O bicheiro bota banca

Carlinhos Cachoeira, o bicheiro, foi solto. Horas antes veio a público o relatório da CPI que leva o seu nome, comprovando, com todos os efes e erres, que a Comissão só fora inventada por Lula para que ele e o PT pudessem se vingar de alguns dos delatores do mensalão. E, de quebra, do contraventor, contribuinte útil, mas pedra no sapato dos petistas.

No mesmo dia, José Dirceu, condenado a 10 anos e 10 meses por corrupção ativa e formação de quadrilha, reorganizava suas tropas para o contra-ataque à Corte que lhe proferiu a sentença.

Protagonista do primeiro escândalo envolvendo Dirceu, Cachoeira gravou em vídeo a entrega da propina a Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, o “capitão do time” de Lula.

O filmete da cobrança do pedágio deu origem a CPI dos Correios, estopim da denúncia do mensalão, verbalizada com furor pelo também réu, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Ressalte-se que, de todos, só Jefferson não culpa a imprensa por sua punição. Dirceu insiste que o STF agiu “sob pressão da mídia conservadora”. Cachoeira, em soltura provisória, reclama da “perseguição da imprensa”. E o relatório de Odair Cunha (PT-MG) indicia jornalistas, os inimigos que tanto perturbam Lula, Dirceu e cia.

Algoz em 2004, possível informante da revista Época na denúncia de cobranças ilícitas de Waldomiro, e fonte declarada da revista Veja, Cachoeira é um risco.

Aturou nove meses de prisão, calado. Mas já falou antes, pode voltar a falar. Quando diz que vai “colocar os pingos nos ‘is’ na hora certa”, muita gente na República treme.

Cachoeira tem fortes ligações nos governos central e do Distrito Federal, que nem mesmo aparecem no relatório da CPI. É carne e unha com a Delta, empresa com o maior bolo de obras do governo Dilma e contratos polpudos com o aliado Sérgio Cabral, governador do Rio, e que, mesmo impedida de fazer novos contratos, é vice-líder nos pagamentos federais.

O bicheiro domina o jogo, faz a banca. É cobra.

Sua rede já pegou o ex-governador do DF José Roberto Arruda (DEM), o ex-senador Demóstenes Torres (DEM-GO), Waldomiro Diniz, José Dirceu e todos os demais réus do mensalão. Subiu, literalmente, no telhado do tucano Marconi Perillo, está pertinho de Cabral.

O procurador-geral da República Roberto Gurgel – um dos alvos do PT, acintosamente acusado por Cunha em seu relatório na CPI -, e Joaquim Barbosa, relator do mensalão e desde quinta-feira presidente da Suprema Corte – tido como carrasco por Dirceu e os seus -, vão ter trabalho. Dobrado.

Quem sabe, a exemplo do mensalão, pode dar a águia. Na cabeça.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 25/11/2012.

 

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