Rumo à ditadura da coligação única

Depois da jabuticaba e da tomada elétrica idem, o Brasil está em vias de brindar o mundo com uma nova invenção genuinamente nacional, que não existe em nenhum outro lugar do mundo: a ditadura da coligação única.

O PT fez a sua parte direitinho. Cooptou mais de uma dezena de partidos para a coligação que nos governa há oito anos e três meses, e, pelo jeito, vai nos governar por mais um século, pelo menos. Juntou no mesmo balaio o PCdoB que cria um Código Florestal aplaudido pelos ruralistas e o PP do outrora inimigo figadal Paulo Maluf, mais um monte de outras siglas, desde as menores até as poderosas, como o PMDB de fome insaciável por cargos na máquina pública. Para isso, pagou aos políticos dessa salada mista em espécie, como se viu no mensalão, e em empregos que rendem muita espécie, aos pobres igualmente em dinheiro, com o Bolsa Família, e aos sindicalistas com as polpudas verbas do imposto sindical que no passado tanto combateu.

Tudo isso é do jogo. É o que seria de se esperar, num país de instituições tão débeis quanto o nosso.

O surpreendente é como os partidos de oposição se juntaram ao PT na construção dessa ditadura da coligação única. Com um empenho extraordinário, uma vontade política firme, o DEM se desmelingüe. Sua liderança de maior número de votos, o prefeito paulistano Gilberto Kassab, deu uma preciosa ajuda no processo de extinção da legenda ao criar seu PSD, um partido que, segundo ele, não é de direita, nem de esquerda, nem de centro, muito antes pelo contrário.

Mas o PSDB, o partido que governou o país durante oito anos, não fica atrás. De forma alguma: aderiu ao projeto de haraquiri das oposições com a disposição dos sete samurais.

E não é de hoje essa sanha suicida tucana. Em 2006, Geraldo Alckmin atropelou os caciques do partido, os eleitores e as pesquisas de opinião que apontavam José Serra com altos índices de intenção de votos, e impôs sua candidatura à presidência. Na campanha, renegou todas as bandeiras do partido e as realizações do governo Fernando Henrique Cardoso, e conseguiu a proeza histórica de ter menos votos no segundo turno do que no primeiro.

Em 2008, o mesmo Alckmin renegou a aliança com o então PFL que já vinha desde 1994, sempre vitoriosa no Estado mais importante da federação, e lançou-se candidato à Prefeitura de São Paulo contra o candidato natural do que deveria ter sido a coligação PSDB-PFL, o então vice-prefeito Gilberto Kassab.

Em 2010, a campanha de José Serra teve medo de fazer oposição ao PT, e chegou a botar Lula na propaganda da TV. Mesmo assim, apesar de todo o esforço para perder, chegou a ter 44% dos votos no segundo turno.

Como se ainda fosse pouco, a partir da derrota de outubro de 2010, o maior partido do que deveria ser oposição passou a fazer esforço redobrado para se aniquilar, na patética disputa entre os ex-governadores José Serra e Aécio Neves.

Neste domingo, 10 de abril, o PSDB conseguiu a fantástica, inimaginável façanha de não chegar a um acordo para compor a executiva municipal em São Paulo, um dos berços do partido, a capital do Estado que governa há 16 anos.

O partido se dividiu, com os secretários do governador Geraldo Alckmin de um lado e a bancada de vereadores de outro; sem acordo, 12 dos 13 vereadores tucanos abandonaram a convenção, que terminou sem eleger os membros da executiva municipal. O único nome aprovado foi o do secretário estadual de Gestão Pública, Julio Semeghini, para a presidência.

Sensacional: o presidente do partido na capital paulista não tem o apoio de 12 dos 13 vereadores tucanos!

Ao final do encontro, o governador do Estado fez discurso para um grupo de menos de cem tucanos pingados.

Sensacional.

Não dá para imaginar o que mais o PSDB e o DEM podem fazer na luta pela construção da nova jabuticaba brasileira, a ditadura da coligação única.

11 de abril de 2011

3 Comentários para “Rumo à ditadura da coligação única”

  1. Servaz
    .
    Conquanto tenha apreciado, como sempre, a escrita de Mary Zaidan, gostei mutíssimo de seu artigo sobre a CJ, Coligação Jabuticaba. A proposta do PC do B aprovadíssima pela Confederação Nacional da Agricultura. A bancada ruralista, a UDR, todos irmanados com os comunistas (falsos é verdade). Se perguntarem, certamente terão o apoio do socialista Paulo Skaf.
    Um horror, mas acho que o único cara autêntico neste estranho país é o Bolsonaro.
    Abraço
    Valdir

  2. Você e Mary estão impossíveis. Dois artigos brilhantes! Adorei ! Vocês deveriam escrever para os grandes jornais, onde seriam lidos por um número maior de pessoas.Quanto as coligações é realmente uma vergonha nacional o que está acontecendo.
    Abraços
    Lúcia

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