Inimigos da Pátria

Incapaz de olhar além do próprio umbigo, reconhecer erros e buscar correção de rumos, o PT tenta fazer com a economia o que fez com os seus malfeitos na política: gerar versões fantasiosas sobre a realidade e culpar o mensageiro pelo conteúdo desagradável da missiva.

Nessa toada, começou a espalhar a versão de que a oposição e analistas da grande imprensa estão torcendo para que o País afunde. Que, impatrioticamente, desejam pibinho e apagões.

Falam como se o PIB de 1% em 2012, talvez aquém disso, ou os malabarismos para fechar o ano fiscal fossem invenção diabólica de uma mídia satânica que teria como tarefa precípua desestabilizar governos petistas.

Mesmo de férias, coube ao ministro das Comunicações Paulo Bernardo os primeiros tiros oficiais, resposta ao artigo publicado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) no jornal Folha de S. Paulo. “Não dá para ele e a oposição ficarem torcendo a favor do pibinho e do apagão”, reagiu o ministro, mas sem contestar os números expostos.

No dia seguinte, neste blog, o ex-ministro José Dirceu adicionou o elemento que faltava: a mídia. Os “jornalões”, que, segundo ao réu condenado no processo do mensalão, “fazem campanha pelo apagão”.

Sem dúvida, melhor seria se tudo não passasse de oportunismo oposicionista e conservadorismo da mídia.

Que os apagões não existissem, que as contas públicas estivessem equilibradas, que a inflação não tivesse rompido a casa dos 6% e de mais de 10% quando se fala nos preços dos alimentos. Que o governo não lançasse mão de artifícios – tão grotescos que desacreditam o País – para fechar 2012.

Também não passam de invenção as pás eólicas gastando para ficar paradas, sem gerar um único watt, devido aos atrasos nas obras dos sistemas de transmissão. Os otimistas falam em aproveitamento parcial delas daqui cinco ou 17 meses.

Enquanto isso, dá-lhe o caro e poluente gás como fonte complementar. Isso, com produção industrial baixíssima ou negativa. Imaginem como seria com um pibão.

Como não há sedimento para tapar os buracos, a pregação do governo e do PT de que tudo não passa de torcida contra da oposição e da mídia tende a aumentar.

Vale tudo. Até dizer – como se viu nas redes sociais – que o blecaute de uma hora que atingiu 33 cidades do Piauí na mesma manhã em que a presidente Dilma Rousseff desembarcava no estado foi sabotagem; coisa da direita ou criação da imprensa. Uma prática conhecida.

Mas é melhor ter cuidado. Dizer que o mensalão era ficção não serviu para a Suprema Corte. Na economia, é ainda mais difícil que o enredo cole. O bolso, não raro, é mais sensível do que a razão.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 20/1/2013.

3 Comentários para “Inimigos da Pátria”

  1. A presidenta Dilma Rousseff disse que está fazendo “o possível e o impossível” para que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano seja o maior possível. Para ela, a retomada da economia mundial, principalmente dos Estados Unidos e da China, deve beneficiar o Brasil.

    Por outro lado fico pensando….a Dilma restringiu a importacao de mercadorias (protegendo a industria nacional)….desvalorizou o real….reduziu as taxas de juros…reduziu o custo da eletricidade…o que falta mais para investirem? Sera que o governo ficou refem dos pedidos dos empresarios nesse contexto de expectativas do PIB? Vamos esperar para ver a FIESP e a CNI em 2013….se nao investirem, podemos entrar em ciclo vicioso e os industriais tomarao na cabeça ao virar a esquina. Nao tem escapatoria.

    Eles querem um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”, dizia Raymundo Faoro.

  2. O motivo de tantas trapalhadas é que agora eles estão implantando o jeito petista de governar também na economia. Antes tivemos o Palofi, um admirador confesso do Pedro Malan, que inclusive declarou ter lido tudo que ele escreveu e que até guardava os recortes de jornais das entrevistas que ele dava. Depois, a economia esteve sob as asas do Henrique Meirelles, prestigiado por Lula nas disputas que mantinha com o genial Mantega.
    Agora, finalmente, temos uma gerência legitimamente petista na economia, com o genial Mantega aprontando poucas e boas e destruindo todo o bom trabalho feito nos últimos vinte anos. Acho que ele não dura no cargo muito tempo. A Presidente vai acabar tendo que pedir ajuda aos universitários, ou seja, a algum economista que não reze pela cartilha do PT. Ao contrário de Dilma, Lula conhecia bem o jogo: “Nóis desce o pau nus tucano, mas nóis imita tudo o que eles fazia que dá tudo certo”.

