A banda podre

Quando um presidente da República trata a quebra de sigilo fiscal do adversário como “futrica”, e sua candidata, líder absoluta nas pesquisas eleitorais, define esse crime como um simples “malfeito”, algo vai mal, muitíssimo mal. Mas sempre foi assim: quanto maior é o escândalo, mais o maestro e seu coro vigoroso tentam esconder os podres da banda. E como ela há anos reina sem concorrência, continua a agradar a maior parte dos convivas.

Ensaiados às pressas para uma contenda que não se imaginava vir à tona agora, os tocadores de bumbo, surdo e prato atravessaram brabo na melodia. O presidente da Receita, Otacílio Cartaxo, um dia disse uma coisa – “não há indícios de motivação política na quebra de sigilo” – , noutro fez outra, sempre sendo desmentido pelos fatos poucas horas depois.

A Receita desentoou de novo e quase implodiu a fanfarra quando garantiu provas de que fora Verônica Serra, filha do candidato do PSDB José Serra, quem pedira seus dados fiscais em uma agência de Santo André. Algo que um maestro experimentado como Lula sempre soube que não cabia nem em cantiga de ninar.

Para fugir da conotação eleitoral do enredo de horror instalado na Receita, o ministro da Fazenda Guido Mantega chegou a admitir que a então respeitada instituição pela qual deveria zelar é uma espécie de casa de mãe Joana, onde o número de quebras de sigilo é muito maior do que o dos políticos tucanos arrombados. Em qualquer país sério isso seria motivo de sobra para entupir a tuba.

Mas os ensurdecedores acordes desconexos não foram suficientes para inibir os animadores da banda. Ocupando todos os espaços possíveis, não faltaram trompas petistas para reverberar a falseta de que o próprio Serra teria armado o golpe contra a sua filha para obter ganhos eleitorais. Algo que só quem está acostumado com os labirintos dos esgotos poderia elucubrar.

Do outro lado, a trupe de José Serra continua sem achar o tom. Ora bate, ora assopra. Chega a produzir letra e música para o adversário, fornecendo-lhe todas as armas, como o fez ao entrar na Justiça Eleitoral para impugnar a candidatura de Dilma.

Hora e lugar errados.

Nada como uma sentença do TSE para embasar o discurso de que as vítimas são os algozes e que o PSDB queria era ganhar no tapetão. Melhor teria sido recorrer a outras esferas da Justiça, buscando não os trunfos eleitorais de que tanto precisa, mas o Estado de Direito. Cedo ou tarde o país aplaudiria.

Mas se Serra peca, o pecado capital vem do presidente Lula, que sempre se supera. Entoa a cantiga que quer. E nem se importa se desafina. Como general-mor da banda, faz o que o seu tino de poder manda. A seu bel prazer dispõe os melofones, fliscornes e pistões. E eles fazem tanto barulho que parecem ter êxito em esconder a desfaçatez de Lula ao admitir que soubera no início do ano – e dito pelo então governador de São Paulo – da hipótese de violação dos dados fiscais de Verônica. Nada fez, e ainda joga a culpa em Serra. “Ele não me alertou, ele se queixou”. E sua candidata Dilma Rousseff, é claro, segue a mesma partitura.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat

3 Comentários para “A banda podre”

  1. Tenho 76 anos, pode ser que eu vá votar poucas vezes mais, porém uma força imensa me incita a lutar contra essa odiosa horda que tomou conta do Brasil. Nunca me sentí tão desrespeitada, nem mesmo durante a ditadura, pois naquela época sabia quem eram os inimigos. Agora não! O monstro se veste de cordeiro (paz e amor) e as máscaras estão em todas as caras.
    Não podemos confiar nem nas mais nobres instituições. Os cartaxos da vida continuam ironicamente em seus postos, debochando de nós. Até mesmo o BB viola contas. É demais! Em quem mais confiar? E olha lá, cuidado, pois pensam em cercear a liberdade de imprensa. Aí, como ficaremos?
    Temos de nos reunir como os caras pintadas, movimentar este País contra todas essas maracutaias, sair de casa ,ir para as ruas, colocar bandeiras e cartazes nas janelas. Não fazemos isso durante os jogos de futebol? Procurar limpar nosso País de toda essa sujeira é muito mais que um jogo. – é o futuro!

  2. A Mary Zaidan parece não compreender em que planeta vive:

    “falseta de que o próprio Serra teria armado o golpe contra a sua filha para obter ganhos eleitorais. Algo que só quem está acostumado com os labirintos dos esgotos poderia elucubrar”

    O fundador da cristandade, por exemplo, era um imperador pagão que se rebaixou mesmo a assassinar membros da família. O vil Constantino, talvez inspirador do [ainda mais torpe] Alexandre VI Bórgia.

    Neste planeta, mata-se parentes pelo poder; e, com a concordância deles, viola-se o seu sigilo. Se não no Brasil, em outras paradas.

    Não sou um ser de esgoto, mas tenho o dom da desconfiança.

    Isso é a realpolitik, Zaidan. Deves repensar em que planeta vives.

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