goiânia, paralisadas há quase seis anos, são hoje apenas uma modesta estrutura de concreto no meio de muito mato. O tempo de paralisação das obras de Vitória, no Espírito Santo, é um pouco menor: o quinto aniversário será em julho, mas sem festa e sem bolo com velinhas. As empreiteiras alegaram rompimento do equilíbrio econômico-financeiro do projeto, abandonaram as obras e recorreram à Justiça. Em Goiânia, o velho aeroporto foi adaptado à maior demanda com um puxadinho. Pelo contrato original, a construção custaria R$ 257,7 milhões e seria concluída em três anos. Um aditivo elevou o preço para R$ 287,6 milhões, mas o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou irregularidades graves e os trabalhos foram interrompidos.

“Em todas as modalidades vai muito mal a execução de projetos. No ano passado, o Ministério dos Transportes desembolsou R$ 10,5 bilhões para obras e compras de equipamentos, embora estivessem previstos R$ 23,2 bilhões no orçamento. Submetido a uma faxina moral e administrativa em 2011, o Ministério operou com muita dificuldade no ano passado.

“Para 2013 o novo ministro, César Borges, dispõe de R$ 16 bilhões para investir, mas será uma surpresa se o Ministério apresentar, até dezembro, resultados muito melhores que os do último biênio. De modo geral, o setor de transportes, apesar de bem aquinhoado no Orçamento, tem desempenho limitado por problemas comuns à maior parte do governo. A ineficiência gerencial reflete a baixa capacidade de elaboração e de execução de projetos. Problemas com o TCU são uma das consequências mais notórias dessa incapacidade.” (Editorial, Estadão, 9/4/2013.)

Ironia

* Caos logístico do Brasil dá lucro aos Estados Unidos

“O presidente (CEO) da SLC Agrícola, Aurélio Pavinato, disse ontem que o caos logístico está aumentando os ganhos dos países produtores de grãos que competem com o Brasil. ‘O preço está mais alto para pagar a conta logística brasileira, e o produtor americano está ganhando mais do que isso’, exemplificou.

“A rentabilidade da produção brasileira, em compensação, está caindo. ‘Hoje (a logística) está gerando uma perda para toda a cadeia. O produtor está ganhando menos, a trading, que já estava comprada, está perdendo, e o consumidor vai pagar mais pelo produto’, argumentou.

“A SLC Agrícola é uma das maiores proprietárias de terras e uma das maiores produtoras agrícolas do País em área cultivada de algodão, soja e milho. Segundo Pavinato, com os atuais custos logísticos, o Brasil não tem condições de competir no mercado de milho com Estados Unidos, Argentina e Europa.

“Ele destacou que hoje o custo de transporte para levar o milho de Mato Grosso até o porto custa entre 50% e 60% do valor do produto. Na soja, esse porcentual está em, no máximo, 30%.

“O executivo avaliou, ainda, que a maior volatilidade das cotações das commodities agrícolas, com o aumento do cultivo em áreas marginais, de maior risco climático, e o maior volume de negociação dos grãos no mercado financeiro, exige rigoroso controle das despesas. ‘O custo de fertilizantes tem oscilação muito grande ao longo do ano. Se você compra no período errado, fixa custo alto’, explicou.

“O executivo da SLC Agrícola afirmou que a empresa está reduzindo o ritmo de comercialização futura da safra 2013/14 em consequência dos altos preços do frete. ‘Está mais difícil vender por causa da superestimativa dos fretes.’ Para ele, no entanto, há uma tendência de reequilíbrio nos preços para transportar os grãos, com a adaptação à Lei dos Caminhoneiros e investimentos das empresas transportadoras. A empresa vende toda a produção de milho e soja na fazenda, de acordo com Pavinato.” (Tássia Kastner e Suzana Inhesta, Estadão, 9/4/2013.)

12 de abril de 2013

Outros apanhados de provas da incompetência de Dilma e do governo:

Volume 85 – Notícias de 1º a 7/2.

Volume 86 – Notícias de 8 a 14/2.

Volume 87 – Notícias de 15 a 21/2.

Volume 88 – Notícias de 22 a 28/2.

Volume 89 – Notícias de 1º a 7/3.

