Chuva e sorvete

Na semana passada a água caiu por uns quinze minutos e eu fiquei pensando “ufa”, acabou a secura, a vida lá fora continua complexa mas a natureza nos traz finalmente a primavera. No fim do dia, notei que a chuva se fora sem deixar marcas e o sol voltou firme e forte, a umidade retornou aos níveis baixos de antes.

Mas hoje não, ela voltou sem muito estardalhaço, mas constante. Lá fora está chovendo e eu aqui dentro radicalizei. Na hora do almoço uma bela de uma sopa caseira foi minha refeição. Mas como eu sou doido mesmo, passadas algumas horas e a temperatura permanecendo agradável, veio-me uma baita vontade de tomar sorvete. E é o que faço nesse fim de tarde da primeira semana de outubro, em que comemoro dois aniversários e sou festejado, junto com meus colegas de ofício, pelo dia do compositor.

Não sei se vocês viram, mas no bilhete da federal, de sexta próxima, está o rosto alegre de Martinho da Vila.

A chuva está sendo verdadeira, o que não ocorre com o sorvete que eu fui buscar no congelador. Está escrito na embalagem que é de limão, mas nada mais artificial. Desce bem, apesar de tudo. Mas aí eu me lembro de tantos que tomei, durante muitos anos, com frutas mesmo. Ali na Avenida Getúlio Vargas tinha o “ Seu Domingos”, que virou “ São” na visão de seus herdeiros, mas, me lembro bem, era bravo e pouco educado. O produto que vendia, porém, era de qualidade exemplar, de acordo com minhas lembranças gustativas.

Com o nome alterado, o estabelecimento continua lá e vende produtos bons, como se pode ver pelas filas de clientes de hoje, iguais às de ontem. Em todos os bairros da cidade existiam exemplos de sorveterias especiais. As frutas eram frutas mesmo, e variadas. Sempre gostei das mais ácidas. Assim meu gelados preferidos eram os de limão, ameixa do japão, abacaxi e afins. Mas havia uma lista enorme de opções, para todos os gostos.

Há alguns meses, na Itália, e o calor por lá não era brincadeira, me deliciei com os gelados italianos. Eles são campeões nessa especialidade, devo admitir.

O dia suave me convida a ouvir a gravação do Tadeu Franco de uma canção que fiz com o Robertinho Brant, para um projeto gaúcho sobre o poeta Mário Quintana. Tadeu Franco, bem dirigido, canta aqui como um passarinho.

“Mário é brinquedo

é mistério e alegria

que não é fácil explicar

o Quintana se esconde debaixo da cama

e cria a felicidade menina de sonho e poesia

Mário em nuvem de versos viveu

com harmonia palavras de sol

são usinas de luas

e viram o mundo de ponta cabeça

pois tudo nele é diferente

de sapato furado e pé de pilão

ele carrega no bolso e nas mãos

as estrelas que espalha em nossas cabeças

o amigo de todas as horas do dia

nosso eterno menino.

Mário Quintana, Mário Quintana, Mário Quintana.”

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em  5/10/2011.

 

 

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