Minha foto na coluna de óbitos

Ontem abri o jornal e vi minha foto na coluna de óbitos. Estranho, pensei. Será que morri e ninguém me avisou? Pior, não percebi? Bem, se nunca tinha morrido antes, não podia mesmo saber como era. Vai ver é assim mesmo. A gente morre mas não vai direto para onde vão as almas.

Fica um tempo em casa, para se acostumar com a novidade.

Só então me ocorreu ler a nota no obituário, para ver se o nome do morto era o da foto. Ou seja, o meu. E não é que estava lá, o nome certinho. Pensei em telefonar para o jornal e perguntar se não tinha havido engano. Eu me sentia tão vivo! Mas não liguei, tive medo que dissessem que não conversam com mortos.

Só me restava fazer uns testes. Pensei: vou tentar atravessar essa parede. A da sala – do outro lado é o quarto. Mas fiquei com medo de, estando vivo, fazer papel de idiota. Ou quebrar o nariz. Achei melhor sair à rua, para ver o que acontecia. Mas também desisti. Podiam me tomar por um fantasma e sair correndo, o que seria humilhante.

Bem, só me restava esperar. Joguei o jornal no chão e fui para o quarto. Só quando deitei na cama percebi que a porta estava fechada.

(Psicografado pelo médium A. Castro)

Julho de 2011

 

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