Yo pisaré las calles nuevamente

Gostaria que o neto ou a neta que não sei se vou ter pudesse um dia – mesmo que velhinho, ou velhinha – caminhar por praças, avenidas, parques, ruas, com os nomes de Dora Kramer, Merval Pereira, Ricardo Noblat, Carlos Alberto Sardenberg, Miriam Leitão, Roberto Pompeu de Toledo, José Roberto Guzzo, Arnaldo Jabor.

Não sei se um dia vou ver o Brasil liberado dessa corja que agora tem 80% de aprovação popular, às custas de uma política absurda, imbecil, de um populismo que já deveria ter virado coisa do passado há muitas décadas, um messianismo descontrolado, uma máquina de propaganda que nunca poderíamos imaginar que existiria.

Mas a geração do meu neto ou minha neta vai ver.  

O mais provável mesmo é que, daqui a menos de um ano, este país tri-eleja o atual governo. As indicações são todas nesse sentido. Temos um governo que, em vez de administrar, avançar, faz palanque, ao longo de duros, longos sete anos; mente, sofisma, falseia; esconde o que copiou, cospe no prato que lhe deu as condições de existir e saúda com fanfarras a maldição de transformar cidadãos em viciados na mendicância.

Até porque a oposição ao governo, sabemos todos, é uma merda. É torturada. É dividida. É débil. Não sabe sequer – provou isso em 2004 e 2008 – defender o que fez antes, quando era governo. Tem vergonha de falar das próprias conquistas. Torna-se refém dos discursos imbecis do rei.  

Talvez o país nem tenha mesmo outro jeito a não ser eleger em 2010 essa absurda mulher que inventa apagões em árvores de Natal que nunca existiram – meu Deus do céu e também da terra, ela é louca, mitômona, ou só débil mental, para ser capaz de falar aquelas asneiras sobre árvores de Natal apagadas? –, porque, se viesse a acontecer de um candidato de oposição ser eleito, o que seria deste país? Como tirar de seus empregos no governo 200 mil companheiros que não têm qualquer competência para trabalhar em algo que não seja as tetas gordas da coisa pública? Como neutralizar o vandalismo dos milhares e milhares de famílias miseráveis levadas à luta armada do MST? Como neutralizar toda a elite sindical coonestada por dois mandatos de governo populista-demagógico-personalista?

Difícil. Muito difícil.

Mas a História se faz em passos largos, longos. Este país é complexo demais, forte demais, para se deixar subjugar por estes imbecis do momento. A História avança sempre. E aí volto aos nomes que citei lá em cima.

Na falta de políticos grandes da oposição, este país, maravilhosamente, teve jornalistas que não entraram no coro dos basbaques, dos saudadores do status quo.

Certamente não vou ver o Brasil purificado depois da insanidade Lula e companhia. Mas as crianças contemporâneas do neto ou da neta que não sei se vou ter, essas vão. Certamente.

Elas andarão nas praças, avenidas, parques, ruas, com os nomes de Dora Kramer, Merval Pereira, Ricardo Noblat, Carlos Alberto Sardenberg, Miriam Leitão, Roberto Pompeu de Toledo, José Roberto  Guzzo, Arnaldo Jabor.

E, se forem a Cuba, passearão na Praça Yoani Sanchez.

As belas praças haverão sempre de ser liberadas, como tão bem cantava Pablo Milanés – esse extraordinário artista que também se cansou de Fidel. Não dá para compreender os artistas que não conseguiram enxergar que o regime de Fidel virou, ao longo de mais de 50 anos, de uma esperança, uma ditadura caquética, anacrônica. Não dá para compreender artista que não percebe que a História anda.

A canção por trás do texto   

Yo pisaré las calles nuevamente

(Pablo Milanés)

Yo pisaré las calles nuevamente

de lo que fue Santiago ensangrentada,

y en una hermosa plaza liberada

me detendré a llorar por los ausentes.

Yo vendré del desierto calcinante

y saldré de los bosques y los lagos,

y evocaré en un cerro de Santiago

a mis hermanos que murieron antes.

Yo unido al que hizo mucho y poco

al que quiere la patria liberada

dispararé las primeras balas

más temprano que tarde, sin reposo.

Retornarán los libros, las canciones

que quemaron las manos asesinas.

Renacerá mi pueblo de su ruina

y pagarán su culpa los traidores.

Un niño jugará en una alameda

y cantará con sus amigos nuevos,

y ese canto será el canto del suelo

a una vida segada en La Moneda.

Yo pisaré las calles nuevamente

de lo que fue Santiago ensangrentada,

y en una hermosa plaza liberada

me detendré a llorar por los ausentes.