Volume 90 – Notícias de 8 a 14/3.

Volume 91 – Notícias de 15 a 21/3

Volume 92 – Notícias de 22 a 28/3.

Volume 93 – Notícias de 29/3 e 4/4.

 

12 Comentários para “Más notícias do país de Dilma (94)”

  1. Dez anos de falsas promessas, dez anos que representam cem anos de solidão.

    Como no célebre romance de Gabriel García Márquez, o tempo não passa para as organizações comunitárias – elas continuam sendo enroladas, enganadas, desprezadas e humilhadas pelos governos que se sucedem. Muda governo, renovam-se os burocratas e tecnocratas, mas a postura é a mesma – de segregação. Seja o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, ou o PT de Lula ou Dilma Rousseff, o tratamento não muda.
    Convenhamos, porém, o presidente Fernando Henrique Cardoso foi coerente. Seu governo sempre se posicionou claramente contra avanços sociais; e as privatizações, globalização e liberalismo econômico, políticas altamente restritivas, reproduzem este pensamento. O discurso do governo petista, porém, é ilusionista – manifesta-se como uma defesa das camadas populares, mas suas ações promovem o estigma da exclusão de classes.
    Os dez anos do PT significaram dez anos de solidão para o ideal socialista. O governo do PT (e não se pode generalizar para todo partido) fez o pior papel a se esperar numa disputa política: mascarou-se de aliado, mas agiu como inimigo do socialismo.
    O partido não aprendeu as lições do velho Mao Tse Tung que dizia: numa guerra a primeira a coisa é saber quem são seus aliados e seus inimigos. O PT escolheu fazer uma política que destruiu a utopia de um partido de esquerda. Para desespero dos petistas de raiz, dos que acreditavam num partido da utopia, o governo do PT faz um esforço enorme para mostrar ao mundo que o PT é um partido igual aos outros.

  2. Informação?

    Um dos mais importantes acontecimentos da atualidade está sendo tratado com grande superficialidade nos meios de comunicação: a extração de petróleo e gás de xisto nos Estados Unidos, com novas tecnologias de alta produtividade e baixo custo. A produção de combustíveis avança em alta velocidade e já derrubou consideravelmente o preço da energia. Os americanos voltam a investir em indústria (até Pittsburgh, que tinha sido abandonada pelos empresários da siderurgia, renasce com a produção de aço). Fábricas americanas instaladas na China, no México, na região dos tigres asiáticos, retornam à base. E empresas não americanas de grande porte, como a chinesa Lenovo (herdeira dos computadores pessoais da IBM), passam a produzir nos Estados Unidos. Para outros países, é dificílimo competir com indústrias que dispõem de energia abundante e muito mais barata e desfrutam de infra-estrutura pronta para funcionar.
    Não são informações secretas; também não deixaram de ser publicadas. Mas a análise do que está ocorrendo não foi feita até agora pelos meios de comunicação. Por exemplo, a redução da importância do petróleo do Oriente Médio para o Ocidente (países como Arábia Saudita e Emirados terão de buscar novas fontes de divisas; Iraque e Irã, embora tenham outras fontes e sejam altamente viáveis, perdem boa parcela de sua receita). Ou, o que nos atinge diretamente, entrou em jogo a viabilidade do pré-sal. É mais caro, muito mais caro, extrair petróleo da camada de pré-sal do que buscá-lo em rochas superficiais saturadas de combustível. Pode valer a pena, em termos geopolíticos (que provavelmente estão sendo estudados pelo governo brasileiro); em termos apenas econômicos, nas condições atuais, os riscos do investimento cresceram.
    Outros fatores são tratados como banais pelos meios de comunicação, e não são banais. Convergem para transformar a energia cara em coisa do passado. O carro elétrico, hoje, ainda é caro; mas há muita gente trabalhando para que ganhe posição no mercado. A energia dos ventos cresce de importância (inclusive no Brasil). Muito dinheiro e talento está sendo investido na busca da energia do hidrogênio – gerada a partir da água e que, uma vez usada, volta a ser água.
    A única explicação para o tratamento pouco profundo dispensado a estes fatores é a falta de percepção da imprensa. Existe gente especializada no tema (inclusive na Petrobras, inclusive na Agência Nacional de Petróleo, inclusive nas boas universidades brasileiras), existem publicações, fonte é o que não falta. O que falta é pauta; o que falta é disposição de não ser surpreendido por uma modificação na economia internacional que afetará, para o bem e para o mal, todos os brasileiros.

