A Espécie Humana. Capítulo 57

ela vem voando, os véus brancos flutuam em câmara lenta. a foice! a foice! não me lembrava dessa foice imensa! mas… antes estava sem a foice!

e ela voa sobre os campos de cereais e vai baixando a foice e seus véus agora estremecem aflitos. e os cereais, trigo?, arroz?, sorgo?, milho? são dourados e brilhantes, os cereais refulgem contra o azul quase roxo! e ela os ceifa, então é mesmo a grande ceifeira! ela os ceifa em quantidade mas ao contrário de cair no chão, os grãos flutuam e se espalham e eu os vejo voar para mais longe e descer num maravilhoso campo de terra marrom, Tellus Mater, e eis que miraculosamente daqueles grãos brotam… pessoas!

uma espécie de alegria me inunda a alma, há uma música dentro de mim, mas ela começa a ficar insuportavelmente bela e essa tremenda comoção me acorda.

meu pai está de pé, acabou de ligar a última fita e a música que eu estava ouvindo no sonho já era Monteverdi.

você estava sonhando!

pai, ela ceifa mas os grãos ceifados são as novas fontes de vida!

meu pai apenas sorriu. e:

está na hora.

não vai ouvir Monteverdi até o fim?

eu o tenho todo na alma. quero sair antes do sol nascer.

isto faz diferença pra você?

não. é apenas um ritual. um ritual de estética.

A Espécie Humana, romance de Jorge Teles, está sendo publicado em capítulos.

Para ler o capítulo anterior.

Para ler a partir do capítulo O.

Continua na semana que vem.

 

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