  3. O pessimismo desmentido
    Por Luciano Martins Costa

    O leitor crítico e observador deve estranhar algumas reportagens publicadas nas edições de quarta-feira (23/1) do principais jornais brasileiros. Depois de semanas martelando na tecla do “pibinho” e repetindo projeções de piora no cenário econômico nacional, o Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo e o Globo trazem um retrato contraditório com a tendência que vinham apontando.

    “Empresário brasileiro está entre os mais otimistas”, diz a Folha de S. Paulo em chamada de primeira página, referindo-se a pesquisa feita pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) em 68 países. Segundo a reportagem, “a despeito das perspectivas pessimistas da economia, 44% dos empresários brasileiros estão confiantes no crescimento da receita das companhias”.

    Também no Estadão e no Globo, a pesquisa da Price ganha espaço e rompe o ciclo de catastrofismo da imprensa. Segundo o estudo, feito por consultas a 1.330 líderes empresariais atuantes em 68 países, o otimismo dos homens de negócio no Brasil supera as expectativas dos seus consortes nas duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, e fica atrás apenas de russos, indianos e mexicanos.

    Mercado importante

    Ao contrário do que a imprensa nacional tem induzido, na visão de quem faz grandes negócios o Brasil se encontra na condição de “crescer e acelerar”, com uma perspectiva de incrementar sua economia em média 4% ao ano entre 2013 e 2015.

    O ranço predominantemente negativista do noticiário econômico no Brasil, característica ainda mais visível na própria Folha, também é parcialmente desfeito pelo principal diário especializado em economia e negócios, o Valor Econômico.

    Segundo o Valor, o Índice de Confiança da Indústria, sondagem feita periodicamente pela Fundação Getulio Vargas, teve uma leve melhora, que, se confirmada, vai consolidar o maior patamar de otimismo do setor desde junho de 2011. O resultado final da pesquisa será divulgado na semana que vem, mas os primeiros números apontam para bons indicadores sobre a situação atual e o nível da capacidade instalada da indústria brasileira.

    Não é a primeira vez que a realidade desmente a tendência da imprensa nacional, que costuma misturar política com economia ao avaliar os indicadores.

    O estudo publicado pelos jornais na quarta-feira é divulgado anualmente pela PricewaterhouseCoopers no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, e costuma balizar os investimentos produtivos nos anos seguintes. Na pesquisa deste ano, o Brasil aparece como o terceiro mercado mais importante para empresários de todo o mundo, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, na questão dirigida a todos os consultados.

    Questionados sobre quais seriam os três principais mercados globais para se investir nos próximos doze meses fora do país onde têm sua principal atividade, 15% dos líderes empresariais citaram o Brasil, enquanto a China foi apontada por 31% e os EUA por 23%.

    Crescem os investimentos

    O Globo traz ainda outra reportagem, antecipando dados do Banco Central do Brasil sobre os números do Investimento Estrangeiro Direto, apontando para um aumento no ingresso de capitais para atividades produtivas na economia brasileira. Segundo essas informações preliminares, o Brasil atraiu em 2012 um volume de recursos próximo de US$ 64 bilhões, devendo figurar entre os maiores destinos de capital para negócios em todo o mundo.

    Esse tipo de investimento, que tende a permanecer no mercado por períodos de cinco a até mais de quinze anos, é um dos fatores de confiança dos empresários no desenvolvimento de um país.

    Paralelamente, a Folha de S. Paulo informa que o capital estrangeiro no Brasil teve uma redução em 2012, em relação ao ano anterior. Trata-se dos mesmos números citados pelo Globo, mas a Folha prefere usar como fonte o Instituto de Finanças Internacionais em vez do Banco Central, dando um viés negativo aos mesmos indicadores.

    O Globo destaca os investimentos produtivos e a Folha inclui investimentos especulativos no mercado de ações e de renda fixa, que vêm sendo alvo de controle por parte do governo, para evitar a sobrevalorização do real.

    Esse apanhado de indicadores demonstra que o noticiário econômico sofre infiltração de interesses políticos dos jornais, que parecem interessados em investir no pessimismo. Mas nem o mais talentoso editorialista ou colunista consegue driblar os fatos indefinidamente.

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