    Por Carlos Brickmann em 09/04/2013

  3. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse nesta quinta-feira 11 que o PSDB encaminhará ao Congresso Nacional um projeto de lei pedindo penas mais rígidas para menores de 18 anos. O objetivo é endurecer o Estatuto da Criança e do Adolescente.

    O Brasil vive uma espécie de capitalismo desenvolvimentista selvagem, que no fundo não quer gastar dinheiro com o social, interessando-se pelo lucro a qualquer custo. A violência que escapa nesses nos exemplos, dos rapazes da van, da assassina do menino no Rio de Janeiro e a morte de jovem assassinado por um menor de 18 anos em São Paulo, é proveniente de indivíduos que refletem um descaso social como um todo.
    Para usar um termo que tem origem na filosofia política do século 17, o Brasil pode até ter um contrato social, mas ele está muito corrompido. E o que não temos é um pacto social, não existe um discurso de construção de fato de um país para todos.
    O que existe e, mais triste ainda, é aceito, são interesses individuais ou de pequenos grupos mesquinhos, mas não uma disposição de pensar o coletivo.
    A idéia do “cada um puxa a sardinha para seu lado” está legitimada socialmente no Brasil.

    O desespero acentua o efeito combinado do avanço tecnológico com furor reacionário, criando campo propício à proliferação de articulistas raivosos e humoristas de boteco.

    A extensão do grotesco é tão acentuada que seus “bons propósitos” não enganam a mais ninguém. Estão todos na ordem do riso. E da exclusão social.

  4. REFORMA POLÍTICA!

    PT coletará assinaturas para projeto de reforma política.

    A reforma política se faz necessária, não como o PT quer, mas da forma que o povo achar melhor. Para tal se faz necessária ampla discussão com o povo e seus movimentos sociais. O PT nestes últimos 10 anos conseguiu a desmobilização de suas próprias bases suprimindo as decisões da base por imposições de cúpula.

    Os dois pontos destacados pelo partido para, através de campanha, conseguir 1% de assinatura do eleitorado são: 1) financiamento público de campanha;2) lista fechada para vereadores, deputados e senadores;3)eleição de uma assembléia nacional constituinte exclusiva.

    O atual congresso nacional poderá fazer os remendos sugeridos, mas não vai afastar o risco dos mensalões. Afinal o executivo sempre irá perseguir a maioria no congresso, seja por ideologia ou compra de votos dos fisiológicos.

    Tão pouco uma assembléia nacional constituinte fará as mudanças políticas necessárias. Nossa última carta magna foi costurada a duras penas e conchavos e até hoje tem muitos de seus artigos não regulamentados.Depois de 25 anos a Constituição veio reconhecer os domésticos como trabalhadores equiparando-os aos urbanos e rurais.Jovem, nossa constituição já sofreu 38 cirurgias e prestes a uma nova intervenção, a PEC 39 que pretende restabelecer a redação original do § 5º do art. 14 da Constituição Federal, para proibir a reeleição do Presidente da República, dos Governadores de Estado e do Distrito Federal e dos Prefeitos no período subseqüente.

    Uma nova constituição, com a mesma correlação de forças políticas oligárquicas não garantiria reformas políticas que pudessem garantir avanços sociais relevantes.

    Somente a participação popular garantiria uma constituição cidadã que imprimiria uma efetiva reforma política. Mas o povo anda distante da política, massa de manobra dos políticos de carreira e seus partidos de aluguel.

    Muito tempo separa o povo da utopia socialista, falta-lhe educação, politização e organização. Ao povo as migalhas de ações populistas, o direito obrigatório de votar, o estado patrimonialista e policialesco, o mercado e o lucro liderado pelos tecnocratas e meritocratas de plantão, neo burgueses que clamam por mais polícia, mais prisões e penalização de menores de idade.

    Sem a participação do povo, as propostas petistas soam demagógicas e paleativos apenas.

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