Dia nacional da cachaça

Na TV, vejo meu amigo Vicente Bastos ser entrevistado. O repórter diz que ele é mestre cachaceiro, não por muito beber mas por tudo entender do assunto. E por ser fabricante de produto da mais alta qualidade.

Ele conta a história da aguardente de cana, criação brasileira original, que teve sua produção aqui proibida pelos portugueses, que não desejavam concorrência para o seu destilado, a bagaceira.

Nossa independência cachaçal veio muito antes da política, que comemoramos em 7 de setembro de 1822 mas os baianos, parece que com razão, celebram no 2 de julho de 1823.

O fato é que resolveram que o 13 de setembro, mesma data em que morreram Montaigne e Dante Alighieri, passou a ser o dia da birita pátria. Para chegar a esse status e ter até Academia em terras cariocas do Leblon e da Barra, a água-que-passarinho-não-bebe sofreu com o desprezo e a discriminação de muita gente. Era a bebida dos escravos, comentavam os preconceituosos. Mas quem dela tivesse experiência, logo se rendia aos seus encantos.

O nome da mais difundida e vulgar bebida no âmbito popular, diz Câmara Cascudo, veio de Portugal. Desde o final do século XVI ela era produzida em terras brasileiras. Nas Cartas Chilenas, de Cláudio Manoel, ela estava presente: “pois a cachaça ardente que o alegra lhe tira as forças dos robustos membros”.

Saint-Hilaire já dizia, em 1819, que “a cachaça é a aguardente do país”.

Tornou-se nacional com os movimentos políticos em prol da independência. Era considerada a bebida dos patriotas, que a degustavam, recusando-se a beber os vinhos portugueses.

Os avós e pais de minha infância sempre tomavam um cálice, antes das

refeições. Menor e mulher não participavam dessa cerimônia. Jovem, já

adulto, era sempre chamado pelo meu querido vizinho, Alberto Loyola,

para tomar unzinha com ele, antes do almoço. A abrideira era convite para uma boa conversa matutina.

Sica Sica, chofer do ônibus Getúlio Vargas, parava seu veículo, com o motor ligado e os passageiros lá dentro, virava a esquina, entrava no boteco e em cima do balcão já encontrava um copo da pura e forte que jogava goela abaixo. Retomava suas funções calmamente e só os que o conheciam entendiam o que se passara. Lá ia ele rumo à cidade ou ao bairro.

Hoje, o nosso destilado é fabricado com o que há de mais moderno, sem chumbo e com muito carinho, apuro, higiene. Ganhou apreciadores mais sofisticados, degustado com o cuidado de bebida fina. E conquistou o paladar e o amor das mulheres. Inebriante, segue em busca de ganhar o mundo.

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas

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