Invencionices

A Folha de S. Paulo de segunda, 8 de abril, traz um editorial que, ao contrário dos últimos textos desse jornal que já foi um dos melhores do Brasil, foi bom de ler. Parênteses: a crítica é à linha política que o jornal resolveu imprimir até nos noticiários. Gosto que um jornal diga a que vem, mas nas notícias ele tem que se ater ao que noticia. Não é o que anda sucedendo por lá.

Mas volto ao editorial, intitulado ‘Chá, por favor’.

Não é um problema paulistano, não. É nacional. A mania de mudar o nome dos logradouros públicos irrita os moradores, os santos e os homenageados, com toda a certeza.

Duvido que um homem inteligente como Tom Jobim tenha gostado da mudança de Galeão para Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim. Primeiro que ele tem uma linda música que diz estamos chegando no Galeão; segundo que aquele aeroporto, no estado lastimável em que está, não homenageia ninguém.

zzzzzchá3Pegue um romance inglês do século 19 ou do século 20. Se passado em Londres, nada mais fácil do que seguir o que o autor diz e se situar onde a ação se passa.

Ou uma das comédias humanas de Balzac para saber onde morava a Eugénie. Em Paris conheço um caso. A praça onde fica o Arco do Triunfo, chamada Étoile desde as reformas do Haussmann, passou a se chamar Praça Charles de Gaulle. Mas quando for marcar um encontro com um parisiense prefira dizer na Étoile. É mais seguro.

Quer saber onde seu trem vai parar em Lisboa? Na mesma estação onde o Carlos da Maia chegava de suas viagens: Santa Apolônia. O trem é mais moderno, a estação também, mas o nome é o mesmo.

Recife é das nossas cidades – das que conheço bem – a que melhor conserva os lindos nomes de suas ruas: da Alegria, da União, das Crioulas, das Pernambucanas, das Fronteiras, da Aurora, Largo do Chora Menino…

Aqui no Rio é um descalabro. Mudam os nomes das ruas sem dó nem piedade. Com tanta rua sem nome nesta imensa cidade. Mas os prefeitos querem inaugurar placas na Zona Sul ou em lugares de muita visibilidade. É uma estranha mania. Que não lhes dá nem um voto, posto que o homenageado já faleceu.

Bem faz a Folha em lutar pela conservação de nomes que fazem parte da história de São Paulo. Não conheci pessoalmente Mario Covas, mas tenho certeza de que ele não ia se sentir homenageado com um Viaduto do Chá Prefeito Mário Covas. Ia achar, como a maioria de nós, ridículo!

9 de abril de 2013

4 Comentários para “Invencionices”

  1. Com razão a Falha de São Paulo e a Maria Helena Rubinato Rodrigues de Souza, a mudança de nomes já tradicionais e populares é uma afronta. A rua Montenegro em Ipanema virou Vinicius de Moraes, O Estádio do Maracanã mundialmente conhecido foi rebatizado de Mário Filho e o “Aterro do Flamengo” foi rebatizado de Parque Brigadeiro Eduardo Gomes são outras violências.
    Querem prestar homenagem, façam novas ruas, viadutos, parques e batizem com o nome do homenageado.
    O viaduto que dá charme a São Paulo não deve ser rebatizado. “Chá por,favor”!

  2. Apesar de toda a admiração que sempre tive por Mario Covas, apoio integralmente a permanência do nome atual, sem mudanças.
    Chá, por favor!

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