As preciosidades ridículas

Na saída do supermercado, com produtos espalhados em seu carrinho, a senhora olha para os companheiros de infortúnio e protesta. “Ninguém vai reclamar desse absurdo, vamos assistir como cordeirinhos a esse desaforo? O que mais será necessário que os nossos vereadores façam contra a população, e a favor dos comerciantes, para que nós, os prejudicados, nos manifestemos?” Ela se referia à ridícula lei aprovada em Belo Horizonte proibindo que as lojas distribuam sacolas plásticas para os consumidores.

Ou melhor, eles não distribuem mas vendem outras, cada uma por 19 centavos.

A conclusão dela é que deve ter havido um jogo entre a vereança e os lojistas, aumentando-lhes os lucros e dividindo propinas.

Não chego a tanto. Penso que é mais um ataque do politicamente correto, essa mixórdia que certos partidos importaram dos Estados Unidos. Concordo com as políticas de preservação do ambiente terrestre. Mas não embarco em todas as teses, teorias e estatísticas que os chamados verdes (verde sou eu, que torço pelo América) pregam nos jornais, livros e na internet. Diagnósticos estapafúrdios apresentados ao mundo foram denunciados como fraudes e envergonharam organismos da ONU. O racional não convive com o radical, o ideológico e os dogmas.

Mas essa lei bisonha aprovada em nossa cidade é a comprovação de que o vereador não ouve com atenção a voz dos cidadãos. Pois se é verdade que o plástico demora quinhentos anos para ser absorvido pela natureza (não conheço quem tenha vivido tanto e o plástico é invenção recente), qual a razão de proibirem um tipo de embalagem plástica e não outras? Todas fabricadas com o mesmo material. O embrulho de frutas e legumes, dentro da loja, é permitido. A embalagem para o lixo doméstico também. Ou será que os edis desejam que se volte aos tempos dos latões, dos resíduos mal cheirosos empesteando a cidade?

Sem os saquinhos recolhidos nas compras, será que eles pensam que as pessoas menos abonadas vão adquirir os pacotes de lixo ou vão retomar os velhos métodos de descartar suas sobras? Se é que para eles haja sobra.

Essas determinações municipais são esdrúxulas e o poder público, pela Constituição, não pode impedir o direito da cidadania, não pode sair proibindo o que lhe der na cabeça.

Se a política municipal não pode contribuir com a cidade, e isso é obrigação dos eleitos para nos representar, que pelo menos não atrapalhem. E parem com essa historia de proibir copos de vidro nos bares, mesas na calçada e coisas semelhantes. E que a lei do silêncio valha para todos, para os bares e as igrejas.

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em agosto de 2011.

Um comentário para “As preciosidades ridículas”

  1. Fernando: a eliminação dos saquinhos plásticos é uma verdeira cruzada dos supermercados, também aqui em São Paulo. Nunca vi empresários tão determinados a acabar com os saquinhos, em defesa do meio ambiente. Quer saber o que eu acho? Se os saquinhos não onerassem o custo, mas dessem lucro, e alguém quisésse proibí-los, os supermercadistas pegariam em armas.

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