Hollywood raramente se engana e nunca se cala

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Ó Mr. Nor­ton, não é só no La Chunga, tam­bém já dan­cei aqui

Para fechar a silly sea­son, e ao fim de dois anos de atu­rado labor inte­lec­tual, autorizo-me uma lista fútil. São epi­só­dios que, de cer­tos fil­mes, teriam feito fil­mes dife­ren­tes. Outros, bem mere­ciam ter dado um filme.

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A West não era cama de Cukor

1. Acre­di­tem, a pri­meira esco­lha para a velha actriz que pro­ta­go­niza Sun­set Bou­le­vard foi Mae West. Escolheu-a George Cukor, que, por não as que­rer levar para a cama, em mulhe­res nunca se enganava.

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Nem morto, nem gigolô

2. Ainda em Sun­set, Mont­go­mery Clift devia ter sido o escri­tor, o morto, o gigolô – nunca a ordem dos fac­to­res foi tão indi­fe­rente. Monty não quis que fosse a sua estreia no cinema. Tivera um affaire com uma senhora mais velha e de boas ren­das. Temeu que a coin­ci­dên­cia e o rumor lhe enve­ne­nas­sem a carreira.

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o amigo judeu

 3. O famoso avi­a­dor Char­les Lind­bergh era um esta­fado pró-nazi. Para rece­ber um pré­mio, levou um dia o seu amigo Billy Wil­der  num avião­zeco. Lá no ar, vira-se Wil­der para ele: “E se caís­se­mos agora? Já viste as man­che­tes ama­nhã – Lind­bergh despenha-se com o seu amigo judeu.”

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lá se foi a cara de pau

4.     Gos­tava de ter visto Cary Grant ao lado de Greta Garbo, a empe­der­nida comu­nista de Ninot­chka. Era o que Lubitsch mais que­ria e os pro­du­to­res não dei­xa­ram. A his­tó­ria ide­o­ló­gica do século XX seria outra: Garbo e a cara de pau do comu­nismo teriam sor­rido mais cedo. 

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só mato três pessoas

5. Assus­tado com as cam­pa­nhas anti vio­lên­cia con­tra The Mummy, Chris­topher Lee, que era no filme essa “múmia”, veio pro­cla­mar ino­cên­cia: “No The Mummy, só mato três pes­soas. E não o faço de forma maca­bra. Limito-me a partir-lhes o pescoço.”

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o homem e o ócio

6.  O que mata um homem é o ócio. Lubitsch tra­ba­lhava 6 dias por semana, 16 horas por dia. Fil­mava That Lady in Ermine. Meteu-se na cama, fez o que tinha a fazer e mor­reu de ata­que car­díaco. É ver­dade que, em armi­nho ou não, ao lado dele, entre len­çóis, estava, vivís­sima, uma lady, que o seu moto­rista reti­rou dis­cre­ta­mente. O ócio mata um homem e lady que é lady fica incóg­nita para a eter­ni­dade.  

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não era boca de beijos

7. Jack Lem­mon era um pro­di­gi­oso actor. As mãos e a cara dele faziam tudo e bem. Mas era inca­paz de levar uma cena de amor até ao fim. Ata­cava os pre­li­mi­na­res e quando a boca se che­gava aos bei­jos, desatava-se a rir. Toda­via foi ele a pri­meira esco­lha de Wil­der para The SevenYear Itch com Marilyn. A Fox, mal­vada raposa, não deixou.

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Otto, ple­ase

8. Para a antes­treia das qua­tro horas de Exo­dus, o épico sobre o nas­ci­mento de Israel, Otto Pre­min­ger, o rea­li­za­dor, pediu a um actor judeu, Mort Sahl, que fosse o con­vi­dado de honra. Decor­ri­das três horas de pro­jec­ção, Mort sal­tou da cadeira, pôs-se de joe­lhos e implo­rou: “Otto, let my peo­ple go.”

Este artigo foi originalmente publicado no semanário português O Expresso.

manuel.s.phonseca@gmail.com

Manuel S. Fonseca escreve de acordo com a antiga ortografia

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