10 Comentários para “Yo pisaré las calles nuevamente”

  1. Tinha lido esse texto hj lá no 50 anos de filmes e quando voltei agora à noite não estava mais, então vim pra cá xeretar, rs. Impressionante, pois justo hoje falei com uma prima que tem 20 e poucos anos e descobri que ela é pró-lula. Me deu um desânimo… por ela ser da nova geração e tal. E lendo seu texto me deu mais desânimo ainda pq a gente vê que não tem muita saída. Nessas horas entendo as pessoas que imigram (legalmente) , pois já estão aqui há anos e não conseguem vislumbrar uma mudança (eu mesma já tenho pelo menos uns 17 anos em que vejo os mesmos problemas permanecerem, entra governo e sai governo, é sempre a mesma droga; e por mais que eu faça a minha parte, é uma luta contra um gigante).
    É triste e desolador, não sei nem o que dizer. Vc ainda consegue ter esperanças, mas eu não. E se eu tiver filhos, eles serão da mesma geração da neta que vc não sabe se vai ter, rs, mas não consigo visualizar nenhuma mudança, não consigo ter melhores perspectivas, e daria pra escrever um texto inteiro sobre isso. E como mudar alguma coisa se não começarmos pela base da educação? Do que adianta bolsa-esmola e celular (!!!) se a mentalidade e a pobreza de espírito continuam as mesmas? *suspiro*

    PS: neste texto vc fala só do (des)governo do Mula, mas eu acho que os anos FHC tb foram péssimos pro Brasil. Só pra citar um exemplo, ele sucateou as universidades federais e permitiu que se abrissem cursos de qualquer coisa em faculdades de beira de esquina. O Brasil ainda é novo na democracia e teve o azar de só ter dito o lado Darth Vader da força na presidência. E pensar que o Sarney já foi nosso presidente me causa arrepios!

    PS2: nem sei se já podia comentar aqui, mas acabei comentando.

  2. Jussara, você é realmente uma figura! Você é daquele tipo que, se não existisse, a gente tinha que inventar.
    Só você mesmo para mandar um comentário sobre um texto de um site que ainda não está no ar!
    Um minuto antes de eu ver sua mensagem, a Mary, aqui ao lado, entrou no Google Analytics e disse: olha só – tem visitas de São Paulo (as minhas, o único visitante do site que ainda está sendo montado) e de Cuiabá.
    E a Mary e eu falamos juntos: a Jussara descobriu o site!
    E nós dois falamos um monte de frases do tipo: mas é impressionante como essa menina é ligada.
    Jussara, você tinha que ser ministra de Minas e Energia! Você é a anti-Dilma. Com você, a gente jamais teria apagão!
    Respondo mais depois.
    Abração grande.
    Sérgio

  3. Pois eh Sergio (desculpe a falta de acentos, mas uma cabeca Macintoshiana nao consegue lidar com estes teclados petistas)
    Parabens. Voce como sempre eh capaz de surpreender a gente, mesmo se a gente eh acostumadinho com suas capacidades. Vamos lah! Faca mesmo muito texto para, quem sabe, nossas netas possam ver tambem a Rua Sergio Vaz.
    O site tah muito bacana. Gostei do visual com a foto do teclado da Remington antiga.
    (vc tem esta competencia de genro eh pra isso mesmo, neh nao (ponto de interrogacao))

    Agora fudeu! Uma imagem vale mais que mil palavras, mas 50 anos de Vazarias eu sei que vao gerar pelo menos uns tres quazinquilhoes de palavras, ou seja umas meras trocentas fotos , coisinha boba.

    Num tem foto que paga, mesmo porque ainda nao inventaram uma tecnica pra revelar a alma da gente, e eh isso que voce faz (dois pontos) Joga sua alma nas palavras.

    Bjos

    Marcio

  4. Márcio, eu sei que elogio de quem gosta da gente é suspeitíssimo. Mas não tem como não dizer que sua mensagem me deixou muito feliz. E quase, quase, quase, por bem pouco, meio metido!
    Obrigadão, e um grande abraço.
    Sérgio

  5. Estou eu aqui, meditabundo:
    – Por que você fala em neta? Está proibido de ter neto? Não entendi a sutileza da coisa. O x da questão (perdão, do cromossomo), é que o sexo do nascituro vai ser definido pelo pai. Neto/neta não vai depender de você, mas do genro. Me explique essa.

  6. Hehehe, “está proibido ter neto?” foi ótimo! Ah, não sabia que tinha sido erro, pensei que “neta” tivesse sido proposital, uma opção. É que se filhos eu tiver, tenho preferência por meninas, mas não fico divulgando pra não pagar a língua (e pra não me frustrar); claro que se vier menino, nascendo com saúde e blablablá tb será bem-vindo.
    Hahaha, já respondi ao seu comentário por e-mail, não? Adorei a alcunha de anti-Dilma! rs.

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