Eterna Mestra

Impossível escrever sobre a Magda sem voltar a 1962, em Belo Horizonte. À Rua Carangola, que abrigava o prédio grande e moderno da FAFICH e, pertinho, o pequeno e antigo, do Colégio de Aplicação.

No prédio grande e moderno, no curso de Licenciatura, conheci – e nunca mais esqueci – a professora de Didática Especial de Português, à primeira vista  simpática, culta e competente. Somente à primeira vista. Poucos, pouquíssimos dias de convívio bastaram para que ela se revelasse mais que isso. Muito mais.

Seus olhos expressivos, sua voz clara e sua fisionomia iluminada enriqueciam nossas manhãs universitárias demonstrando, com imensa simplicidade, que o magistério, mais que uma profissão, podia ser uma missão.

Ao mesmo tempo, no prédio pequeno e antigo, conheci – e nunca mais esqueci – a professora que, rosto sereno, olhos atentos e encorajadores, acompanhava,  pacientemente, do fundo da velha sala de aula, meus primeiros, indecisos e imprecisos passos de estagiária. Estagiária pretensiosa que sonhava, um dia – quem sabe? – seduzir e emocionar os próprios alunos, à imagem e semelhança da Mestra.

Tanto tempo passado, recebo, aqui em São Paulo, um convite honroso: lembrar a Mestra.

Nada mais fácil. Nada mais fácil que lembrar alguém sinônimo de simplicidade, sedução, clareza, emoção, simpatia, cultura, competência, serenidade, coerência, alegria, coragem. Generosidade.

Há alguns anos, a convite de Sonia Junqueira, Magda Soares escreveu e assinou, generosamente, o prefácio de um livro que Ronald Claver, outro ser privilegiado (também foi seu aluno) e eu acabáramos de escrever.

Ao ler aquele prefácio que afirmava – com conhecimento de causa – que Ronald e eu havíamos dado conta de nossa lição de casa, tive duas certezas.

A primeira me dizia que, se tudo aquilo era verdade, não fazíamos tanta vantagem assim: com uma Mestra daquelas, uma eterna Mestra, o esperado era que tivéssemos aprendido a ler, a escrever, e – sobretudo – a pensar razoavelmente.

Minha segunda certeza me dizia e me diz, a cada releitura daquele prefácio, que emoção não mata. Nem saudade.

Vivina escreveu este texto a pedido do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – Faculdade de Educação/UFMG, que publicou em dezembro de 2012 um número especial de seu jornal Letra A em homenagem à professora Magda Soares.

Não tive a honra de conhecer Magda, mas a admiro. A Mestra da minha Mestra só pode, naturalmente, ser admirável. (Sérgio Vaz)

8 Comentários para “Eterna Mestra”

  1. Olá, Vivina! Como vai? Gostaria de parabenizá-la pela poesia presente em seus belos textos. Cada um deles com os quais me deparo despertam mais encantamento de minha parte para com seu talento. Entretanto, devo admitir que sou apaixonado em especial por seu livro “O Dia de Ver Meu Pai”. Sou ator e, ao ler tal obra, não pude deixar de imaginá-la numa adaptação em palco. Gostaria de manter algum contato contigo para que conversássemos a respeito disso. Desde já, muito obrigado e, mais uma vez, parabéns pelo lindo trabalho!

  2. Sérgio, meu querido aluno/amigo/irmão/filho:
    tenho certeza de que fui duplamente privilegiada, ao ser, ao mesmo tempo, aluna da Magda e sua professora. Sei lá se merecia tanto.
    Beijo carinhoso
    Vi

  3. Olá, Tiago,

    muito bom saber que você gosta de ler o que eu gosto de escrever. Estamos empatados?

    Abraço da
    Vivina

  4. Vininha, fiquei emocionada ao ler esse seu texto, porque tenho certeza de que foi a Magda Soares com seu “Português através de textos” que me despertou a curiosidade pela língua, pelo valor intrínseco dos textos caprichados como os de Drummond, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga e tantos outros. Eu tinha só uns 12 anos quando comecei a estudar naqueles livros… e sabia que estava lidando com uma autora competente.
    Coisa mais bonita a gente ter a chance de ler gente sabida escrevendo sobre gente sabida… Obrigada e um abraço antigo… saudoso! Lucinha

  5. Caríssima Vivina, que satisfação em poder ainda que por essa via da internet, poder trocar umas palavras contigo.
    Sou Pe. Rodrigo, e muito me alegro em dizer que foi através do Rei dos Cacos, de sua autoria, que aprendi a ler.
    De lá pra cá, nunca mais parei de ler…
    Tanto que me aventurei pelo mundo da poesia.
    Já tenho algumas obras publicadas e gostaria de poder trocar umas figurinhas contigo.
    Seria muito honroso para mim, ter um prefácio seu, no meu novo livro, que tem por título: Há-braços: o inacabado que vive em mim.
    Fico no aguardo.
    Pe. Rodrigo

  6. Vivina, depois de adulta, revisito sua obra. Sempre me emociona. Em 1995 lhe escrevi uma carta sobre Ana e Pedro, e recebi seu envelope. Tenho relido seus livros, neste momento que ando precisada de sua poesia. A forma de sua escrita é sempre atual e afetiva. Muito obrigada por ter feito parte da minha formação afetiva. Um abraço.

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