Jogo da esperança

Como todo torcedor que vê seu time perder, no primeiro instante, fiquei atônito, mas, logo em seguida, engoli em seco, e me resignei. Sim, resignação não pela vitória da torcida adversária. Mas, resignação pela incapacidade do meu time não ter sabido jogar direito, quando conhece tão bem as regras do jogo. E resignar-se tão rapidamente se deu porque mesmo não estando no campo, mas na arquibancada, gritei, xinguei, esbravejei e torci, torci como nunca, gritando para meu time que podíamos fazer melhor, assumir uma posição mais coerente, mesmo quando, nos intervalos, eu tinha a clareza de que na realidade eu estava torcendo por uma sobrevida da minha esperança.

Sabia que as chances do meu time ganhar eram pequenas. Eram remotas. Tinha momentos em que me observava, como num momento de transcendência ao corpo material, e via de cima todo o estádio e a mim mesmo, mais um ponto minúsculo, naquela arquibancada, onde todos parecíamos fanáticos na torcida pela vitória. Mas, via também que nossa esperança era quase que vã. No entanto, como todo torcedor verdadeiro, torci, ao lado de milhares, até o fim!

Nesses momentos de ausência da arquibancada, via de um lado o time adversário jogando pesado, com artimanhas, com técnica, muita técnica em driblar seus próprios erros, e com malícia. Mas, sobretudo com a cumplicidade do juiz que devia arbitrar a partida de forma correta, imparcial e honesta. Triste e infame juiz, que desavergonhadamente, roubou todos os pontos que pôde para o seu time escolhido. E como o juiz, ovacionado, também fora do campo e das arquibancadas, por uma multidão que muitas vezes nem sabia de que jogo se tratava, sentiu-se incólume e intocável, marcando assim sua onipresença nos dois lados do campo.

Meu time, ah, meu time! Em vez de impor toda sua técnica, perícia e habilidades em driblar os ataques maliciosos, ora fitava o juiz, ora se atrapalhava em responder na mesma moeda o ataque adversário. E, pior que igualar-se, por baixo, tecnicamente ao adversário, prestou mais atenção ao juiz e à multidão fora do estádio, do que ao seu próprio passe.

Passe esse conquistado a duras penas por uns e herdado comodamente por outros. Foram anos de treinamentos, disputas e mudanças de jogadores, como de técnicos, no time. Mas, me parece que esse anos, esse passe, conquistados se fragilizaram. Ficaram nublados pelas disputas internas entre os jogadores, que se acotovelaram tanto antes de iniciar a partida; pelos gritos de vitória antecipados pelo time adversário; e pela ameaça, quase imponente, da substituição de um terceiro time ao tocar o apito para começar o segundo tempo.

Enfim, foi uma partida difícil e dura. Mas, nem tanto para o meu time que se viciou em jogar pra agradar as multidões e até mesmo ao juiz. Foi um jogo duríssimo para nossa torcida. Testou ao limite nosso afã, nossos corações e até mesmo a nossa dignidade de torcedor. Nosso time não soube valorizar nossos gritos de entusiasmo, nossos gestos de acolhimento e de afagos, nossa esperança. Antes de tudo, nosso time desvalorizou, e muito, nosso passe de torcedor. Nosso time esqueceu de jogar, antes de tudo, para nós, seus torcedores. Nosso time esqueceu que torcemos por um ideal e não apenas por uma taça ou pelo lugar no pódio.

E quando um time esquece da sua alma, os seus torcedores, ele só pode jogar mal a partida, porque olhar pro juiz, olhar pra multidão além das arquibancadas ou olhar para o time adversário é de todos os seus erros os menores. Seu maior erro foi que olhou tanto pra própria chuteira que se enrolou em seus cadarços e tomou de lavada por ter caído por suas próprias pernas.

Que o próximo árbitro daqui a 4 anos tenha a dignidade de apenas arbitrar.

E mesmo com a derrota do meu time, hoje, estarei por aí torcendo. Não sei se mais na mesma arquibancada pelo mesmo time. Mas, sacarei meu apito e me juntarei à multidão por um estádio melhor!

O autor

Aníbal Sá é designer. Me mandou este texto em que se define como torcedor de vôlei.

Sérgio Vaz, 1º/11/2010.

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