Ah, o glamour

Pequenas crônicas que escrevi para meus amigos, em julho de 2009, acrescidas das duas que vão no pé.

O galã levava a mocinha para casa, depois do restaurante. À porta, ficava aquele beija não beija, ela convidava para um último drink. Entravam. Antes do primeiro gole, ele dizia: “Por que você não veste algo mais confortável?”. Ela desaparecia, e voltava em um négligé transparente, saltos altos. Hoje, a mesma cena. “Por que você não veste algo mais confortável?” Ela desaparece, e volta de moletom e tênis.

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A mocinha, para provocar o galã, tirava um cigarro de seu próprio maço, e o oferecia. Ele, macho: “Prefiro dos meus.” Ela levava o cigarro à boca, e, insinuante: “Tem fogo?” Hoje, a cena até poderia acontecer. Ele retribuiria com um sorriso amarelo: “Vou te confessar. Eu não fumo. Aliás, se você acender essa coisa na minha frente eu me retiro, não tenho vocação para morrer como fumante passivo”.

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No filme, Babete esmerou-se em servir seu banquete com os melhores pratos, e muito requinte. Beth ficou impressionada. Convidou para jantar um casal novo no prédio. Pessoas finas, com quem travara amizade. Correu o mercadão central e as melhores casas até achar o que queria. Faisão. Conseguiu uma receita de preparo refinado, e esmerou-se. A noite estava sendo perfeita. Boas bebidas, delicadas entradas. No momento certo, ela surge com o prato. Retira a tampa. A convidada deixa escapar um gemido: “Ai, eu não como frango.”

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Marina olhou pela janela do prédio a cidade anoitecida. Amadeu lia sob o foco do abajur de coluna. Subitamente, tomada por uma nostalgia cálida, disse ao marido: “Lembra do drive-in das nossas primeiras carícias”? Uma hora depois entravam no drive-in achado na internet. Ah, a deliciosa sensação de um covil romântico, único. Mal haviam se beijado, ouvem o ronco de uma moto. Como? Amadeu espia. Era o entregador de pizza, chamado pelo celular de algum outro casal.

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O sobrinho viera à cidade como prêmio por ter se formado na faculdade. Tio Lucas disse à mulher: “Vamos recebê-lo em grande estilo”. Tia Alice ponderou: “É gente simples, melhor não exagerar”. Mas Lucas fez questão: jantar em grande estilo. À mesa, o convidado parecia à vontade, entre a prataria e a luz das velas. O tio ergue um brinde: “Parabéns a você por ter conquistado seu diploma”. O sobrinho agradeceu, e soprou as velas.

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