A costela de Adão

Eis que estavam todos postos em sossego curtindo na sombra os preparativos para a eleição de 2014 quando alguém atirou uma pedra no lago e a marola se fez.

Os círculos concêntricos provocados pela pedra que caiu no meio do lago pegaram o marqueteiro presidencial no contrapé, pois ele havia acabado de classificar a luta de sua candidata como um passeio sobre uma federação de anões.

Excesso de confiança antes do jogo não faz bem à alma, como seria capaz de ensinar até o Felipão, e mesmo que o time tenha cara de favorito, cantar vitória antes da vitória pode soar como soberba.

O fato é que a transferência da sonhática Marina e seu embornal de fundamentalismos para o PSB de Eduardo Campos, embora envolto pela marca da transitoriedade, com data de vencimento válida até o momento em que ela consiga legalizar a sua Rede, entornou a água do lago.

Ou, pelo menos, deu ao jogo a aparência de um novo kickoff para uma partida que parecia terminada antes de começar.

Pode ser que o terremoto seja apenas uma marola de superfície, porque como disse o ministro Paulo Bernardo, com seu proverbial senso prático e pragmático, “ninguém vota em vice”.

Ainda assim, a água do lago se mexeu e provocou algumas ondas até do lado do PSDB, onde José Serra relutará até os 45 minutos do segundo tempo e mais a prorrogação que conseguir, em reconhecer que o candidato do partido desta vez não será ele.

Aparentemente nasce uma espécie de frente de oposição extraída das próprias costelas da situação, que é o que costuma acontecer em política quando algumas situações se tornam incomôdas, e o ventre do poder costuma gerar a sua própria antítese para no fim terminar numa síntese onde algo pareça mudar para que fique tudo como está, só para lembrar Lampedusa.

A aparente frente de oposição tem mais cara de aparente do que de oposição. Os espíritos da floresta ungiram Marina Silva com os santos óleos de uma quase divindade, que lhe deram uma aparência de um novo que desfralda bandeiras tão paradoxais quanto o de fazer política pregando ser a negação da política.

Eduardo Campos, tão pragmático quanto o histórico avô, é uma oposição situacionista, que quer manter tudo o que ele apoiou desde o começo com algumas pitadas a mais de eficiência gerencial, ítem em que a atual presidente,eleita como uma factótum, não conseguiu convencer. Ele acha que pode fazer a mesma coisa, mas fazer melhor.

Embaixo do aparente maremoto, a única verdadeira oposição que desponta até o momento, é a que José Serra faz à sagração do candidato de seu partido, Aécio Neves, que com paciência beneditina espera a sua vez de poder dizer que a oposição é ele e explicar,finalmente, o que isso significa e para que serve.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 11/10/2013. 

Um comentário para “A costela de Adão”

  1. Boa a análise. A marola, após a pedra, mostra as águas novamente calmas e favoráveis a situação. Fez-se a tradicional política, a esperança se mostrou pragmática demais. Marina decepcionou a rede, mas a rede não pode decepcionar. O movimento de junho continua, silencioso, calmo como as águas do lago, profundo e sombrio, aguardando novas pedras.Situação e oposição não sabem ainda como avaliar e direcionar o poder da rede.

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *